Tese da Comunicação analisa relatos de mulheres sertanejas no Facebook
Postagens na rede social evidenciam movimentos de autonomia e resistência
Espaço de compartilhamento de informações, de interação de sujeitos com comunidades e de performance individual, as redes digitais são palco privilegiado da sociabilidade contemporânea. Mas, no contexto brasileiro, em que não há uma consolidada política de democratização do acesso aos meios de comunicação e é evidente a assimetria de oferta de serviços básicos, as transformações decorrentes da chegada tardia da internet em regiões marginalizadas do país causam forte impacto no cotidiano dessas comunidades.
Sob a perspectiva interseccional, ou seja, que contempla sistemas relacionados de dominação ou discriminação, a tese da pesquisadora Tamires Coêlho, desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Comunicação, buscou compreender e analisar a exposição e os relatos elaborados por sertanejas do Piauí no Facebook, por meio da análise da escrita de si, feita por mulheres que vivem na região do município de Guaribas, no Sudoeste do estado.
Às informações coletadas dos perfis dessas mulheres somam-se outras apuradas em entrevistas com as sertanejas, durante três visitas à cidade, em 2014, 2015 e 2017. Além das desigualdades de gênero descritas pelas mulheres em seus relatos on-line, a pesquisa também evidenciou peculiaridades do cotidiano no sertão piauiense e seu reflexo na escrita numa rede social de amplo alcance como o Facebook. Também demonstrou o impacto da chegada abrupta de diversos meios de comunicação, graças à expansão da distribuição da energia elétrica, no período em que o projeto da tese foi iniciado, entre 2011 e 2013.
As conclusões da tese foram abordadas em matéria publicada na edição 2.062 do Boletim UFMG, que circula nesta semana.