Arte em progresso
Outdoor da EBA recebe intervenção artística, trabalho que está contribuindo para revitalizar os espaços expositivos da Unidade
Nos últimos dias, quem chegou ao campus Pampulha pela Avenida Antônio Carlos pôde perceber, no outdoor que fica na calçada direita da Avenida Mendes Pimentel, em frente à Escola de Belas Artes (EBA), uma imagem incomum para esse tipo de plataforma: em vez das tradicionais mensagens de propaganda, há no local uma produção artística “em progresso”, com personagens de universos diferentes reunidos em um mesmo contexto. A imagem – cuja estética transita do fantasmagórico ao cerimonialístico, do religioso ao animalesco, do regional ao indeterminado – é o ponto de partida de uma ação pictórico-performativa que o pernambucano Erik Ordanve está realizando na plataforma.
A intervenção decorre da aprovação da proposta de Ordanve na segunda edição da chamada pública 01/2017, aberta pela Belas Artes no segundo semestre do ano passado. Foram escolhidos 20 projetos de alunos da casa para se instalarem, de fevereiro a julho deste ano, em seis dos espaços expositivos da escola: Galeria, Corredor e Cubo Gráfico, no térreo; Espaço F, no segundo andar; Outdoor, na área externa; e o Mezanino das Artes, que fica no segundo andar do prédio da Reitoria, no foyer do auditório. Cada aluno recebeu bolsa de até R$ 500 para realizar seu trabalho.
Denominada Ruminante: psicografia de um acontecimento “narrativo, itinerante, delirante”, a ação de Erik Ordanve – que é aluno do oitavo período do curso de Artes Visuais, na habilitação pintura – começou a ser realizada no dia 9 de abril, com a implantação da imagem-base do outdoor, criada com técnicas digitais. “Para produzir essa imagem, eu me vali da apropriação; visitei arquivos públicos, juntei tudo e tentei transformar em uma criação poética”, explica o artista. “Sou um pernambucano em uma cidade diferente; a ideia de êxodo e a imagem do retirante me interessam. Propus trazer elementos relacionados aos rituais cívicos que se repetem, como os desfiles e carnavais. Mas os elementos são diversos. Não é uma narrativa fechada”, afirma o artista.
Concluída a primeira etapa, Ordanve agora investe na parte mais dinâmica da produção: até 11 de maio, ele vai realizar série de intervenções pictóricas na imagem, de forma a deturpar gradativamente a sua proposta original, fazendo emergirem novos sentidos, em direções mais abstratas. “A ideia de ‘ruminância’ é quase um conceito na minha pesquisa, ou seja, trazer à tona o que já estava digerido. Nesse sentido, trabalho com questões relacionadas com o deslocamento geográfico e com a memória; opero uma espécie de jogo, entre o mostrar e o esconder. Em minhas obras, estou sempre retomando indícios do passado e ressignificando-os”, explica o artista.
Caráter político
Ordanve também demarca o caráter contemporâneo e político de sua proposta. “Meu trabalho tem um sentido mais amplo, que é o de tentar deslocar a prática de ateliê para a esfera pública. Há uma ideia de tirar a pintura dos seus suportes tradicionais e de levá-la a ocupar outros espaços – neste caso, o urbano. Por meio da ação, o público terá acesso não à obra depois de pronta, mas às várias etapas de seu processo de concepção”, afirma.
Suas intervenções são realizadas de surpresa, em qualquer momento do dia, de segunda a sexta-feira. O período de exibição da obra coincide com a sua produção: assim que o trabalho for concluído, o espaço começará a ser ocupado por nova intervenção sobre a obra anterior, realizada por outro aluno da instituição, também selecionado pelo edital.