Conexão francesa
Grupos do ICB se associam a laboratório da França especializado em bacteriologia molecular, bioinformática, imunologia e genômica
Encontro de grupos de pesquisa franceses e do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) realizado na semana passada, no Centro de Atividades Didáticas de Ciências Humanas (CAD 2), materializou a criação do primeiro Laboratório Internacional Associado (LIA), do Institut National de la Recherche Agronomique (INRA), da França, em um país sul-americano.
Pelo modelo de parcerias do instituto francês, o LIA formaliza colaboração internacional de longo prazo em função de um projeto científico comum, com duração de cinco anos, renovável por igual período.
A rede de pesquisa, constituída por meio de laboratórios associados, tem os objetivos de promover intercâmbios e encontros de cientistas, compartilhar conhecimentos e novas ferramentas de investigação e treinar jovens pesquisadores, criando condições para aumentar colaborações multilaterais e para oferecer respostas eficientes a chamadas de projetos. Unidades do LIA estão instaladas também na China, no Canadá, no México e no Japão.
“Na prática, o evento lançou o projeto Bactéria – Inflamação (Bact-Inflam), que busca desenvolver novas estratégias terapêuticas e alternativas aos tratamentos alopáticos para controle de doenças inflamatórias”, explica o coordenador do LIA brasileiro, Vasco Azevedo, professor dos programas de pós-graduação em Genética e Interunidades de Bioinformática.
A estratégia adotada pelo Bact-Inflam inclui caracterização de processos de inflamação e das bactérias neles envolvidas, determinação da composição de microbiota associada a órgãos inflamados ou saudáveis, identificação de espécies marcadoras, caracterizando-as nos níveis celular e molecular, validação em modelos animais e desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas, com base no uso de bactérias imunomoduladoras ou compostos bacterianos. Esse trabalho tem o objetivo de identificar determinantes bacterianos envolvidos em processos pró ou anti-inflamatórios associados a doenças crônicas inflamatórias intestinais (CID) e mastites em animais domésticos, e caracterizar processos inflamatórios em modelos de glândula mamária e intestino.
Intercâmbio franco-brasileiro
O LIA formaliza a relação entre as organizações parceiras, por meio de contrato sobre questões como direitos de propriedade intelectual e transferência de tecnologia, e estabelece um quadro oficial para o intercâmbio franco-brasileiro, especialmente para a criação de doutorados em forma de cotutelas.
Vasco Azevedo conta que o histórico desse relacionamento remonta a 1993, quando concluiu doutorado em genética de microrganismos pelo Institut National Agronomique Paris Grignon. Em 1998, já docente da UFMG, promoveu, no ICB, simpósio sobre novas utilizações de bactérias lácteas. A parceria institucional, que agora está sendo oficializada, começou em 2000 e já gerou publicações conjuntas.
Na última quinta-feira, dia 24, ainda dentro da programação do encontro, o pesquisador Leandro Benevides defendeu a tese de doutorado Comparative genomics of Faecalibacterium spp, que busca desvendar a genômica da bactéria Faecalibacterium prausnitzii. “Muito difícil de ser cultivada, já que morre em ambiente com oxigênio, essa bactéria tem potencial para uso em tratamento, seja em forma de cápsulas ou em transplante de fezes”, comenta Vasco Azevedo, que orientou o trabalho. Ele acrescenta que a linhagem pode ser usada como marcador, pois sua presença indica que o organismo está saudável. O estudo, inédito, foi desenvolvido no ICB em colaboração com o grupo francês e com a equipe do professor Siomar Soares, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.
O projeto franco-brasileiro envolve cinco grupos de pesquisa franceses do Instituto Micalis, as unidades de pesquisa conjunta para a Ciência e Tecnologia de Leite e Ovos (STLO) e o Laboratório de Interação de Bactérias Comensais e Probióticos com o Hospedeiro. Integram o LIA outros três laboratórios do ICB – Genética Celular e Molecular, coordenado por Vasco Azevedo, Imunofarmacologia, liderado por Mauro Teixeira, e Imunobiologia, chefiado por Ana Maria Caetano.
O braço francês do LIA é coordenado por Yves Le Loir, diretor da STLO e idealizador do Laboratório Internacional Associado, e por Jean-Marc Chatel, da Micalis. O papel do INRA Agrocampus Ouest Rennes equivale ao da Embrapa, no Brasil.
[Matéria publicada no Portal UFMG em 22/05/2018. Com Assessoria de Comunicação do ICB]