Roda de conversa debate psicologização do adoecimento de mulheres
Com análise da música ‘Triste, louca ou má’, pesquisadoras abordaram os processos relacionados à violência de gênero; atividade integrou a Semana de Saúde Mental
“Triste, louca ou má. Será qualificada. Ela quem recusar. Seguir receita tal.” Com essas palavras, a banda Francisco, el Hombre inicia a letra de Triste, louca ou má, composição que foi analisada na manhã desta sexta-feira, dia 19, em mesa-redonda que integrou a 9ª Semana de saúde mental da UFMG. Por meio da análise da canção, os participantes debateram o papel da psicologia frente às lutas por equidade de gênero e pelos direitos das mulheres, destacando a luta antimanicomial e a extrema necessidade de se considerar os marcadores sociais, como o gênero, na problematização das discussões.
A pesquisadora Amanda Gontijo, do Departamento de Psicologia, iniciou as discussões destacando que há um estigma sobre as mulheres que são consideradas “problemáticas” por tentarem romper com as normas sociais. “Essas mulheres passam a ser vistas como detentoras de condições patológicas quando rompem com aquilo que é esperado delas. Daí a importância de abordar como o atendimento psicológico e clínico pode ser usado para acolher e entender essas mulheres e as suas subjetividades. Elas são tachadas de nervosas e histéricas quando denunciam situações de submissão”, disse.
A professora do Departamento de Psicologia Ingrid Gianordoli-Nascimento acrescentou que a mulher só consegue ser respeitada em sua queixa quando ela é patologizada. Assim, a patologização se torna algo contraditório porque, “ao mesmo tempo que é perversa, produz a condição necessária para que a mulher seja ouvida em suas queixas. Há, tradicionalmente, a ideia das mulheres como pessoas nervosas, e isso é patologizado pelos médicos, pelo sistema de saúde e pela própria mulher. O sofrimento delas acaba marcado pelo gênero”, afirmou.
Armadilhas da psicologização
Ingrid defendeu que os profissionais da psicologia estejam atentos às armadilhas da psicologização excessiva, evitando colocar toda a responsabilidade no indivíduo e desconsiderando as dimensões estruturais e sociais que perpetuam a violência de gênero. “Um ponto crucial é entendermos como as mulheres devem ser acolhidas. A escuta reproduz e incentiva as práticas que marginalizam a mulher, colocando-a como culpada. Daí a importância de se pensar em novas abordagens.”
A professora destacou a necessidade de adotar uma abordagem integrada, que transcorra em parceria com outros profissionais e áreas de conhecimento, como a sociologia, o direito e o ativismo feminista. “Os determinantes sociais, culturais e estruturais devem ser considerados quando se abordam essas questões, pois a abordagem mais ampla e múltipla contribui para a luta pela equidade de gênero e pelos direitos das mulheres”, concluiu.
Conheça mais sobre o estudo desenvolvido pela pesquisadora Amanda Gontijo e pela professora Ingrid Gianordoli-Nascimento em reportagem veiculada pela Rádio UFMG Educativa: