O futuro entre diferentes elos holísticos
Os primeiros agrupamentos humanos na luta diária pela sobrevivência eram holísticos e necessitavam de uma compreensão do todo para viver. Foi assim no começo da história da humanidade, quando homens das cavernas quebravam nozes com o uso da pedra. Essa visão holística era indispensável para a harmonia do grupo no processo de busca por alimentos e abrigos, nas estratégias de sobrevivência e na procura de novos territórios. Naquela época, o equilíbrio da natureza era supremo, e a dependência que se tem dela, reconhecida. Mas a história mudou, e o homem, no exercício da intelectualidade e da cultura que o diferencia dos demais seres vivos, inventa a técnica, a manufatura, a complexidade existencial e vai se afastando, cada vez mais, do holismo como paradigma, tornando-se gradativamente cartesiano. Assim, métodos rudimentares foram sucedidos por múltiplas criações e invenções, a exemplo do quebra-nozes em substituição à pedra como instrumento.
Sabe-se que qualquer sociedade encontra-se alicerçada em determinados paradigmas, que moldam as concepções e premissas educacionais contemporâneas. Cabe questionar se esses paradigmas são positivos ou negativos e como atuam na percepção e concepção de mundo. Lamentavelmente, as bases que sustentam a atual coletividade encontram-se sedimentadas no paradigma hegemonicamente capitalista. Em tempos sombrios de clamores estranhos, urge repensar a articulação entre as pessoas e promover elos holísticos de integração dos diferentes atores que edificarão o futuro. A educação se insere como palco histórico de resistências. Sim, educar é ato conjunto entre família, escola e sociedade, que se articulam em uma rede complexa. Os direitos humanos prevalecerão, ainda que em tempos de força física e rudez, em que insanos clamam pela militarização e pelo armamento das pessoas. Esse é o grito pela tessitura de um novo homem, livre e autor de sua própria história e destino.
A elite, porém, num golpe contínuo, busca retomar o controle de uma sociedade que estava se refazendo e melhorando. Nos tempos atuais, a hierarquização e a especialização descem “goela abaixo” no patético discurso do “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. Em diferentes instituições, desconstruções são arquitetadas, e novos destinos, decididos pela figura clientelista e paternalista do “chefe”. Mudanças de setores, alterações de horários e outras ações desmobilizam forças que se desdobravam no verdadeiro sentido de coletividade. As verdadeiras intenções são desmascaradas com discursos inflamados de “ordem na casa”, “contenção de gastos” e “corte de privilégios”. Isso, no entanto, tem um único resultado: os sonhos de uma nova ordem social estão se tornando pesadelos. E ninguém quer dormir nesta noite sombria de armas.
Absurdamente, o noticiário registra que um baiano foi brutalmente morto por declarar abertamente sua opção de voto em um ambiente de democracia. Verifica-se que os termos “porrada”, “tiro” e “bomba” tornaram-se mais que música deturpada entre seres alienantes. Os que se julgam “poderosos” comemoram. Isso traduz o fim dos tempos ou o projeto de sociedade “deu pau”? Eis que novamente a educação se projeta, com vistas a mudar os atuais discursos míopes. Há diferentes sujeitos que se complementam no âmbito escolar: o professor, o aluno, o orientador, o supervisor, o regente, o secretário, o inspetor, o assistente, o auxiliar, o bibliotecário, o contador, o diretor. Todos deveriam se articular na construção de uma educação emancipadora com equidade e qualidade, porém a distinção entre funções cria abismos. O perigo iminente no âmbito do paradigma vigente não é percebido nem problematizado no contexto educacional.
A renovação da sociedade fundamenta-se no paradigma holístico, que, por sua vez, representa um conjunto de pensamentos sistêmicos e globais que propiciam soluções para problemas locais. O holismo contempla uma visão ampla dos elementos culturais, físicos, naturais e sociais do sistema. No paradigma holístico, as interações das partes compõem o todo. Por isso, percepções e reflexões coerentes incentivarão a caminhada e orientarão a ação individual e coletiva na perpetuação de ambientes saudáveis. Um futuro melhor resulta de um presente com ações responsáveis, construído de forma articulada entre os seres que habitam o planeta.
Os atuais cenários trazem novas percepções e reflexões sobre índices de qualidade de vida associados a valores humanos exterminados em nome de um progresso dominador e excludente. Nota-se que a coletividade tem perdido, em seu processo de avanço e expansão, a verdadeira essência humana em suas várias manifestações, sejam elas individuais, sociais ou planetárias.
Mas será possível aos seres humanos viver com qualidade sem respeitar o direito à vida dos demais seres? Que novos paradigmas e percepções orientem o fazer pedagógico por meio do elo entre os sujeitos por ele responsáveis. Um futuro eloquente, participativo e democrático poderá ser vislumbrado assim que a união e a verdade prevalecerem, e o discurso de ódio e intolerância se desfizer.