Grupo da UFMG identifica 25 novos aglomerados estelares
Na contramão da maioria dos astrônomos, que recorrem à inteligência artificial, pesquisadores do Departamento de Física trabalham supervisionando cada passo do processo
Com base na análise de dados e imagens do céu obtidas pelo satélite Gaia, da Agência Espacial Europeia, o doutorando Filipe Ferreira Andrade, do Programa de Pós-graduação em Física da UFMG, identificou e caracterizou 25 aglomerados estelares inéditos. Os resultados da descoberta foram publicados neste mês no periódico MNRAS (sigla para Monthly Notices of the Royal Astronomical Society), que é referência mundial na área da astrofísica.
De acordo com Filipe Andrade, a missão Gaia fornece os movimentos próprios de cada estrela e os ângulos de paralaxe [diferença na posição aparente de um objeto visto por dois observadores em pontos diferentes], usados para calcular distâncias no espaço. “Em um aglomerado, as estrelas que nasceram simultaneamente na mesma região do espaço têm características físicas semelhantes e movimentos próprios muito parecidos”, explica.
Os primeiros dados da missão foram divulgados em 2018, quando Filipe Ferreira iniciava seu doutorado. Na ocasião, o estudante e seus orientadores, os professores Wagner Corradi e João Francisco Coelho dos Santos Jr., estudavam o aglomerado NGC 5999, na direção da constelação de Norma. Após a aplicação de critérios de seleção nos dados obtidos pelo satélite, que possibilitam separar as estrelas do aglomerado do restante dos objetos na linha de visada, os cientistas notaram a existência de três novos aglomerados, batizados de UFMG 1, UFMG 2 e UFMG 3.
“Aquela primeira descoberta foi por acaso. Dessa vez usamos a mesma metodologia e estendemos a investigação para outras regiões da galáxia, com o objetivo de procurar novos aglomerados”, relata Filipe Ferreira. Ao longo do ano passado, os pesquisadores encontraram 59 candidatos a novos aglomerados. “Para provar cientificamente o ineditismo da descoberta, é necessária uma metodologia robusta, comparações com outros objetos e busca na literatura. Após essa pesquisa, concluímos que 25 aglomerados nunca haviam sido reportados”, explica o doutorando.
Segundo Filipe Ferreira, embora apenas 25 novos grupamentos tenham sido registrados com exclusividade, todos os 59 foram mantidos na publicação, já que a equipe de pesquisadores, que também reúne os professores Francisco Maia (UFRJ) e Mateus Angelo (Cefet-MG), fez uma caracterização inédita de suas propriedades astrofísicas.
Homem vencendo a máquina
Segundo o professor Wagner Corradi, que atualmente é diretor do Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA), muitos cientistas estão usando computadores programados com inteligência artificial para encontrar aglomerados estelares. “Nós preferimos trabalhar com a supervisão humana de cada passo do processo, e nossa metodologia mostrou-se mais eficiente”, orgulha-se.
O professor usa a comparação com “grupos de pessoas” para explicar o método de identificação dos aglomerados estelares. De acordo com Corradi, é muito difícil distinguir os grupos, pois estão imersos em campos com milhões de estrelas. “É como se, em uma cidade como Belo Horizonte, você tivesse de encontrar um grupo de irmãos. As únicas informações disponíveis são a distância deles até você, o fato de andarem juntos, terem aproximadamente a mesma idade e algumas características físicas em comum”, ilustra.
Segundo o professor, os cientistas vão criando formas de “filtrar essas pessoas”, eliminando as que não estão muito próximas do grupo e as que se movem com velocidades diferentes. “Mesmo depois de achado o grupinho, ainda é preciso descobrir quem é só um vizinho, um amigo, ou alguém que nasceu por ali, mas não é daquela família”, completa.
A importância da técnica, de acordo com Wagner Corradi, está no fato de ela poder ser usada em outras situações, contribuindo para o desenvolvimento tecnológico do país. “Para a UFMG, nem o céu é o limite!”, brinca o professor.