Estudantes da Lecampo e da Fiei se hospedam em hotel do Sesc em BH
UFMG recebe alunos de comunidades rurais e indígenas por um mês a cada semestre; estrutura em Venda Nova tem espaço e princípios apropriados para esses grupos
Estudantes vinculados à Formação Intercultural de Educadores Indígenas (Fiei) e à Licenciatura em Educação do Campo (Lecampo), cursos ministrados na Faculdade de Educação (FaE) da UFMG, passaram a se hospedar, neste ano, no Hotel Sesc Venda Nova, em Belo Horizonte.
Desde 24 de junho, 76 alunos do Lecampo estão no hotel. Em abril e maio, cerca de 130 educadores indígenas passaram lá sua temporada de cinco semanas de estudos na UFMG. Os estudantes de ambos os cursos seguem o regime de alternância, com atividades intensivas na FaE e um período maior no próprio território, com acompanhamento de docentes que se deslocam de Belo Horizonte.
O acordo com o Sesc prevê tarifas especiais, compatíveis com o orçamento da Universidade para essa finalidade, vagas para todos os estudantes – isso é possível porque a estada dos alunos dos dois cursos não é concomitante –, café da manhã e acesso às facilidades franqueadas aos outros hóspedes, como os equipamentos de lazer.
“Encontramos uma alternativa de hospedagem com ambiente que lembra o do campo e segue princípios fundamentais pra nós, da UFMG, como o respeito à diversidade, aos direitos humanos e à identidade étnica e racial. Já podemos dizer que a experiência iniciada com o Sesc é positiva”, afirma a pró-reitora de Assuntos Estudantis, professora Licinia Correa.
A pró-reitora acrescenta que o hotel cedeu seus espaços ao ar livre para uma versão reduzida dos tradicionais jogos indígenas, ofereceu aos estudantes a possibilidade de exposição e comercialização de adereços e produtos da cultura indígena em uma feira local e antecipou o serviço de café da manhã para conciliar com o início da primeira aula no campus Pampulha.
“Estamos muito satisfeitos, encontramos um espaço qualificado para abrigar os grupos dos cursos em regime de alternância da Faculdade de Educação. Nos períodos de estudos no campus Pampulha, esses estudantes precisam de conforto, de descanso adequado e de um ambiente amplo, próximo à natureza, que reúna características minimamente parecidas com as de suas comunidades de origem”, ressalta o vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira. Ele lembra que a Universidade já iniciou estudos visando à construção de uma moradia indígena, que vai atender tanto os estudantes que passam todo o tempo acadêmico em Belo Horizonte quanto os da Fiei e da Lecampo, que passam temporadas mais curtas.
Árvores e pássaros
Coordenadora da Lecampo, a professora Ana Paula Giavara revela que os primeiros relatos dos estudantes dão conta da boa acolhida por parte de funcionários de diversos setores do Hotel Sesc Venda Nova e dos outros hóspedes.
“Eles estão muito satisfeitos. Vêm de regiões como o Norte de Minas e o Vale do Jequitinhonha, e no hotel têm contato com a natureza, há muitas árvores e pássaros. Eles fazem trilhas e foram convidados para a festa junina. Sentem-se integrados”, afirma a professora da FaE.
Os estudantes indígenas têm necessidades específicas, como realizar rituais de suas culturas e, em alguns casos, abrigar filhos e os respectivos cuidadores. Algumas lideranças também vêm a Belo Horizonte e se hospedam com os educadores. Em relação a esses dois aspectos, eles foram bem atendidos na temporada mais recente em BH.
“Encontramos uma ótima alternativa, enquanto ainda não temos as moradias indígenas, um desejo antigo”, afirma a coordenadora da Fiei, professora Vanessa Tomaz. Ela frisa que ter o grupo todo no mesmo lugar possibilita realizar os rituais e os trabalhos acadêmicos.
O esforço bem-sucedido da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis em fechar um acordo com o hotel do Sesc configura, segundo Vanessa, mais uma ação institucional de inclusão promovida pela UFMG. “O que mais me sensibilizou foi o respeito com que os educadores indígenas foram tratados. Sentiram-se tão bem que aceitaram mudar para outubro o tempo-escola para o próximo semestre, porque o hotel não tinha disponibilidade para setembro”, ela relata.
A analista de eventos do Hotel Sesc Venda Nova, Inês Barbosa, ressalta que a causa que move a presença dos estudantes indígenas se concilia perfeitamente com os valores do Sesc, como valorização da educação, respeito à diversidade e foco no acolhimento. “Já podemos dizer que a experiência desse primeiro semestre foi bem-sucedida. A convivência flui muito fácil, e a logística é favorável, já que o hotel fica relativamente próximo ao campus Pampulha”, comenta Inês. Ela informa que o local vai receber em breve intercambistas estrangeiros da UFMG.
'Relaxar e descontrair'
Aos 24 anos, natural de Capelinha, no Vale do Jequitinhonha, Larissa Miranda de Oliveira está concluindo o quarto período da Lecampo. Representante do grupo de sua turma que cuida de moradia e finanças, ela conta que os estudantes reivindicavam havia algum tempo um novo local de hospedagem. “Nossa rotina de estudos no campus Pampulha é desgastante, com aulas o dia inteiro, de segunda a sexta, e ainda nas manhãs de sábado. A gente precisava de um espaço em que pudéssemos relaxar, descontrair”, ela diz. “No hotel do Sesc, ficamos em chalés confortáveis e usamos piscinas e quadras. E ainda podemos organizar piqueniques e churrascos.”
Integrante de uma família de agricultores familiares que vive em um povoado a 10 quilômetros do centro de Capelinha, Larissa elogia a receptividade dos funcionários, os serviços e o espaço amplo de que o grupo pode usufruir. "No hotel, não nos sentimos aprisionados como passarinhos dentro da gaiola”, compara a estudante, que cursa a habilitação em língua, artes e literatura no âmbito da Lecampo.