‘Quero viver pra ver qual é’
Atento ao aumento da expectativa de vida da população brasileira, programa desenvolve atividades focadas no envelhecimento ativo
A coisa mais moderna que existe nesta vida é envelhecer
(Verso da música 'Envelhecer', de Arnaldo Antunes)
Antes mesmo de se aposentar, Telma Kalil de Campos Alves Costa, de 67 anos, incluiu as aulas de dança de salão em seu horizonte de vida. “Amo dançar, pois é energia o tempo todo. Estabeleci alguns propósitos depois que parei de trabalhar. Primeiro, eu desacelerei em relação às atividades que sempre fiz, e não tenho mais horário para levantar e para pegar o ônibus. Você até pode me dizer que aqui também tem horário, mas a diferença é que é algo prazeroso”, comenta.
Sandra Cristina Rocha, 59 anos, participa de sessões de ginástica multifuncional, atividade que ajuda a combater os efeitos da Lesão por Esforço Repetitivo. “Eu vivia em médico ortopedista, reumatologista, fisioterapeuta e fisiatra. Aposentei-me por causa da L.E.R. Depois das atividades aqui eu não tive mais problema”, revelou.
Com propósitos tão distintos, Telma e Sandra são frequentadoras do Programa Envelhecimento Ativo, nascido neste ano na Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO). A iniciativa amplia as ações do projeto Educação Física para a Terceira Idade, que existe há mais de 25 anos, e leva em consideração a própria transformação do perfil etário da população brasileira – de acordo com o IBGE, a população com mais de 60 anos vai dobrar de tamanho até 2060, atingindo 32% do total dos brasileiros. A de crianças de até 14 anos, por seu turno, representará apenas 15%.
“Com o aumento da expectativa de vida dos idosos, é desejável que a qualidade de vida acompanhe esse processo. O programa estimula a parte biológica, por meio da prática regular do exercício, o aspecto psicológico, tanto cognitivo quanto comportamental, e até a reinserção social, já que nessa fase a pessoa tem seus contatos sociais reduzidos”, afirma o professor Franco Noce, coordenador do programa.
A iniciativa abre vagas no princípio de cada semestre para suas cinco modalidades: Educação Física para 3ª Idade, Inclusão Digital, Práticas Aquáticas, Ginástica Multifuncional e Dança e Qualidade de Vida. Elas são desenvolvidas de duas a três vezes por semana e atendem preferencialmente a pessoas acima de 45 anos. “No entanto, envelhecimento saudável pressupõe a adoção de hábitos adequados desde a juventude. Por isso, as práticas aquática e multifuncional também são abertas a pessoas entre 18 e 45 anos”, ressalta Franco Noce. Para iniciar as atividades, é indispensável que o participante faça uma avaliação médica, a fim de reduzir riscos.
Os exercícios são realizados na EEFFTO, que reúne ambientes diversificados e integrados, como quadras, salas de judô e dança, piscina, laboratório de informática e ginásio.
Coração alegre
A vida de Eduardo Sérgio de Figueiredo, 66 anos, adquiriu novo sentido com a prática da ginástica coletiva. “Ganhei equilíbrio, capacidade mental, comunicação, união, amizade e tudo de bom que tem aqui. O programa é uma necessidade; quando não venho, faz falta”, afirma.
Dona Vilma, também de 66 anos, revela que ganhou autonomia ao frequentar as aulas que a ensinam a usar aparelhos digitais. “Antes, eu morava com minhas filhas e sempre pedia: ‘faz isso pra mim, faz aquilo pra mim’. Cada uma foi para um lugar, e eu fiquei sozinha; agora tenho de me virar. Hoje eu me sinto 30 anos mais jovem”, diz.
Há 22 anos, Maria de Sousa Bonifácio, de 78, faz atividades físicas regulares. “Elas deixam meu coração mais alegre. Aconselho fazer [exercícios]. É importante demais para o envelhecimento, pois mexe com a mente e com o corpo.” Cinco anos mais velha, Terezinha Josefina de Barros vê as atividades como um antídoto para a solidão. “Às vezes, pessoas de nossa faixa de idade ficam sozinhas em casa. Sair e arrumar amizades é muito bom”, testemunha.
Em outubro, mês da longevidade e do bem-estar, o programa Envelhecimento Ativo promoveu uma série de atividades especiais, que foram registradas em vídeo da TV UFMG.
Mais informações podem ser consultadas no site do programa. Contatos: 3409-7440 e programaenvelhecimentoativo@gmail.com.