RELATIVIDADE GERAL: cem anos pegando ondas
A gravidade é, sem dúvida nenhuma, a interação mais conhecida pelo homem. É a causa do nascimento e da morte das estrelas e mantém os planetas girando em suas órbitas. Como funciona e por que está presente em fenômenos tão diversos é um trabalho de séculos.
Aristóteles, um dos mais influentes pensadores da Antiguidade, afirmava que todos os corpos tinham uma característica interna chamada ímpeto: quanto mais pesado é um corpo, mais rápido cai. Assim, ele criou um modelo de comportamento dos corpos em função da gravitação, aceito por grande parte dos estudiosos, até a aparição de Galileu Galilei, que pôs a observação metódica e a experimentação nos papéis de juízes supremos de toda teoria. Para Galileu, todos os corpos deveriam cair na mesma velocidade e com a mesma aceleração independentemente da sua massa.
Isaac Newton, com base nesse legado, chegou à teoria de gravitação universal, explicando como os fenômenos celestes e terrestres podem ser vistos como duas caras de uma mesma moeda. Apesar do sucesso de Newton, uma questão permanecia sem solução: como se transmitia a ação da gravidade? É nesse momento que emerge a Teoria Geral da Relatividade, publicada por Albert Einstein, em 1915. Einstein se dá conta de que o espaço não é um cenário imutável, mas um ator decisivo. Segundo sua teoria, as massas produzem uma deformação no espaço-tempo, da qual a gravitação é uma consequência.
Desde então, estudiosos tentam captar essas ondas. Em 1974, Russel Hulse e Joseph Taylor atribuíram a elas o mecanismo de perda de energia de um sistema em que um par de estrelas se aproximava rapidamente. Já em 2014, físicos que observavam a radiação cósmica de fundo fizeram o anúncio da detecção de ondas gravitacionais da época da formação do Universo. A euforia durou pouco, pois o sinal vinha de outras fontes que a luz da radiação atravessava no caminho até nós. As ondas só foram comprovadas em fevereiro deste ano, quando uma equipe do Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory (Ligo) confirmou a primeira detecção formal e o fim de uma busca de 100 anos.
Não se trata, porém, do fim do caminho. Os físicos continuam tentando entender como a gravidade atua em pequenas escalas, especificamente em busca de uma hipotética partícula chamada gráviton, peça que falta para se chegar a uma teoria unificada – o sonho de Einstein – , na qual o eletromagnetismo, as forças nucleares e a gravidade se comportam como uma só. Que implicações teria uma unificação das forças sobre a gravidade? Quais os limites de validade da Teoria da Relatividade? Como explicar a expansão acelerada do Universo e a relação com a energia escura? Essas e outras questões fazem da gravitação uma matéria fascinante para a imaginação e o trabalho das próximas gerações.
*Carlos Augusto Molina
* Diretor de astronomia do Planetário de Medellín