Minas e o modernismo é tema de novo episódio do 'Outra estação'
Programa da Rádio UFMG Educativa aborda participação de artistas mineiros na Semana de 22 e os desdobramentos da Caravana de 24
Há 100 anos, em fevereiro de 1922, foi realizada a Semana de Arte Moderna, evento que é considerado um dos marcos culturais do Brasil. Intelectuais e artistas se reuniram no Teatro Municipal de São Paulo com o objetivo de promover uma renovação da cultura brasileira. A ocasião parecia perfeita: naquele ano seria comemorado o centenário da Independência do Brasil. A Semana foi patrocinada sobretudo pela rica elite cafeeira de São Paulo. Na programação, palestras, recitais de música e poesia e uma exposição no saguão do Teatro.
Participaram 22 nomes que hoje são bem famosos, como os pintores Emiliano Di Cavalcanti e Anita Malfatti, os escritores Oswald de Andrade e Mário de Andrade e o músico Heitor Villa-Lobos. Mas, para além dos cariocas e paulistas, dois mineiros – um poeta e uma pintora – também integraram a programação da Semana de Arte Moderna com participações consideradas importantes. Em seu novo episódio o programa Outra estação, da Rádio UFMG Educativa, revela quem são os mineiros da Semana de 22 e por que eles são pouco lembrados. O programa também mostra como Minas se tornou epicentro do modernismo depois daquele marco.
Foram entrevistados André Botelho, professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um dos coordenadores da rede Minas-Mundo, Ivana Ferrante, professora de Literatura Brasileira da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Roberto Said, professor da Faculdade de Letras da UFMG, e Celina Borges Lemos, professora titular do Departamento de Análise Crítica e Histórica da Arquitetura e do Urbanismo da Escola de Arquitetura da UFMG.
Mineiros “esquecidos”
O primeiro bloco do programa explica as motivações por trás da Semana de 22 e conta a história dos dois mineiros que participaram do evento no Teatro Municipal de São Paulo. Um deles é a pintora Zina Aita, que teve seus quadros expostos ao lado de obras de Anita Malfatti e Di Cavalcanti. Filha de uma família de imigrantes italianos, ela nasceu em Belo Horizonte e tinha apenas 22 anos quando participou da Semana. As obras de Zina são pouco conhecidas hoje em dia – em parte porque ela não assinava suas pinturas –, mas seu trabalho representa, como poucos, os ideais do modernismo ao unir influências da vanguarda europeia e do primitivismo mineiro.
O outro mineiro foi o escritor Agenor Barbosa. Nascido em Montes Claros, no Norte de Minas, ele viveu em Belo Horizonte, onde começou sua carreira de poeta. Embora seja praticamente um desconhecido até hoje, colaborou na organização da Semana de Arte Moderna, e seu poema Pássaros de aço – que mescla características do simbolismo e traços modernistas – foi dos poucos aplaudidos pela plateia presente no Teatro Municipal de São Paulo.
Cosmopolitismo
O segundo bloco do programa trata da Caravana de 24. Durante o mês de abril daquele ano, na Semana Santa, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, o poeta franco-suíço Blaise Cendrars e outros modernistas viajaram pelas cidades históricas de Minas Gerais em um movimento de busca por uma autêntica arte nacional que culminou com a redescoberta do Barroco. A visita a Minas também proporcionou encontros, como o do jovem poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade com o escritor Mário de Andrade – a partir dali, eles manteriam uma intensa troca de correspondências.
Quase 100 anos depois da Caravana de 24, o evento continua sendo uma importante influência cultural e objeto de diversos estudos e inspirou a criação da rede Minas-Mundo, que investiga o legado do modernismo no Brasil, tendo como ponto de partida o cosmopolitismo mineiro. O projeto reúne cerca de 60 pesquisadores de diferentes instituições de ensino e pesquisa e de várias áreas do conhecimento, sob a coordenação de cinco instituições: UFMG, UFRJ, UFRRJ, Unicamp e Universidade de Princeton, nos Estados Unidos.
Para saber mais
Por meio de parceria com a rede Minas-Mundo, o Suplemento de Pernambuco está publicando correspondências entre os escritores modernistas
MinasMundoMulher – Aula com Eneida Maria de Souza: Modernismo tardio e cosmopolitismo
Projeto do Sesc com participação da Universidade de São Paulo (USP) produz CDs com músicas e poemas ouvidos na Semana de Arte Moderna de 1922
Ciclo 22, da USP, reúne atividades relacionadas aos 100 anos da Semana de 1922
Revista Klaxon foi criada para divulgar as ideias modernistas
Semana de Arte Moderna na Enciclopédia Itaú Cultural
Zina Aita na Enciclopédia Itaú Cultural
A Semana na Rádio UFMG Educativa
Para lembrar a Semana de Arte Moderna de 1922, a Rádio UFMG Educativa veicula programação especial desde segunda-feira, 14 de fevereiro. O programa Universo Literário trouxe uma entrevista com o escritor Luiz Ruffato, autor do livro A revista Verde, de Cataguases: contribuição à história do Modernismo. No programa Conexões, foi analisado o contexto político da Semana de Arte Moderna de 1922 e seus reflexos na arte.
Os intervalos da programação da emissora reúnem leituras de textos de escritores como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Graça Aranha e Menotti del Picchia. As gravações integram o projeto Toda Semana: música e literatura na Semana de Arte Moderna, idealizado por Claudia Toni, Flávia Camargo Toni e Camila Fresca e realizado pelo Sesc São Paulo. Também nos intervalos, pílulas documentais abordam fatos e personagens da Semana de 1922.