Violência Obstétrica: caso de anestesista preso em flagrante por estupro durante cesárea lança luz sobre o tema
Levantamento mostra que foram registrados 1.734 casos do tipo entre 2014 e 2019, em 9 estados brasileiros
O médico anestesista fluminense Giovanni Quintella foi preso em flagrante por ter estuprado uma paciente no momento do parto na cidade de São João de Meriti, no Rio de Janeiro. O caso ocorreu na madrugada de segunda-feira, no Hospital da Mulher Heloneida Studart. A vítima estava inconsciente após ter sido anestesiada pelo próprio médico. Enfermeiras e técnicas de enfermagem da unidade desconfiaram da quantidade elevada de anestésico que Quintella havia utilizado em outras duas pacientes no mesmo dia e conseguiram filmar escondidas o terceiro parto. As imagens foram divulgadas e mostram o médico olhando para os lados o tempo todo por trás de um pano que o separava do restante da equipe na sala de cirurgia enquanto comete o crime. A prisão em flagrante foi feita com base na gravação utilizada como prova e surpreendeu o suspeito. Ele foi indiciado a princípio, por estupro de vulnerável, crime com pena que vai de 8 a 15 anos de reclusão.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), abriu um processo para expulsar o médico. A polícia está tentando descobrir outras vítimas de Giovanni Quintella, que atuou profissionalmente em cerca de 10 hospitais na carreira. O caso gerou comoção e traz à tona a discussão sobre violência obstétrica. Um levantamento feito pelo portal The Intercept em 2019 revelou que, somente em 9 estados brasileiros, foram registrados 1.734 casos do tipo entre 2014 e 2019 em serviços de saúde, sendo 1.239 registros de estupros e 495 de casos de práticas como assédio sexual e violação sexual mediante fraude.
O programa Conexões conversou sobre o caso e sobre violência obstétrica com a professora Kleyde Ventura da Escola de Enfermagem da UFMG, ex-presidenta da Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras e Líder do Grupo de Pesquisa e Estudos de Saúde da Mulher e Gênero da UFMG. Na entrevista, a professora abordou a importância da atuação sensível das profissionais de enfermagem que identificaram o comportamento fora do protocolo do anestesista e registraram o crime. Ela também comentou o posicionamento de entidades de classe em relação ao caso, os fatores que levam à recorrência dessas violações no Brasil e como deve ser o acolhimento às vítimas.
Na entrevista, a professora destacou a atuação da equipe de enfermeiras que filmou o crime e como filmagens em procedimentos como esse podem dar segurança a pacientes e equipes. "Elas (as enfermeiras) abriram a possibilidade desse caso vir à tona e mostram o que pode ser feito em outras situações, inclusive sendo incluídas no processo de trabalho. A filmagem em espaços de cuidado, como por exemplo na sala de cirurgia ou nos ambiente de cuidado, de mulheres de crianças e outras pessoas vulneráveis, é uma estratégia importante para a segurança de todos os envolvidos. Das pessoas que estão sendo cuidadas e das equipes também."
Ouça a conversa com a jornalista Luíza Glória: