O desafio de publicar com qualidade
Ciclo de qualificação de editores de periódicos da UFMG será aberto com palestra sobre as novas regras adotadas pela SciELO
A discussão sobre entrada e permanência de periódicos no portal Scientific Electronic Library Online (SciELO), tema de palestra neste dia 20, no campus Pampulha, traz à tona uma série de questionamentos sobre as condições que o país oferece para comunicação da pesquisa científica. Ao abrir o 1º Ciclo de formação de editores da UFMG, Abel Packer, diretor e um dos criadores do *SciELO, vai falar sobre as novas regras que estão sendo adotadas pela mais importante base de dados da América Latina. Uma das mudanças diz respeito ao percentual mínimo de artigos em inglês em cada área do conhecimento; os periódicos estão orientados a “maximizar progressivamente a sua internacionalização”.
De acordo com o diretor de Produção Científica da Pró-reitoria de Pesquisa, professor Sérgio Cirino, o investimento no controle da qualidade das publicações é tendência mundial, à qual a Universidade está atenta. Política institucional lançada em 2015 reúne diretrizes que referenciam a diversidade de periódicos existente na UFMG, hoje abrigada em portal específico. “O ciclo tem o objetivo de capacitar os editores de periódicos científicos em temas como processos e ferramentas de editoração, critérios para entrada e permanência em base de dados, visibilidade e fator de impacto”, explica Cirino.
As próximas etapas do ciclo receberão convidados da Europa e dos Estados Unidos, para tratar de temas como internacionalização e acesso aberto. Outra iniciativa em andamento é a incubadora de periódicos, que oferece condições para o aperfeiçoamento do trabalho de editores e grupos interessados em criar novas publicações. A intenção é que a incubadora identifique e colabore para aperfeiçoar aspectos como indexação, disposição de informações e atualização do site dos periódicos. A palestra de Abel Packer é aberta ao público e será realizada das 14h às 17h, no auditório da Reitoria.
Apoio institucional
O Portal de Periódicos da UFMG reúne 62 publicações, dez das quais indexadas no SciELO. Segundo Sérgio Cirino, as revistas formam um conjunto muito heterogêneo, daí a necessidade de formação e qualificação das equipes. Outro fator fundamental é o apoio de departamentos e programas de pós-graduação, para que os periódicos se fortaleçam e atendam aos critérios de entrada e permanência em bancos de dados relevantes.
Editor do periódico Educação em Revista, da Faculdade de Educação (FaE), o professor Geraldo Leão comemora a recente conquista de liberação parcial dos encargos didáticos dos dois editores-chefes, para que se dediquem às atividades do periódico. E acrescenta que isso resulta de um movimento que está em curso, na FaE, de fortalecimento do “lugar institucional” da Revista, classificada com a nota máxima – Qualis A1 – pela Capes. “Em geral, esses periódicos surgem e se mantêm por iniciativas de professores. O ideal é que a atividade seja reconhecida como uma resposta à demanda da instituição”, pondera.
O ideal é que a atividade seja reconhecida como uma resposta à demanda da instituição
Geraldo Leão demonstra preocupação com o financiamento dos periódicos que não são mantidos por sociedades de pesquisa, em especial na atual conjuntura brasileira. “No último edital do CNPq não fomos contemplados, devido ao corte de verbas, e nosso projeto financiado pela Fapemig se encerra agora”, informa. Com relação ao movimento de intensificação da internacionalização proposto pelo SciELO, Leão questiona a capacidade dos periódicos das áreas de ciências humanas e sociais para arcar com os custos de edição bilíngue. O professor cita carta aberta da Associação Nacional de Pós-graduação em Ciências Sociais (Anpocs), de dezembro passado, que indica como alternativa “responsabilizar os autores pela revisão de seus textos ou pela contratação de serviços de baixa qualidade, comprometendo o controle sobre a integridade dos textos publicados”. Ele reconhece a tendência de internacionalização, que pressupõe a capacidade de divulgar em língua inglesa, mas pondera: “O problema é quando isso é posto como uma política que não considera as especificidades, sobretudo nas ciências humanas, cuja interlocução é principalmente com a América Latina.”
O professor Fausto Borém, editor da Per Musi, outra revista da UFMG classificada como Qualis A1 e indexada no SciELO, considera fundamental a ampliação das publicações em inglês para a visibilidade internacional dos pesquisadores brasileiros. Como a maioria dos autores escreve em português, ele prevê uma redução no número de submissões, mas crê que, em pouco tempo, os autores se habituarão a essa exigência. “Ela também pode funcionar como filtro natural para a qualidade desejada e redução do pesado trabalho dos editores”, diz.
Além da comunicação com os autores, os editores cuidam de etapas como tradução, revisão, editoração e adaptação a formatos das plataformas digitais.
*A biblioteca virtual SciELO teve início no Brasil em 1998 e abriga atualmente periódicos científicos de 16 países – 13 na América Latina, além de Espanha, Portugal e África do Sul. Em livro organizado em comemoração aos 15 anos do portal, Abel Packer explica que o SciELO foi concebido como projeto e estratégia para superar o fenômeno conhecido como ‘’ciência perdida’’, caracterizado pela fraca presença de periódicos de países em desenvolvimento nos índices internacionais.