Economia que vem do sol
Pesquisa realizada no Cedeplar dimensiona impactos da adoção da energia solar pelas famílias mineiras
A utilização dos sistemas fotovoltaicos, que transformam energia solar em eletricidade, ainda não é compensadora financeiramente para famílias que consomem pouca energia. Os aquecedores solares de água, por outro lado, são viáveis para famílias de quase todas as faixas de renda – e o benefício é tanto maior quanto menor a renda, uma vez que, para esses grupos, o gasto com chuveiro elétrico é mais significativo.
Micaele Martins de Carvalho, que defendeu pesquisa de mestrado no Cedeplar, no início deste ano, calculou as consequências econômicas em cenário de maior aproveitamento da energia solar nas residências de Minas Gerais. O estudo projeta efeitos da redução da conta de energia em setores econômicos e na geração de empregos, por exemplo.
De acordo com a pesquisadora, Minas Gerais tem grande potencial para a utilização da energia solar. “O estado tem uma das tarifas mais altas do Brasil e é um dos que reúnem mais empresas certificadas para a produção de aquecedores solares”, justifica Micaele Martins. Ela salienta que a geração de energia hidrelétrica é mais barata que a solar, mas o custo final é mais elevado por causa da distribuição.
O estudo mostra que a utilização de painéis fotovoltaicos é cara, sobretudo, porque o sistema tem custo fixo de instalação e equipamentos, independentemente da quantidade de placas. Um sistema pequeno, que produzisse pouca eletricidade, não seria economicamente interessante. “Compensa apenas quando a produção atinge média de 288 kW/h por mês, e para famílias com renda média per capita de cinco salários mínimos ou mais”, afirma Micaele Martins, economista formada pela Universidade Federal de Viçosa. Considerando que o kW/h custe 82 centavos, incluindo impostos, a produção de 288 kW/h pode gerar economia mensal de aproximadamente R$ 236.
O incentivo ao uso de aquecedores solares por famílias menos abonadas seria uma alternativa, na visão da pesquisadora, para compor políticas de distribuição de renda. Ela ressalta, entretanto, que grupos familiares com renda abaixo de meio salário mínimo per capita já são beneficiados por tarifas reduzidas de energia elétrica, e para eles a utilização do aquecedor solar, a preços de mercado, não traz vantagens.
Famílias representativas
A pesquisa lançou mão do modelo Imagem-MG (Integrated Multirregional Applied General Equilibrium Model for Minas Gerais), adaptação de modelo criado pelo Cedeplar para o Brasil, que segue a estrutura teórica do Term (The Enormous Regional Model). O modelo baseou-se nas Tabelas de Recursos e Usos do IBGE e em dados das Contas Regionais, e a pesquisadora criou dez famílias representativas, para tornar mais adequadas as simulações de adoção de tecnologias de energia solar.
No primeiro cenário projetado pelo estudo, que considera a adoção de painéis fotovoltaicos, os cálculos indicaram que os principais setores beneficiados pela economia de recursos das famílias com energia elétrica seriam o de arte e cultura e o de atividades financeiras e seguros. Os gastos na área cultural também tenderiam a aumentar no segundo cenário, alimentado pela hipótese da adoção dos aquecedores solares, mas a economia das famílias de renda mais baixa se transformaria também em gastos maiores com alimentos e artigos têxteis e de couro, como calçados.
“O incremento de gastos em arte e cultura é positivo na medida em que se trata de um setor pouco intensivo em consumo energético. Ou seja, a redução da degradação ambiental proporcionada pelo uso da energia solar não se anula”, diz Micaele Martins. “Além disso, essa transferência de recursos ajuda a gerar empregos, uma vez que o setor é intensivo em mão de obra.”
Arrecadação maior
O crescimento do consumo das famílias resultante da adoção de painéis fotovoltaicos implicaria, segundo a pesquisa, aumento acumulado da arrecadação do governo estadual de cerca de R$ 1 bilhão, em 20 anos. No caso da adoção de aquecedores solares, o incremento da arrecadação de impostos sobre comercialização de bens poderia chegar a R$ 6 bilhões.
Micaele Martins informa que, para efeitos da pesquisa, as famílias estão dispostas a aderir ao aproveitamento da energia solar em suas residências, mas reconhece que esse é um pressuposto arriscado, do ponto de vista prático. “Sabemos que as pessoas têm outras prioridades e que seria difícil fazer esse investimento sem garantias, como a possibilidade de vender energia excedente, ou incentivos do poder público, como linhas especiais de crédito.”