UFMG avança na avaliação e no monitoramento do ensino remoto
Dados de questionários respondidos por alunos, professores e servidores técnico-administrativos em educação foram apresentados em fórum on-line
Quase 15 mil pessoas – entre professores, estudantes e servidores técnico-administrativos em educação – responderam aos questionários de monitoramento (fase 2) do ensino remoto emergencial, adotado pela UFMG desde o ano passado para manter as atividades acadêmicas em meio à pandemia do novo coronavírus. Os resultados dessa etapa de avaliação do formato remoto foram apresentados e discutidos na tarde desta quarta-feira, dia 10, durante a 15ª edição da série de fóruns on-line do Programa Integração Docente
A pró-reitora de Graduação, Benigna de Oliveira, lembrou a importância de se avaliar o formato. “Todo esse processo está sendo construído de forma coletiva, paralelamente à realidade vivida. Não temos um modelo a seguir, uma referência de consistência para nos espelharmos e conduzir esse trabalho”, destacou.
A professora Andrea Motta, da Comissão de Monitoramento e Avaliação do Ensino Remoto Emergencial, relatou que a proposta de monitoramento foi dividida em três fases. A primeira, já concluída, foi direcionada aos colegiados e Núcleos Docentes Estruturantes (NDEs). A fase 2, ainda em andamento, consiste no encaminhamento de questionários a docentes, discentes e técnicos e análise dos dados. A terceira terá um cotejamento dos dados do monitoramento da fase 2 com relatórios da Pró-reitoria de Graduação (Prograd) e da Comissão Própria de Avaliação (CPA). “Essa comissão trabalha na perspectiva do ensino remoto e não para estabelecer comparações com o ensino presencial”, explicou a professora, reforçando que o formato responde a uma demanda emergencial.
A diretora de Inovação e Metodologias de Ensino da Prograd, Maria José Flores, abordou os resultados da primeira fase do monitoramento, realizada em setembro e outubro do ano passado. De acordo com o levantamento, 92% das turmas inicialmente previstas para o primeiro período letivo de 2020 migraram para a modalidade remota, e apenas 2% das turmas foram canceladas. Cerca de 90% das disciplinas teórico-práticas e 87% das práticas foram mantidas, o que mostra ampla adesão ao formato. “Esses dados iniciais têm fundamentado nossas decisões e subsidiado o monitoramento do ensino remoto”, disse a professora.
Balanço
Na fase 2 do monitoramento, representantes dos três segmentos da comunidade universitária preencheram os questionários. Aderiram 12.260 estudantes, 1.712 docentes e 996 TAEs. A estudante Gabriela Arsênio, do curso de Teatro, apresentou os dados relacionados aos discentes, a professora Suzana Gomes, da Faculdade de Educação, expôs os dados dos docentes, e o servidor Luiz Antônio de Faria, da Diretoria de Avaliação Institucional (DAI), discorreu sobre a participação dos técnico-administrativos em educação no levantamento.
Em relação aos discentes, 30% dos estudantes de cada curso, exceto da Formação Intercultural em Educação Indígena (Fiei), responderam ao questionário – em sua maioria (56%) do sexo feminino. Entre os servidores técnico-administrativos, 226 (22,7%) trabalham nos colegiados, departamentos que ofertam disciplinas ou seções de ensino.
Integrante da CPA, a professora Suzana Gomes comentou os resultados referentes aos docentes. A investigação, feita entre os meses de dezembro e janeiro, apurou dados sobre a adaptação do grupo ao ensino remoto, com base em aspectos como uso de recursos tecnológicos, planejamento, estratégias didáticas, envolvimento em ações formativas, bem-estar e relação com as turmas.
Um dos pontos destacados por Suzana foram os desafios trazidos pelo novo modo: 65,2% dos docentes disseram se sentir sobrecarregados com a elaboração de materiais, e 46,8% citaram a baixa interação e engajamento dos estudantes com as propostas. "Os professores, muito acostumados com o ensino presencial, sentiram-se muito incomodados com a distância, com o uso das plataformas, das tecnologias, que muitas vezes geravam certa insegurança", analisou.
O servidor Luiz Antônio de Faria, lotado na Diretoria de Avaliação Institucional (DAI) e integrante da CPA, apresentou os números sobre o ensino na perspectiva dos técnicos em educação, segmento que conta com 4.211 profissionais com vínculo ativo – 996 (24%) participaram da pesquisa. O levantamento abordou questões como ferramentas, ambiente, condições de trabalho e saúde. "Cinquenta e quatro por cento responderam que não tiveram problemas. No entanto, 45,3% relataram algum incômodo durante esse período. Esse dado precisa ser avaliado com atenção”, alertou Faria.
Avaliador, o 'amigo crítico'
Convidado especial do evento, o professor Almerindo Janela Afonso, da Universidade do Minho, em Portugal, fez considerações acerca da natureza da avaliação, sua técnica, métodos, razões e seu papel na construção e fortalecimento da democracia, especialmente quando feita publicamente e aberta a críticas.
O docente, especialista em processos avaliativos de ensino, vê a avaliação como um campo multidisciplinar, que envolve, além dos aspectos técnicos e metodológicos, questões filosóficas, políticas, éticas e pedagógicas. "A avaliação pode ser um instrumento de controle a serviço dos sistemas de vigilância, dos panópticos, para usar a linguagem do Foucault, ou ser um instrumento de emancipação, de reforço da nossa capacidade de intervenção", ponderou.
Colocando-se na posição de "amigo crítico", figura responsável por avaliar iniciativas com as quais se identifica, Janela analisou o monitoramento do ensino remoto na Universidade, considerando seu instrumento e resultados. Para o professor, o questionário poderia ter incluído uma breve explicação sobre como foi proposto e validado e respostas de dirigentes da Administração Central, como reitora, vice-reitor, pró-reitores e diretores. Por outro lado, elogiou a participação de integrantes de todos os segmentos da comunidade acadêmica, o cuidado com o detalhamento sobre o uso dos recursos tecnológicos e a tradição da UFMG de avaliar publicamente suas práticas.
"Essa iniciativa da Universidade, de exercitar a reflexão sobre si própria, é um aspecto extremamente positivo. Não há um ministério a ditar ou uma imposição. Há aqui uma vivência dos próprios sujeitos que acreditam que vale a pena conhecer os constrangimentos e as possibilidades de suas práticas e de sua vida organizacional para melhorar esse cenário", concluiu Almerindo Janela.
O evento foi transmitido pelo canal da Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC) no YouTube, onde sua gravação continua disponível.