Sabrina Sedlmayer, da Fale, assume presidência da Associação Internacional de Lusitanistas
É a segunda vez que uma brasileira ocupa o cargo máximo da instituição, fundada há 40 anos
Embora seja um dos idiomas mais falados no mundo, o português ainda não é reconhecido como língua oficial da Organização das Nações Unidas (ONU). “Isso dá a dimensão da urgente e desafiadora missão de decolonizar o eurocentrismo presente em relação à essa língua, que é falada por mais de 260 milhões de pessoas no mundo”, avalia a professora da Faculdade de Letras Sabrina Sedlmayer, que acaba de assumir a presidência da Associação Internacional de Lusitanistas (AIL).
Sedlmayer é a segunda brasileira a tomar posse na presidência da entidade, fundada há 40 anos, em Poitiers, na França. A entidade reúne pesquisadores de mais de 30 países para fomentar estudos sobre a língua, literaturas e cultura da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tome e Príncipe e Timor-Leste).
“Fico muito honrada em estar neste lugar que, anteriormente, foi ocupado pela mestra Cleonice Berardinelli (vice) e por Regina Zilberman (presidente). E, para um futuro breve, esperamos que haja, de fato, uma pulverização e democratização de vozes dentro da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, com o fortalecimento da atuação na África e da internacionalização das universidades brasileiras”, projeta.
Para a professora, que já cumpria mandato como vice-presidente da AIL, a experiência anterior contribuiu para que ela conhecesse melhor os desafios da entidade, especialmente o de avançar na inserção internacional do Brasil. “Para isso, também precisamos fortalecer as parcerias com órgãos de fomento brasileiros. Temos o apoio das instituições portuguesas, a Fundação Calouste Gulbenkian, o Instituto Camões e a Imprensa Nacional da Casa da Moeda, fundamentais para a manutenção da Plataforma 9 – a importante rede que abriga e divulga o que acontece no mundo acadêmico em língua portuguesa – e da revista Veredas, muito bem avaliada e com periodicidade regular”, destaca.
Pautas minoritárias
Sabrina Sedlmayer fundou a linha de pesquisa Literaturas e políticas do contemporâneo no Programa de Pós-graduação em Literatura da Faculdade de Letras, inspirada no pensador Walter Benjamim, que dá nome ao grupo de estudos do qual participou por 15 anos. "Essa é uma forma de voltar o olhar para o momento atual, não com o viés do capital e das questões hegemônicas, mas com o das pautas minoritárias, como as que compartilhamos com a África, com a qual temos muito que aprender”, observa.
Sedlmayer é pesquisadora do grupo Sobre Alimentos e Literaturas (SAL), que aborda, sobretudo, temas presentes na alimentação, na literatura e na cultura brasileira, como a gambiarra, que, segundo ela, "pode ser vista como tática dos fracos, mas vai a contrapelo da mídia e dessa moda da gourmetização". Ela enfatiza, em texto publicado no site A terra é redonda, que "a Associação Internacional dos Lusitanistas tem-se aberto e transita entre diferentes saberes, de forma multidisciplinar, e tem tentado questionar a tortuosa história de violência linguística e cultural ligada à história colonial que até hoje marca a vida dos brasileiros (e dos africanos, urge acrescentar)".