Percursos e tripulantes de uma jornada
Já aconselhava o mestre Yoda, em Star wars: “Faça ou não faça. Tentativas não existem”. De fato, para dar vida a projetos e sonhos, nem sempre é possível ensaiar. É preciso correr riscos, sair do senso comum, mesmo que o resultado desperte olhares à espreita de deslizes. Como, então, viabilizar o intento de contar, de maneira inovadora, a história das 25 bibliotecas da UFMG, em homenagem às nove décadas dessa importante Instituição? Tendo como guia o desejo de criar, liberta-se da necessidade de narrar o passado de maneira nostálgica, com fotos em preto e branco e frases saudosistas. Esse tipo de alternativa tem seu espaço, mas o anseio de inovar impulsiona a ir além.
Pois bem, a palavra universidade tem uma semelhança – que não é mera coincidência – com a palavra universo. O “universo” UFMG, que completou 90 voltas ao redor do sol neste ano, é, com a licença do uso da palavra de Douglas Adams, “grande. Grande mesmo. Não dá pra acreditar o quanto ele é desmesuradamente, inconcebivelmente, estonteantemente grande”. Dentro desse “universo”, há várias “galáxias” – unidades acadêmicas. Dentro delas, por sua vez, um sistema com uma variedade de “planetas do saber”. “Não entre em pânico.” Essa visão metafórica será explicada nos parágrafos a seguir.
As bibliotecas do “universo” UFMG oferecem conhecimentos das mais diversas áreas do saber e tiveram diferentes origens, de acordo com a história da “galáxia acadêmica” na qual se inserem. Além disso, apesar de elas reunirem produtos e serviços em comum – normatizados pelo Sistema de Bibliotecas ao qual se integram –, cada uma tem um acervo diferenciado, não só em termos de conteúdo, mas também de materiais disponibilizados: livros, partituras, CDs, VHS, só pra citar alguns exemplos. Essa diversidade de saberes que oferecem e o fato de estarem localizadas dentro de “galáxias”, de um “sistema” e de um “universo” já justificam a representação metafórica das bibliotecas como “planetas do saber”, concorda? E se cada planeta possibilita acesso a essa diversidade de conhecimento, imagina então um Sistema de Bibliotecas orbitado por 25 “planetas do saber”!
Para chegar a essa abordagem metafórica, foi necessário um longo trabalho, de mais de cinco meses. Tudo começou com a demanda da Biblioteca Universitária (BU). Após reunião de brainstorming – tempestade de ideias – de um grupo de entusiastas da comunicação da BU, que põem criatividade e afeto em tudo o que fazem, a demanda de contar a história das bibliotecas da UFMG tomou uma proporção metafórica. Foi apenas o início de Uma viagem interplanetária pelo Sistema de Bibliotecas, título da exposição em cartaz no mezanino da Reitoria até esta quarta-feira, 13 de setembro. A mostra ganhará registro em catálogo que será enviado, em breve, a todas as bibliotecas.
Por meio de processo criativo, em consonância com a ideia de fazer uma abordagem astronômica do Sistema de Bibliotecas (SB/UFMG), foi tomada a iniciativa de nomear os “planetas do saber” com base em títulos de obras disponíveis no Sistema que contivessem termos da astronomia. As unidades do Centro Pedagógico e do Coltec, por exemplo, por lidarem com públicos infantojuvenis, foram nomeadas Admirável mundo novo, clássico de Aldous Huxley, disponível para empréstimo no SB/UFMG. Já a Biblioteca da Faculdade de Ciências Econômicas – para citar outro exemplo – foi nomeada O guia financeiro das galáxias, adaptação do título de um dos livros de Douglas Adams: O guia do mochileiro das galáxias. Esses nomes foram inseridos em peças gráficas circulares – em referência ao formato dos “planetas” – e afixados nas laterais dos painéis das respectivas bibliotecas.
Além do processo criativo, também compuseram a viagem interplanetária processos burocráticos – orçamentos, compras, planejamento –, alguns percalços e o famoso “colocar a mão na massa” para dar forma às ideias. A cada etapa dessa viagem, novos tripulantes embarcavam para torná-la mais suave e agradável e para viabilizar a chegada ao “destino final”. Compuseram a tripulação gestores, bibliotecários, jornalistas, designers, funcionários do setor de serviços gerais, pessoas responsáveis pelos setores administrativos, uma infinidade de integrantes. Cada um teve papel importantíssimo, sem o qual não seria possível partir para a etapa seguinte e finalizar a trajetória.
Felizmente, o “universo” UFMG é habitado, e os seus habitantes, mesmo que por meio de um trabalho silencioso, somam seus esforços ao de outros tantos, possibilitando a preservação de tudo o que faz parte da história do “grande, estonteantemente grande” Universo. E o trabalho em equipe desses habitantes nos lembra da seguinte constatação: mais importante do que o destino final – resultado de um projeto, de uma tarefa, do que quer que seja – é a travessia, feita por seres humanos comuns, mas que, unidos em um mesmo propósito, se fortalecem e fazem acontecer.
Jornalista da Biblioteca Universitária