Boletim

Nº 1938 - Ano 42 - 01.05.2016

Uma nova graduação

Novos caminhos para a formação

UFMG começa a discutir a reestruturação de seu ensino de graduação; proposta inclui novas formas de acesso e percursos

Nesta segunda-feira, 2, abre-se formalmente o processo de discussão de possíveis mudanças nas normas que regem os cursos de graduação na UFMG. A proposta será apresentada pelo reitor Jaime Ramírez e pelo pró-reitor de graduação, Ricardo Takahashi, a coordenadores e integrantes de órgãos colegiados das unidades acadêmicas, em reunião no Centro de Atividades Didáticas de Ciências Naturais (CAD 1), a partir das 14h. A intenção, segundo o reitor, é debatê-la com toda a comunidade e iniciar sua implantação, a partir de 2017, em caráter piloto. A proposta, concebida pela Pró-reitoria de Graduação, terá repercussões nas formas de ingresso e de percursos dos estudantes. “A reestruturação da graduação é central para este Reitorado. Vai exigir grandes esforços, no sentido tanto de encaminhamento quanto de articulação com as unidades, colegiados de cursos, docentes, enfim com toda a comunidade”, pondera.

Todos podem colaborar com a discussão. Desejamos saber se as ideias apresentadas são consideradas pertinentes e receber contribuições

Jaime Ramírez comenta que a nova proposta procura oferecer ao estudante mais opções de percursos, de forma a consolidar o cenário que vem se configurando há algum tempo na Universidade. “Conseguimos evoluir na proposta de uma formação transversal, com carga horária de 360 horas, que possibilita ao estudante dispor de um conjunto de atividades não ministradas exclusivamente em sua unidade de origem. Outro ganho é a formação em extensão, processo em que a Universidade valoriza e reconhece atividades de extensão no percurso acadêmico do aluno”, exemplifica. Na mesma linha, outra iniciativa é a formação avançada, que possibilita aos estudantes de graduação de períodos mais adiantados também cursar disciplinas da pós-graduação que serão consideradas para efeito de integralização curricular.

A partir da apresentação formal da proposta, a comunidade terá um prazo para se manifestar. “Todos podem colaborar com a discussão. Desejamos saber se as ideias apresentadas são consideradas pertinentes e receber contribuições”, afirma Ricardo Takahashi. Em linhas gerais, a proposta sugere que os cursos passem a se organizar em entidades denominadas “estruturas formativas”. Os estudantes ingressariam nessas estruturas para cumprir os primeiros anos de formação e depois optariam por um dos cursos para receber uma formação mais especializada. A proposta também possibilita que o estudante monte seu percurso com uma formação principal em uma área e complementar em outra, podendo chegar até a dupla diplomação.

Efeito Sisu

A proposta comporta um cenário de migração progressiva dos cursos para o modelo proposto, na medida em que sejam criadas as condições adequadas em cada caso. Ela permite até mesmo que parte deles permaneça em seu formato atual. O pró-reitor de graduação explica que a necessidade de mudanças nas normas da graduação é antiga e ficou ainda mais evidente com a adesão da UFMG ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), devido ao alto índice de troca de cursos por estudantes recém-chegados à Universidade. “Com o funcionamento desse processo seletivo, constatamos que 7% das vagas que a UFMG ofertou foram para algum aluno que já estava matriculado em um de seus cursos de graduação e optou por outro”, comenta Takahashi. Se isso pode ser visto como uma reacomodação positiva, em busca de melhores caminhos, também significa ineficiência na ocupação de vagas, analisa o pró-reitor.

Graduação
Criação Cedecom / UFMG

Takahashi comenta que em 1990, quando a UFMG oferecia em torno de 40 cursos de graduação, “já era difícil para o aluno escolher, por exemplo, entre Engenharia Mecânica ou Engenharia Elétrica, por não entender a exata diferença entre um e outro”. Hoje, com 83 cursos diferentes – mais de 90 se considerados os noturnos e diurnos –, diminui a chance de um candidato identificar o curso que considere mais pertinente. Em sua opinião, isso explica em parte o processo de troca de cursos, somado a outros fatores, como a tendência crescente de os cursos se tornarem endogênicos, com disciplinas ofertadas em uma só unidade acadêmica e, muitas vezes, em um único departamento. “Esse processo que se caracteriza por currículos fechados leva à criação de novos cursos, cada vez que se detecta, por demanda do mercado, uma necessidade de outras formações”, analisa. 

Para Takahashi, não há razão de ordem epistemológica que determine a endogenia dos currículos. “Isso se dá, em grande parte, porque cada colegiado faz discussões independentes sobre as mesmas disciplinas, já que não existe uma instância comum em que isso seja tratado”, explica. O pró-reitor menciona outro fator para a ineficiência na ocupação de vagas: a baixa taxa de sucesso na implementação da flexibilização curricular adotada pela Universidade a partir de 1998, justamente com o intuito de evitar as formações restritivas. “A solução prevista àquela altura era permitir que estudantes fizessem percursos em outros cursos, para uma formação ampliada, personalizada e de certa forma individualizada. Isso se concretizou numa escala muito menor do que se pretendia”, constata.

Ana Rita Araújo