Redução da renda familiar durante pandemia afeta metade dos jovens brasileiros
Pesquisa realizada nacionalmente analisou como as juventudes estão lidando com os impactos do distanciamento social e da pandemia de Covid-19 no país
Metade dos jovens brasileiros relatam redução da renda familiar durante a pandemia do Coronavírus. É o que mostra um levantamento realizado com mais de 33 mil jovens de 15 a 29 anos no País, divulgado nesta terça-feira. Além das consequências econômicas, a pesquisa “Juventudes e a Pandemia do Coronavírus” também mapeou fortes impactos na educação e saúde mental nessa faixa etária. Quase 30% dos jovens que responderam à pesquisa pensam em deixar a escola e, entre os que planejam fazer o ENEM, 49% já pensaram em desistir. O estudo é uma iniciativa CONJUVE, o Conselho Nacional da Juventude, em parceria com diversas entidades. Ele foi realizado em forma de um questionário online, compartilhado por um conjunto de redes que trabalham diretamente com a juventude e também pelos próprios jovens, que, ao responderem a pesquisa, eram convocados a compartilhá-la com amigos e conhecidos.
A maior parte dos jovens que responderam o questionário está estudando. Destes, cerca de 80% estão passando por experiências de ensino remoto. Na pesquisa, eles relataram dificuldades em se adaptar ao formato. Aproximadamente 60% dos estudantes gostariam que as escolas priorizassem atividades que ajudam a lidar com as emoções, e cerca de metade consideram importante que as instituições ofereçam estratégias para gestão de tempo e organização dos estudos. As disciplinas do currículo escolar aparecem como a terceira prioridade. Em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, Marisa Villi, diretora executiva da Rede Conhecimento Social, uma das instituições envolvidas na realização no estudo, analisou o resultado: “É quase como se os jovens estivessem dizendo: ‘sim, é importante saber os conteúdos, mas antes nós precisamos aprender novamente a estudar e a lidar com esse contexto’”, interpreta Villi.
Na pesquisa, 67% dos estudantes que pretendiam fazer o Exame Nacional do Ensino Médio declararam que não estão conseguindo estudar para a prova, e cerca da metade está pensando em desistir de prestar o Enem deste ano. As dificuldades de adaptação ao novo contexto escolar também geram efeitos nos jovens que ainda não estão concluindo os estudos: 28% desses estudantes estão pensando em não voltar para a escola. Para Villi, essa potencial evasão escolar pode estar relacionada a um outro problema: a queda na renda familiar. Cerca de 70% dos jovens que responderam a pesquisa são total ou parcialmente dependentes da renda financeira de suas famílias. A pandemia afetou a renda familiar de metade deles, que relataram diminuição dos ganhos em casa. Com isso, 33% dos jovens declararam buscar formas alternativas de complementar a renda. “Essa busca por apoio financeiro imediato pode ser um dos componentes que afeta disposição do jovem para estudar e aumenta a possível evasão escolar”, analisa a diretora.
Perspectivas para o Futuro
Apesar das dificuldades relatadas ao longo da pesquisa, os jovens estão otimistas quanto ao futuro. É o que observou Marisa Villi, em entrevista para a Rádio UFMG Educativa. “Quanto às perspectivas após o fim da pandemia, a maior aposta dos jovens foi na evolução de campos como a ciência e a educação. Também apontaram para as potencialidades do trabalho remoto e da valorização das relações humanas”, explica Villi. Para a diretora, compreender como os jovens estão lidando com a pandemia, é crucial para o futuro do país: “Atualmente, a população jovem no Brasil soma 47 milhões de pessoas. Este público está em momento de se estabelecer econômica e profissionalmente, portanto suas ações são muito importantes para o desenvolvimento do país. Entendem como eles estão percebendo os efeitos da pandemia em suas vidas é fundamental para planejar ações que possam driblar esses impactos, por meio de programas e políticas públicas”, defende a diretora Marisa Villi.
Além desses temas, durante a entrevista para o programa Conexões, a diretora abordou os efeitos da pandemia na saúde mental dos jovens, e outros resultados da pesquisa. Villi falou também sobre o processo de realização do estudo e suas particularidades.
A pesquisa “Juventudes e a Pandemia do Coronavírus” foi idealizada pelo CONJUVE, Conselho Nacional da Juventude, em parceria com as entidades: Unesco, Rede Conhecimento Social, Fundação Roberto Marinho, Mapa Educação, Visão Mundial, Por Vir e Em Movimento. O relatório completo está disponível no site da pesquisa.