Arte e Cultura

'Zé', filme dirigido pelo professor Rafael Conde, estreia em Belo Horizonte

Produção conta a história do líder estudantil da UFMG José Carlos da Mata Machado, morto pela ditadura, em Recife, em 1973

Em 'Zé', Caio Horowicz interpreta o aluno da UFMG José Carlos Novaes da Mata Machado
Em 'Zé', Caio Horowicz interpreta o aluno da UFMG José Carlos Novaes da Mata Machado Imagem: frame do filme 'Zé'

, o mais recente longa-metragem de Rafael Conde, cineasta e professor da Escola de Belas Artes, estreia em Belo Horizonte nesta quinta-feira, dia 29, às 20h30, com ingressos promocionais a R$ 10. O filme estará em cartaz no Una Cine Belas Artes, cinema de rua situado no Lourdes, em Belo Horizonte. A estreia terá a presença do diretor e de sua equipe, que conversarão com o público sobre a obra.

O filme conta a história de José Carlos Novais da Mata Machado, uma das principais lideranças do movimento estudantil de Minas Gerais durante a ditadura. Aluno da Faculdade de Direito da UFMG, Zé foi presidente do centro acadêmico da unidade, ponto de convergência da resistência estudantil naquele tempo, e vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), posições que o puseram na mira dos militares.

Perseguido pelo regime, José Carlos abandonou a vida confortável que tinha em Belo Horizonte e passou à clandestinidade; nela, trabalhou com alfabetização e conscientização política no interior do Nordeste, história retratada no filme. Nascido em março de 1946, Zé era filho do jurista Edgard de Godoi da Mata Machado, professor da Faculdade de Direito que, mais tarde, seria afastado da UFMG pela ditadura.

A morte nos porões do Recife
Conforme descrevem os relatórios da Comissão da Verdade, Zé Carlos da Mata Machado foi morto após tortura nos porões do DOI-Codi (órgão de inteligência e repressão do governo brasileiro na ditadura) de Recife, em Pernambuco, no dia 28 de outubro de 1973. Junto com ele estava Gildo Macedo Lacerda, aluno do curso de economia da UFMG, também torturado e morto no local.

A farsa contada pelo Exército brasileiro sobre a circunstância dessas duas mortes (supostamente ocorridas num confronto com um terceiro membro da militância estudantil, história inventada para também ocultar a circunstância da morte desse terceiro homem) ficou conhecida como o “Teatro de Caxangá”, dado o seu caráter fantasioso. A história dessa e das centenas de outras mortes causadas pela ditadura via tortura podem ser conhecidas nos relatórios da Comissão da Verdade, disponíveis na internet.

O elenco do longa de Rafael Conde tem Caio Horowicz (Zé), Eduarda Fernandes (Bete), Samantha Jones (Grauninha), Rafael Protzner (Gilberto), Yara de Novaes (Dona Yedda), Gustavo Werneck (Edgar) e Alexandre Cioletti (Hélio). Escrito pelo próprio Rafael e por Anna Flávia Dias, o roteiro do filme é inspirado no livro Zé – José Carlos Novais da Mata Machado, uma reportagem, de Samarone Lima (Editora Mazza, 1998).

'Visão intimista'

O cineasta Rafael Conde, professor da Escola de Belas Artes
O cineasta Rafael Conde, professor da Escola de Belas Artes Foto: Bianca Aun

Conforme se conta no material de divulgação da obra, o filme de Rafael Conde evita a dramatização excessiva das cenas de violência, divergindo da tendência mais comum às obras que tratam dos anos de chumbo, o que, em certa medida, faz o filme transcender a mera reconstituição histórica. “O longa prefere focar nos conflitos familiares e nos dramas éticos e pessoais dos personagens, oferecendo uma visão mais intimista e reflexiva dos impactos do regime autoritário nas vidas de militantes perseguidos”, explica o diretor.

Para Rafael Conde, seu filme vem a público em um momento particularmente propício da história brasileira, haja vista o contexto de louvor aos discursos autoritários e de desconhecimento dos horrores da ditadura. “Vemos hoje pessoas com cartazes nas mãos pedindo ditadura. É algo que assusta muito. Essas pessoas não sabem o que é viver sob o regime do medo, da censura e da repressão”, diz Rafael, destacando a importância de – para que nunca mais aconteça – se seguir contando a história do que foram aqueles anos trágicos da história brasileira. 

O filme começou a ser gestado pelo cineasta há mais de duas décadas. Rafael conta que, assim que o livro de Samarone Lima foi lançado, ele começou a falar dele nos eventos de que participava, como festivais de cinema e residências artísticas. Em 2002, quando recebeu suporte para desenvolvimento de projeto e roteiro da produtora Hubert Bals Fund, começou a desenvolver o projeto. “A partir do livro e do material de pesquisa cedidos pelo Samarone, começamos esse longo processo de 20 anos de escrita das dezenas de versões dessa história”, conta o diretor. A distribuição do longa é da Embaúba Filmes.

Estreia em Belo Horizonte ocorre nesta quinta, 29
Estreia em Belo Horizonte ocorre nesta quinta, 29 Imagem: frame do filme 'Zé'

Sobre o diretor

Rafael Conde tem duas décadas de cinema. Graduado em ciências econômicas, mestre em artes e doutor em artes cênicas, o cineasta é professor da Escola de Belas Artes da UFMG desde 1997. Entre outras atividades, foi diretor de teatro e coordenador do Cine Humberto Mauro e do setor de cinema da Fundação Clóvis Salgado, em Belo Horizonte.

é o seu terceiro longa-metragem. Os outros dois são Fronteira (2008), que recebeu o prêmio de melhor roteiro da Academia Brasileira de Letras, e Samba-Canção (2002). Conde tem também em seu currículo mais de dez curtas, entre eles o clássico A hora vagabunda, de 1998. Em 2019, lançou o livro O ator e a câmera: Investigações sobre o encontro no jogo do filme pela Editora UFMG.

Filme:
Direção: Rafael Conde
Classificação etária indicativa: 14 anos
Brasil, 2023, 120'

Ewerton Martins Ribeiro