UFMG e municípios da Grande BH discutem estratégias para ampliar cobertura vacinal
Oficina de trabalho promovida pela Escola de Enfermagem em parceria com as secretarias de saúde prossegue nesta terça, no campus Pampulha
O combate à baixa cobertura vacinal para as doenças imunopreveníveis (que podem ser evitadas por imunizantes) exige várias ações conjuntas: da sensibilização da população à vacinação extramuros, passando pela reorganização dos processos de trabalho das equipes das unidades municipais de saúde. É um investimento que não exige aumento nem de recursos financeiros, nem de jornada de trabalho dos profissionais, segundo avaliação de Sônia de Jesus Pires, coordenadora de imunização de Sarzedo, município da Região Metropolitana de Belo Horizonte que tem 500 crianças abaixo de dois anos de idade e atingiu a taxa de 100% de cobertura vacinal nessa faixa etária.
O excelente resultado, muito superior à media no Brasil e em vários outros países, deve-se, segundo Sônia Pires, “à decisão estratégica da gestão, que apoia medidas relativamente simples, como organização dos processos de trabalho e ações de sensibilização e acompanhamento continuado das famílias do município". Sarzedo tem 41 mil habitantes.
O trabalho desenvolvido em Sarzedo é uma das três experiências exitosas de cobertura vacinal postas em práticas em municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte, que estão sendo apresentadas durante mais uma edição da oficina de trabalho que visa discutir estratégias para o aumento da vacinação de crianças e adolescentes. A atividade, promovida pela Escola de Enfermagem da UFMG, por meio do Observatório de Pesquisa e Estudos em Vacinação (Opesv) e pela Secretaria Estadual de Saúde, teve início na segunda-feira, dia 26, e prossegue nesta terça-feira, 27, no Centro de Atividades Didáticas (CAD 2), no campus Pampulha.
Facilidade no acesso
O acompanhamento diário da ficha das crianças pelos agentes comunitários de saúde e pelos técnicos de enfermagem é outra medida adotada em Sarzedo para manter a vacinação em dia.
Além disso, as visitas de sensibilização aos pais e responsáveis, com apoio do Conselho Tutelar (caso necessário), são intervenções que, associadas à oferta de vacinação extramuros (em escolas, abrigos e comunidades rurais), têm contribuído para que os imunizantes cheguem aos braços dos adolescentes.
“Durante esse processo de maior aproximação com as famílias e checagem diária das fichas de vacinação, observamos que precisávamos facilitar o acesso às vacinas. Na zona rural, por exemplo, se for tempo de plantio ou de colheita, os pais e responsáveis não deixam o trabalho para levar a criança até uma sala de vacinação. Então, nosso trabalho de horta em horta, de casa em casa, alcançou a imunização de cerca de 100 crianças da zona rural”, relatou.
A parceria com as escolas também é uma proposta positiva, na avaliação de Sônia Pires. “A ideia de uma vacinação segura também é fundamental para a conquista da confiança da direção da instituição e das famílias, por meio de informação e comunicação clara sobre o processo. A parceria com as escolas ajudou a atingir também o público adolescente, numa proporção de 100 vacinados contra os 20 que vão até as salas de vacinação. Assim, estamos conseguindo ampliar a cobertura vacinal no município”, destacou.
Organização dos processos
Segundo a professora Fernanda Penido Matozinhos, da Escola de Enfermagem, durante a oficina de trabalho, os municípios constroem os seus próprios planos de cobertura vacinal, com objetivo de melhorar indicadores de processos de trabalho de imunização, a partir das informações e experiências compartilhadas. Esta edição da oficina reúne representantes de 30 municípios de pequeno e médio porte, no universo de 39 que integram a Unidade Regional de Saúde da Capital.
Fernanda Penido conta que, desde a implantação do projeto, em 2021, por meio de pesquisa-intervenção, foram identificadas as áreas prioritárias e os públicos de maior vulnerabilidade (crianças até 2 anos de idade). Neste ano, o projeto estende seu foco para o público adolescente (até 14 anos), com registro de melhora da cobertura vacinal dos municípios já capacitados.
Os resultados do projeto já estão registrados em alguns artigos científicos: O impacto das estratégias para aumentar a cobertura vacinal em crianças: um ensaio clínico comunitário; Classificação de risco para transmissão de doenças imunopreveníveis em Minas Gerais, Brasil: dois anos desde o início da pandemia de covid-19; Cobertura vacinal em crianças menores de um ano no estado de Minas Gerais, Brasil.
“Esse projeto, que aproxima a academia dos serviços de saúde, teve data para começar, mas não tem dia para terminar, uma vez que oferece acompanhamento constante às equipes, para reavaliação dos seus planos de trabalho e implementação de novas propostas de intervenção, conforme as especificidades e necessidades de cada um dos 853 municípios de Minas”, afirma a professora.
União de esforços
As ações conjuntas entre as equipes de imunização e atenção primária é um grande diferencial, na avaliação de Bruna Castro Silva, que representa a Coordenação de Qualificação dos Processos de Trabalho das Atenções Primárias à Saúde e Ações de Vigilância da Capital. “A atenção primária é a porta de entrada do usuário nos serviços de saúde oferecidos pelo SUS, que incluem o acolhimento das famílias e o encaminhamento para cuidados específicos, incluindo a vacinação. Assim, a proposta é chamar a atenção para aquilo que as equipes já realizam em suas rotinas, mas de forma organizada e normatizada, visando à melhoria dos resultados”, acrescenta.
A coordenadora do Programa de Imunizações da Secretaria de Saúde de Minas Gerais, Josianne Dias Gusmão, também destacou a importância da atenção especial em relação ao lançamento dos dados nos sistemas de saúde, “com prioridade para resolução das inconsistências e construção de um sistema que seja fidedigno à cobertura vacinal dos municípios”.
“Desde 2015, o país vem registrando tendência de queda na cobertura vacinal, em decorrência de vários fatores, incluindo – o que parece ser um paradoxo – o próprio aumento da cobertura vacinal registrado anteriormente, na década de 1990. Isso ocorre porque as pessoas tendem a se vacinar menos quando não há casos de adoecimento e mortes. Mas, infelizmente, quando há surtos e epidemias, como da covid-19 e, novamente, da dengue, todos correm para se vacinar, sobrecarregando o sistema. Assim, a distribuição dos imunizantes precisa levar em conta critérios epidemiológicos para bloquear o agravo, pois nem sempre há vacinas suficientes para alcançar todas as pessoas em períodos críticos”, alerta a coordenadora.