Boletim
Inverno, aos 50
Cinco décadas de resistência
Festival de Inverno da UFMG reforça seu caráter experimental e acadêmico na edição em que comemora 50 anos de fundação
A exemplo das edições de 2014, 2015 e 2016, o 49º Festival de Inverno será realizado neste ano em diferentes espaços da UFMG em Belo Horizonte, consolidando sua identificação com a capital mineira. As atividades desta edição – comemorativa dos 50 anos de sua fundação – vão se dividir entre a Praça Duque de Caxias, no bairro Santa Tereza, a Praça da Liberdade, na Savassi, o Conservatório, no centro, e a Faculdade de Letras, a Escola de Belas Artes, o Teatro Universitário, a Escola de Música, a Praça de Serviços e o auditório da Reitoria, no campus Pampulha. Toda a programação do evento é gratuita, inclusive as oficinas e minicursos.
Um grande palco será montado nas proximidades da Reitoria para alguns espetáculos artísticos – como um show de Mônica Salmaso, que cantará a obra de Vinicius de Moraes no dia 2, às 19h30, e a cantata cênica Carmina Burana, montada pelo Núcleo de Música Coral da UFMG. Na cantata, que mistura música, teatro e dança, são executados ao vivo o coral, a percussão e os pianos. O espetáculo será encenado na segunda-feira, 31 de julho, às 19h30.
Paralelamente, alguns espetáculos serão apresentados no auditório da Reitoria. Uma dessas atrações é o sarau De tempos somos, em que o Grupo Galpão, em proposta experimental, foge justamente do rótulo “espetáculo” para explorar um formato artístico festivo, misturando canto e poesia, música e teatro. A apresentação ocorre às 20h do dia 28 de julho, sexta-feira, na abertura do evento. Uma semana depois, na noite do encerramento do Festival, dia 5, o mesmo espaço receberá a Companhia Brasileira de Teatro, que vai apresentar o espetáculo Isso te interessa?, sob a direção de Marcio Abreu.
Em razão do cinquentenário, a curadoria desta edição se esforçou para incluir na programação representações dos grupos que nasceram no âmbito do Festival. Além do sarau do Grupo Galpão, haverá uma oficina de Paulo Santos, cofundador do Grupo Uakti, e outra de Ione de Medeiros, do Grupo Oficcina Multimédia.
Longevidade
A atual edição é comemorativa dos 50 anos da criação do Festival, que estreou em 1967, em Ouro Preto, e cumpriu temporadas em Diamantina, São João del-Rei, Poços de Caldas e Belo Horizonte, antes de desembarcar definitivamente na capital mineira, em 2014. “É o mais longevo Festival do país. Ele também se destaca por ser financiado pelo próprio plano orçamentário da Universidade”, explica a professora Leda Maria Martins, diretora de Ação Cultural. A DAC é a responsável na UFMG pela organização do Festival.
Leda lembra que, mesmo quando contou com patrocínio externo, o evento conseguiu manter sua independência curatorial, não se submetendo aos ditames do mercado da cultura e à sua tendência ao espetaculoso. “O Festival é um evento não apenas de criação artística, mas também de experimentação e de formação. Na UFMG, ele é considerado uma atividade acadêmica”, explica a diretora.
Em razão da data, coordenação e curadoria buscaram para esta edição um tema que representasse uma marca permanente do Festival – daí a escolha do mote Criação e resistência: poéticas da transformação. “Estamos falando da resistência a todas as intempéries por que o Festival passou, desde a falta de dinheiro até a opressão da ditadura”, reitera a professora Mônica Medeiros Ribeiro, coordenadora geral do evento. Em razão dessa temática, toda a programação do Festival está de alguma forma atravessada pela reflexão sobre o caráter político da arte, ou melhor, sobre o processo e a ação artística como processo e ação de resistência política.
O 49º Festival de Inverno da UFMG abrigará três minicursos, 19 oficinas e seis aulas abertas, que resultarão em 24 classes – além de residências artísticas, novidade desta temporada, que retomam tradição das primeiras edições do evento.
Casa para a arte
Neste ano, o Festival de Inverno abrigará duas residências artísticas – uma sobre música e outra sobre teatro de bonecos de balcão. Elas vão possibilitar que artistas residentes convivam por oito dias, durante oito horas por dia, com um artista convidado de grande experiência e renome.
A aposta é que dessa convivência resulte a produção de um trabalho ou exercício artístico orientado e experimental. “Dentro das atuais possibilidades financeiras, nós nos perguntamos como poderíamos retomar a característica imersiva que o Festival tinha no passado – seja pelo tempo que as pessoas passavam no evento, que durava um mês inteiro, seja por ele ocorrer em cidades menores, que condensavam a experiência”, diz Mônica. “A residência foi a forma que encontramos de nos reaproximar dessa característica que o evento tinha no passado.”
A residência Oficina da música universal será ministrada pelo multi-instrumentista, compositor e arranjador paulista Itiberê Zwarg, que há 40 anos se apresenta com Hermeto Pascoal e mantém, há 20, uma profícua carreira solo. Já a residência Oficina de construção de bonecos de balcão será ministrada por integrantes do Grupo Giramundo, de Belo Horizonte, em mais uma atividade de um grupo cujo nascimento se relaciona diretamente com a história do Festival. Serão aceitos até 20 artistas em cada residência.
Em sua atividade, Itiberê vai desenvolver a escuta de seus residentes como ferramenta de produção musical, além de trabalhar o talento de cada participante no contexto coletivo de criação – sempre no trânsito entre o erudito e o popular. Já na residência do Giramundo serão trabalhados os métodos de desenho de projetos desenvolvidos por Álvaro Apocalypse, um dos criadores do grupo. Na atividade, os participantes poderão desenvolver seus próprios bonecos.
Frutos acadêmicos
Ao menos duas teses já foram escritas na UFMG tendo o Festival de Inverno como tema. Em 2011, Fabrício Fernandino defendeu, na Escola de Belas Artes, o trabalho 20 anos do Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais: 1967 a 1986.
Antes, em 2007, Guilherme Paoliello já havia defendido o trabalho A circulação da linguagem musical: o caso da fundação de educação artística (FEA-MG), na Faculdade de Educação. Na tese, Paoliello discute a circulação da linguagem musical – seja via escolarização, seja via produção cultural – no Festival, considerando também as suas duas primeiras décadas, período em que o Festival se consolidou como evento que coaduna ensino, pesquisa e extensão. Os dois trabalhos estão disponíveis para consulta na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG.