Verbas para pesquisas relacionadas ao novo coronavírus são insuficientes para enfrentar a crise
Baixo investimento do governo federal em ciência e tecnologia preocupa pesquisadores
Enquanto vários países sofrem com a pandemia da Covid-19, equipes de cientistas estão trabalhando para desenvolver vacinas e medicamentos. No esforço internacional, o Brasil colabora com pesquisadores em diversas instituições, inclusive na UFMG. O governo federal tem destinado recursos para pesquisas relacionadas ao novo coronavírus, mas as verbas estão longe de ser suficientes, segundo entidades científicas do país. Um estudo publicado no mês passado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, IPEA, vinculado ao Ministério da Economia, defendeu que, diante do baixo investimento, o Brasil “corre o risco de ficar completamente desprovido” de vacinas, equipamentos e insumos médicos “que serão orientados para abastecer os países com maior competência científica e maior poder de compra”.
Segundo o estudo, “a tradicional dependência científica e tecnológica do Brasil” vem sendo explicitada “com a escassez de equipamentos e testes para o combate à Covid-19”. A Rádio UFMG Educativa conversou com a doutora em física e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Marcia Cristina Bernardes Barbosa, uma das diretoras da Academia Brasileira de Ciências, que explicou que a carência nesse âmbito não é um problema recente: “Até 2016, o Brasil vinha crescendo cientificamente, de maneira muito modesta. Com a lei que autorizou o congelamento de recursos para investimentos em educação, ciência e tecnologia, o crescimento, que já era pequeno, foi abruptamente interrompido. Quando tínhamos que estar cientificamente preparados, com insumos para enfrentar a pandemia, não estamos”, afirmou a professora.
Verba liberada pelo governo não é suficiente
Até o momento, o governo federal publicou dois editais destinados ao fomento de pesquisas relacionadas ao combate do novo coronavírus, no valor de 60 milhões de reais. Para efeito de comparação, nos Estados Unidos foram alocados mais de 6 bilhões de dólares exclusivamente para pesquisas sobre a Covid-19. Representantes de duas das principais entidades científicas brasileiras, a Academia Brasileira de Ciências e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, já defenderam que o governo federal libere todos os recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, que tem um orçamento de cerca de 4 bilhões e 900 milhões de reais em 2020.
Mas a falta de verba e de instrumentos de pesquisa não são o único problema. De acordo com a doutora Marcia Cristina Bernardes Barbosa, faltam pesquisadores no país. “O Brasil está muito abaixo da média de países com pessoas com título superior. São poucas pessoas formadas, e ainda menos profissionais capacitados para fazer pesquisa”, explica. Segundo Barbosa, a escassez de investimentos ainda faz com que os poucos pesquisadores formados não consigam se manter e trabalhar no país. “Sem gente para fazer pesquisas nas universidades e nas empresas, o Brasil fica dependente de outros países para produzir os insumos necessários para o enfrentamento da pandemia”, conclui a professora.
Investimentos para o futuro
A professora Marcia Cristina Bernardes Barbosa considera grave a liberação de recursos de forma centralizada, com foco em projetos de pesquisa que estejam diretamente ligados à pandemia do novo coronavírus. “Todo o sistema de desenvolvimento da ciência e da tecnologia precisa ser irrigado por esses recursos, para que possamos solucionar não só essa crise, mas as outras que virão”, defendeu Barbosa. De acordo com a professora, o enfrentamento de crises futuras “precisa de um plano articulado que abranja todas as áreas da ciência, pois é essa articulação que faz o país progredir”.
Em entrevista ao programa Conexões, a professora ainda lembrou que as universidades públicas e o sistema público de saúde vinham sendo agredidos e sucateados nos últimos anos, e hoje são protagonistas no enfrentamento à pandemia. “Espero que isso sirva para redesenhar políticas para o novo normal, o normal que virá depois dessa crise sanitária, e que isso crie a consciência da importância de instrumentos como educação e saúde para todos”, disse a professora à Rádio UFMG Educativa.
Você encontra outras informações sobre a Academia Brasileira de Ciências, da qual a professora e doutora Marcia Cristina Bernardes Barbosa é uma das diretoras, no site deles.
O boletim divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada à respeito dos investimentos na ciência para combate do novo coronavírus pode ser acessado neste site.
Outras informações sobre a Marcha pela Vida, realizada virtualmente no dia 9 de junho, podem ser encontradas no site da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.