'Nós viemos da lama': pintura rupestre e simbologia da terra inspiram exposição no Centro Cultural
Inspirada no fazer artístico rupestre, a exposição Nós viemos da lama, não podemos morrer longe do rio, do artista Samuel Maria, reúne, no Centro Cultural UFMG, pinturas e produções que surgiram do protagonismo da terra.
Feita da extração de pigmentos do próprio chão, a pintura rupestre de Samuel resgata a importância do que é natural. As obras poderão ser vistas até 27 de outubro de 2024. A entrada é gratuita, e a classificação etária é livre.
"Quando falo de quem sou, antes de tudo falo que sou ribeirinho. Culturalmente e experiencialmente fui moldado pelo Rio Pomba, em Cataguases, e carrego no corpo e na memória as marcas da água, da terra, da vida na beira de um rio, com todo o amor e com toda a poética, mas também com todas as tristezas e mazelas. Cresci vendo o rio correr atrás de casa e, ano após ano, vendo-o entrar e alagar tudo", relata Samuel no texto de divulgação.
Olhar para quem somos
Em Nós viemos da lama, não podemos morrer longe do rio, Samuel vê a terra como protagonista do debate e retoma parte das primeiras formas do fazer artístico rupestre ao usar "as cores das terras que me fizeram para pintar a paisagem que me cerca, com todas as suas belezas e com todas as suas problemáticas". Os processos artísticos usados por Samuel também envolvem a produção da própria tinta. As obras apresentadas são fruto de uma pesquisa sobre as cores da terra da Serra do Curral, em Belo Horizonte.
Samuel Maria pesquisa as cores das terras mineiras e suas possibilidades artísticas, as relações socioambientais que envolvem o chão e os rios, o relevo e as características geográficas, e também o impacto da mineração sobre o solo e sua influência na transformação da paisagem local. "Olhar para a terra é também olhar para quem somos. Toda terra conta uma história, com as marcas que são dela, e toda pessoa carrega em si as cicatrizes do que foi. Quando falo da terra, falo do íntimo, das entranhas, das histórias que vivi na infância ao lado do rio, das coisas que me moldaram, mas também falo de um povo, do povo ribeirinho, dos que tiveram suas casas invadidas pelas águas, que são usadas pelo sistema capitalista como mercadoria", reflete o artista.
Trajetória
Samuel Maria, artista visual natural de Cataguases, interior da Zona da Mata mineira, é graduando em Artes Visuais na Escola de Belas Artes da UFMG. Sua pesquisa percorre a intimidade com as paisagens mineiras, as cores das terras da região e a ligação intensa com o Rio Pomba, que margeia a casa em que cresceu. Dos trabalhos recentes, destacam-se o Prêmio Barueri de Artes Visuais, em 2023, na categoria Pintura, a exposição individual Sabiá, no Centro Cultural Humberto Mauro, em Cataguases, em 2023, a coletiva no 18º Salão Municipal de Artes Plásticas de João Pessoa, em 2024, e ainda as residências artísticas com o grupo Imaginação Comum, Ecologia Insurgente na Cidade Organismo, também neste ano, e Imersão de Criação, em 2023.