Poeta do Barroco
Affonso Ávilla, que estaria completando 90 anos, será celebrado em jornada e exposição que vão abordar sua obra e sua atuação política
Em 1963, o poeta, pesquisador, ensaísta e jornalista Affonso Ávila (1928-2012) organizou, em conjunto com a UFMG, a Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, que reuniu em Belo Horizonte, além de poetas mineiros, nomes como os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Roberto Pontual e Paulo Leminski. A iniciativa é uma das mais emblemáticas da profícua parceria do poeta com a Universidade e será lembrada durante a Jornada Affonso Ávila – 90 anos, que o Acervo de Escritores Mineiros da UFMG, com apoio da Faculdade de Letras (Fale), vai realizar no dia 24 de outubro, no campus Pampulha. A celebração do aniversário de nascimento inclui ainda exposição sobre a vida e a obra de Ávila e concursos de fotografia e apresentação de poemas.
O objetivo é chamar a atenção para o legado de Affonso Ávila, reconhecendo seu lugar na cultura brasileira, diz Kaio Carmona, que tem o poeta como objeto de seus estudos de pós-doutorado na UFMG. “Ele é uma das vozes que merecem mais atenção por parte da crítica e dos estudos acadêmicos. Queremos também convidar leitores a conhecer melhor sua obra”, afirma o pesquisador, que organiza o evento ao lado da professora Myriam Ávila, filha do homenageado, e do professor Rômulo Monte Alto, ambos da Fale.
Wander Melo Miranda e Eneida Maria de Souza, docentes aposentados da UFMG, e a historiadora Cristina Ávila, outra filha de Affonso, vão integrar a primeira mesa do evento, para abordar a obra de Ávila sob o viés de sua participação na vida pública e cultural do país. No segundo encontro, Kaio Carmona vai se juntar a Carolina Tomasi e Rafael Lovisi Prado para lançar olhar mais detido sobre a poesia de Affonso Ávila, com foco na atualização de sua fortuna crítica.
Plasticidade na folha em branco
Wander Melo Miranda ressalta que poucas pessoas estudaram tão bem o Barroco. “Para seu encontro com os concretistas, Ávila levou sua experiência com esse estilo artístico. Ele incorporou essa tradição à poesia visual e retomou a plasticidade do Barroco no espaço da folha em branco”, afirma Wander, lembrando que uma das parcerias mais marcantes de Affonso Ávila com a UFMG foi a publicação da Revista Barroco.
Kaio Carmona destaca a capacidade de Ávila, tanto em seus estudos críticos quanto em sua poesia, de fazer dialogar a tradição e a vanguarda. “Em um trabalho intenso e transformador, ele promoveu constante experimentação linguística. Seu leitor percebe um poeta atento às mudanças sociais, históricas e culturais”, afirma. Ainda de acordo com Carmona, toda a obra de Affonso Ávila revela “um projeto bem pensado” e seu apreço pela “criação crítica”. “Sua produção suscita interesse de áreas diversas, além das letras, como a história e a arquitetura”, completa o pesquisador, citando obras como O açude e Sonetos da descoberta, Código de Minas, Poeta poente e Égloga da maçã. Em 1991, Ávila ganhou o Premio Jabuti com O visto e o imaginado; em 2007, com Cantigas do falso Alfonso el Sabio.
O Acervo de Escritores Mineiros abriga a biblioteca, documentos, cartas, fotografias e objetos de Affonso e sua mulher, a também poeta Laís Corrêa de Araújo. O artista e pesquisador também colecionou obras raras relativas ao período colonial brasileiro, que foram incorporadas ao acervo do Campus Cultural da UFMG em Tiradentes.
Concursos e exposição
Com acesso aberto ao público, a programação do dia 24 será no Auditório Bicalho, da Fafich, das 9h às 16h30. Após a segunda mesa, haverá a apresentação oral dos poemas e serão exibidas as fotografias vencedoras. Os concursos aceitam inscrições pelo e-mail concursoaffonsoavilA@gmail.com, até 19 e 20 de outubro, respectivamente, e o edital está disponível para acesso.
A exposição que integra a Jornada Affonso Ávila – 90 anos será inaugurada no dia 17 de outubro, às 18h30, e permanecerá até 14 de novembro, no Centro de Memória da Fale, que fica no segundo andar do prédio da unidade. Serão exibidos poemas, livros, fotografias e vídeos.