Refletir para enfrentar
A violência contra a mulher no Brasil mostra números assustadores e impressionantes. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o país registrou, em média, 135 estupros e 12 assassinatos de mulheres por dia em 2016. Podemos citar duas medidas que se destacam no enfrentamento à violência contra a mulher: a Lei Maria da Penha, de 2006, em que as mulheres passaram a ter outros espaços de acolhimento paralelo à punição dos agressores, e a Lei Federal de 2015, que define o feminicídio e transforma em hediondo o assassinato motivado pela condição de ser mulher.
A rede de enfrentamento à violência é de fundamental importância para a mudança do cenário atual. Aliado a ela, está o Instituto Albam, que trabalha com grupos reflexivos de gênero formados por homens que foram autuados na Lei Maria da Penha e, por isso, são obrigados judicialmente a participar de 16 encontros. Esses grupos, coordenados por uma psicóloga e um psicólogo, têm o objetivo de chamar os homens à responsabilização por meio da reflexão, tendo como estratégia principal de trabalho as discussões realizadas com base na narrativa dos próprios integrantes.
Uma das dificuldades desse trabalho é a grande resistência da maioria dos participantes que são obrigados a comparecer aos encontros e normalmente não enxergam a violência cometida no contexto das relações. Com o trabalho sobre as resistências e a visibilização de diferentes violências, os homens começam a repensar seus atos de violência e poder, suas relações e as formas como estavam conduzindo seus conflitos. Esse ambiente reflexivo é proporcionado por meio de discussões sobre diferentes temas, como masculinidades, violência, gênero, sexualidades, machismo, relações afetivas, uso e abuso de drogas, entre outros – todos permeados pela história de cada um dos integrantes. É perceptível o aproveitamento que os homens tiram desse espaço como algo significante – e ressignificante – em suas vidas, e são notáveis as mudanças de discursos e de comportamento, que variam de homem para homem.
É importante esclarecer que a proposta de intervenção em grupo com homens em situação de violência não representa única solução para o enfrentamento da violência contra a mulher, mas constitui fundamental possibilidade de mudança de paradigma. O grupo, como espaço de intervenção no contexto da Lei Maria da Penha, não se restringe à penalização e privação de liberdade dos homens, mas aposta na prática que pode promover mudanças subjetivas que possibilitam a cada sujeito reconhecer as violências cometidas e por elas se responsabilizarem. Isso permite a eles descobrir outras formas de masculinidades e perceber como seus atos reforçam formas hegemônicas de relações de gênero, levando-os a pensar em alternativas não violentas para a resolução de conflitos.
Leonardo Leite participa da última edição do ano do projeto Café Controverso, que põe em debate a violência contra a mulher. Por que a sociedade é tão violenta com as mulheres e quais as mudanças possíveis nesse cenário são alguns dos pontos que serão discutidos no evento. O Café ocorre neste sábado, 18 de novembro, às 11h, na cafeteria do Espaço do Conhecimento UFMG. A entrada é gratuita.