Institucional

UFMG institui comissões para auxiliar na recuperação de acervo do MHNJB

Incêndio atingiu salas que guardavam coleções de arte popular, arqueologia, paleontologia, etnografia, botânica e zoologia

Parte do acervo removido para a reserva técnica emergencial
Parte do acervo removido para a reserva técnica emergencial Comitê Emergencial de Resgate

O Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG instituiu duas comissões para auxiliar no resgate e na preservação de acervos, após incêndio que atingiu salas da Reserva Técnica 1, no último dia 15 de junho. A Comissão Emergencial de Resgate vai coordenar ações de salvaguarda das coleções e dos objetos afetados pelo incêndio, enquanto a de Gestão de Preservação de Acervos, com perspectiva de atuação em longo prazo, vai assessorar a Diretoria do Museu na elaboração de medidas e estratégias de gestão para assegurar a manutenção adequada do acervo, incluindo a adequação das edificações às exigências do Corpo de Bombeiros. Os grupos são formados por professores e servidores técnico-administrativos em educação da UFMG.

No âmbito da Universidade, será criado um Comitê de Governança, formado por representantes do Gabinete da Reitora, das pró-reitorias de Administração, Planejamento e Extensão, das diretorias de Cooperação Institucional e de Ação Cultural, da Rede de Museus e Espaços de Ciências e Cultura, do Centro de Comunicação (Cedecom) e da própria diretoria do Museu de História Natural e Jardim Botânico. Esse grupo será responsável pela formulação de estratégias de ação de comunicação, captação de recursos e apoio administrativo e logístico para as comissões criadas no MHNJB.

Mobilização
Ainda no dia 15, foram tomadas as primeiras medidas para iniciar a recuperação do acervo. Em reunião virtual entre a diretora do museu, Mariana Lacerda, e pesquisadoras do Museu Nacional do Rio de Janeiro, foram repassados os protocolos utilizados após a tragédia que afetou, em setembro de 2018, o prédio histórico e parte do acervo em exposição daquela instituição. No dia 16, a Polícia Federal deu início à perícia para apurar as razões do incêndio no MHNJB. O trabalho conta com suporte de professores e pesquisadores da UFMG, que atuam para minimizar as perdas do material atingido pelo fogo.

Higienização do acervo didático de ciências biológicas
Higienização do acervo didático de ciências biológicas Comitê Emergencial de Resgate

As primeiras salas foram atingidas apenas por fuligem e fumaça. Nelas estavam itens de paleontologia e objetos de grande porte da arqueologia. A sala do meio, com itens do acervo etnográfico, de arte popular e parte do acervo de zoologia, foi parcialmente atingida. As duas últimas salas, com itens de arqueologia de origem orgânica e zoologia, foram as mais afetadas. “Era uma das melhores edificações do museu, com controle de temperatura e controle de umidade do ar. Ela atendia a todas as necessidades de manutenção e monitoramento do acervo”, ressalta Mariana Lacerda.

Os professores, pesquisadores e estudantes ligados ao Setor de Arqueologia do MHNJB trabalham no resgate dos vestígios arqueológicos e demais coleções que estavam acondicionados na reserva técnica e não foram totalmente destruídos pelo incêndio. Foram estabelecidos protocolos para registro e retirada das coleções atingidas, com os cuidados necessários para evitar perda de informações. Posteriormente, os objetos passam por uma sala de triagem e, em seguida, para a reserva técnica provisória. Os responsáveis pelo resgate são os professores Mariana Cabral, Maria Jacqueline Rodet e Andrei Isnardis.

Atuação emergencial
Sob liderança da professora Bethânia Veloso, coordenadora do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais da Escola de Belas Artes da UFMG (Cecor), a Comissão Emergencial de Resgate atua no local para realizar as primeiras medidas de recuperação do acervo atingido. Foi montado um laboratório emergencial e uma reserva técnica provisória para onde estão sendo levados todos os objetos e fragmentos recolhidos. Todas as peças receberão tratamento adequado e passarão pelos procedimentos necessários para preservação das coleções. “Nós transferimos principalmente os objetos frágeis que se salvaram, como sementes, insetos, fósseis, mantendo uma organização”, explica Bethânia. A área incendiada guardava coleções de arte popular, arqueologia, paleontologia, etnografia, botânica e zoologia. “Nesta semana, continuam os trabalhos de transferência das coleções para a reserva técnica provisória. Elas ficarão lá, em situação de pré-acondicionamento, até que tenhamos um novo projeto de reserva para abrigar esse material”, completa.

O trabalho conta com o apoio de professores e estudantes voluntários, que atuam conforme os protocolos preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a pandemia da Covid-19. Os voluntários receberam máscaras de proteção (faceshields) produzidas na UFMG por grupo coordenado pela professora do Departamento de Química Heveline Silva.

Parte da equipe envolvida no resgate do acervo
Parte da equipe envolvida nas primeiras medidas de recuperação do acervoComitê Emergencial de Resgate

Solidariedade institucional
No dia da tragédia, a Reitoria da UFMG manifestou pesar, por meio de nota, e expressou solidariedade institucional "com a diretoria, com aqueles que integram o corpo funcional do Museu de História Natural e Jardim Botânico e com toda a comunidade que atua nesse espaço que é um importante patrimônio da Instituição". O comunicado foi assinado pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida e pelo vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira. Ambos estiveram nas instalações do museu no dia 17 para prestar solidariedade e acompanhar os trabalhos de recuperação. Por e-mail, o vice-reitor João Manuel Pardal Barreiros, da Universidade de Lisboa, em Portugal, ofertou ajuda do Museu de História Natural e da Ciência da instituição.

Outras instituições, como PUC Minas, Unesco, Ibram, Iphan e Fapemig, expressaram pesar pelo acontecido. A PUC Minas disponibilizou a “experiência e conhecimento técnico de seus pesquisadores no que for necessário e possível para a rápida recuperação do acervo perdido”. O Museu de Ciências Naturais da universidade sofreu um incêndio em 2013. 

A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) lamentou o incêndio e declarou “sua solidariedade diante da perda inestimável para o patrimônio cultural brasileiro e para a humanidade”. A Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) destacou o espaço como “importante instituição de pesquisa, de aprendizado e de divulgação da ciência”. A Sociedade Brasileira de Arqueologia lamentou as perdas e se solidarizou com os profissionais do museu. O Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgãos do Ministério do Turismo, puseram suas equipes técnicas à disposição da UFMG para auxiliar na recuperação do acervo. Oferta idêntica foi feita pela direção-executiva da CPRM – Serviço Geológico do Brasil, que pôs os recursos humanos do Museu de Ciências da Terra à disposição da UFMG.

Outras notas de solidariedade e apoio estão postadas no Twitter do Museu de História Natural e Jardim Botânico.