Boletim

Nº 1938 - Ano 42 - 01.05.2016

Uma nova graduação

Porto seguro de uma tradiçao

Praça de Serviços deverá receber cerca de 15 mil pessoas em mais uma edição da feira de artesanato do Vale do Jequitinhonha

Nesta semana, de 2 a 7 de maio, a Praça de Serviços do campus Pampulha vai acolher a 17ª Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha na UFMG, que abrigará expositores de 22 municípios e uma diversificada programação cultural. As atividades serão realizadas de segunda a sexta, das 9h às 18h, e no sábado, das 9h às 14 horas. A promoção é da Pró-reitoria de Extensão, das diretorias de Ação Cultural e de Governança Informacional e dos programas Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha e Saberes Plurais. São esperadas mais de 15 mil pessoas nos seis dias de evento.  

Exemplares de acessórios artesanais que serão comercializados na Feira
Exemplares de acessórios artesanais que serão comercializados na Feira Flávia Brandão

A exemplo de edições anteriores, a Feira homenageará duas mestras do artesanato do Vale do Jequitinhonha: Dona Vitalina Pereira Xavier, 106 anos, uma das pioneiras na produção de cerâmica na localidade de Campo Alegre, município de Turmalina, e Dona Lia (Maria Vieira de Araújo Borges), 86 anos, apanhadora de sempre-vivas, pequenas flores naturais do cerrado, residente no distrito de Galheiros, próximo a Diamantina.

De acordo com Terezinha Furiati, responsável pela organização, a Feira da UFMG, além de possibilitar que os artesãos divulguem e comercializem seus trabalhos, efetiva o diálogo da UFMG com os municípios e os próprios artesãos. “A Feira concentra os melhores, mais tradicionais e famosos artesãos do Vale e abre a eles espaço para apresentar as técnicas, materiais e fazeres tradicionais. Também atrai muitos lojistas e colecionadores, inclusive do eixo Rio-São Paulo, pois é mais vantajoso comprar aqui do que circular pelo Vale”, argumenta. 

A bordadeira de roupas com poemas Maguidá Freitas Souza Botelho, que participa da Feira desde 2001, informa que vai expor produtos que variam de R$15 a R$250. Presidente da Associação dos Artesãos de Palmópolis (AAPA-MG), cidade com pouco mais de sete mil habitantes, situada a quase 1 mil quilômetros de Belo Horizonte, ela representa uma entidade que, no ano passado, vendeu cerca de 300 itens. Os filiados à AAPA-MG desenvolvem artesanato, utilitários em fibras vegetais, cipó, cerâmica, cabaças, bonecas em biscuit e se dedicam a produtos da agricultura familiar 100% orgânicos, como geleias, licores, paçoca de carne de sol e rapadura. 

O artesanato dos povos indígenas também será representado na Feira. Maria Luiza Moreira Santos Souza, de Araçuaí, da etnia Aranã, tem 43 anos e trabalha desde os 12 anos. Como manda a tradição, aprendeu o ofício com os mais velhos e o transmitiu às filhas de 18 e 23 anos. “Participamos da Feira há quatro anos; fazemos questão de nos caracterizar, com pinturas corporais, vestes e cocar. Expomos peças menores como brincos de pena e de cascas, colares de sementes e maracás de coco, chocalhos indígenas utilizados em festas e cerimônias religiosas e guerreiras”, explica. 

Exemplares de acessórios artesanais que serão comercializados na Feira
Exemplares de acessórios artesanais que serão comercializados na Feira Flávia Brandão

Impactos sociais

O evento reunirá artesãos de 40 associações sediadas em 22 municípios participantes do programa Polo Jequitinhonha. No ano passado, a receita com as vendas foi superior a R$ 220 mil. A Feira oferece ao artista condições de divulgar e vender seus trabalhos sem a necessidade de intermediários, e essa facilidade contribuiu para torná-la o melhor local de divulgação e venda do artesanato em Belo Horizonte, superando a Feira Nacional de Artesanato, realizada em novembro, no Expominas. “Participamos de outras feiras em BH, como a Agriminas e a feira do Expominas, mas a da UFMG é a mais rentável”, atesta a bordadeira Maguidá Freitas.

Terezinha Furiati menciona os impactos sociais da relação entre Universidade e artesãos. “A Feira proporciona boas oportunidades de geração de renda, e normalmente esses recursos são utilizados na melhoria das moradias, em investimento na educação dos filhos. Além disso, favorece a autonomia e o empoderamento feminino. Muitas mulheres se deslocam até BH para comercializar seus produtos e aqui permanecem durante uma semana, deixando suas casas, filhos e maridos para trabalhar em seu próprio negócio”, explica. A Universidade também se beneficia da parceria. “A Feira trouxe para cá o saber popular dos mestres e das mestras. Ela produz e compartilha conhecimentos”, avalia.

Zirlene Lemos*