Pensadora da cultura
Perfil biográfico lança luz sobre a atuação da professora Sônia Viegas, que lecionou na Fafich e levou a filosofia para fora do campus
A atuação da filósofa e professora Sônia Viegas (1944-1989) extrapolou as paredes da Fafich, onde lecionou por 22 anos, e ganhou outros espaços da cidade; transcendeu também as abordagens tradicionais de seu campo de conhecimento para aproximar a filosofia da vida das pessoas. Como diz uma de suas filhas, Mônica Viegas, também professora da UFMG, Sônia “passou por muitos lugares e marcou a cidade de uma forma diferente”.
Esse legado ganha agora, três décadas após sua morte, uma homenagem em forma de perfil biográfico: o livro Sônia Viegas – uma pensadora da cultura (Conceito Editorial e BDMG Cultural), escrito por Miriam Campolina Diniz Peixoto, que foi aluna de Sônia e é professora do Departamento de Filosofia da Fafich.
De acordo com a autora, o livro apresenta as grandes linhas de pensamento de Sônia, os temas que mais mobilizaram sua atenção e o caminho de formação da pensadora e da professora. “Uma das características que sobressaem é a sua prática de pensar com a arte e a cultura. Ela promoveu o diálogo com a literatura, as artes e o cinema e transformou essas expressões em terreno fértil para fomentar e inspirar a investigação filosófica”, diz.
Segundo Miriam, Sônia também “valorizou a experiência do ensino e as oportunidades que ela propicia para o desenvolvimento da especulação filosófica e da capacidade reflexiva”.
Filmes e exposições
Sônia Viegas iniciou a carreira docente na UFMG logo após concluir a graduação, na própria Universidade. Suas aulas tiveram repercussão incomum e começaram a atrair alunos de fora; logo, ela passou a oferecer cursos também em instituições como o Círculo Psicanalítico e o Cine Humberto Mauro. A procura por novos cursos, conferências e consultorias motivou a criação, em parceria com amigos, do Núcleo de Estudos em Filosofia (1985), cujo espírito era o da relação direta da filosofia com a sociedade. Não satisfeita, Sônia ainda levava a filosofia a exposições de arte, na forma de visitas guiadas, e a projeções de filmes – as sessões do Cinema comentado lotavam o Savassi Cineclube, na década de 80.
Os textos da professora estão reunidos na obra Sônia Viegas: escritos, publicada em 2009. Três volumes distinguem produções acadêmicas mais densas, material sobre a filosofia da cultura e da arte e um conjunto de cartas, depoimentos e fotografias. O livro contém ainda o trabalho de mestrado de Sônia, que foi publicado com o título A vereda trágica do ‘Grande sertão: veredas’.
Sônia Viegas valorizou a experiência do ensino e as oportunidades que ela propicia para o desenvolvimento da especulação filosófica e da capacidade reflexiva.
Embora tenha convivido com Sônia Viegas e se considere muito influenciada por seu modo de pensar e ensinar, Miriam Peixoto diz que havia muito sobre a filósofa que ela desconhecia. “Deliciei-me ao percorrer seu texto, ao flagrar suas intuições, ao reconhecer cumplicidades. Agora posso dizer, de modo inequívoco e consequente, que eu conheci Sônia”, afirma a professora.
Assim como a variedade de interesses que moveu Sônia Viegas e o universo que ela alcançou, o público a que se destina o perfil é amplo. “Essa foi uma das minhas motivações: contribuir para a sobrevida do legado de Sônia, proporcionando àqueles que não a conheceram o contato com seu pensamento e o vislumbre de sua concepção da experiência filosófica”, completa Miriam Peixoto.
Livro: Sônia Viegas – uma pensadora da cultura
Autora: Miriam Peixoto
Edição: Conceito Editorial (Coleção Beagá Perfis)
Patrocínio: BDMG Cultural
160 páginas / R$ 32