Estudantes contra a obesidade
Ação de extensão leva orientações sobre alimentação saudável a escolas
Crianças acima do peso têm 75% mais chance de se tornarem adolescentes obesos, que, por sua vez, têm 89% de possibilidade de transformaram-se em adultos obesos, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Pesquisas recentes também demonstram que 12% das crianças brasileiras, de 5 a 9 anos, são obesas, e 18,9% dos adultos estão acima do peso. A obesidade influencia o surgimento de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes.
Adoção de hábitos saudáveis de alimentação, realização de atividades físicas, acesso à informação e ações educativas e de conscientização são ferramentas primordiais no combate a essa epidemia moderna. Elas formam os quatro eixos de atuação do Grupo de Estudantes que Multiplicam e Transformam Ideias (Gemti). A equipe é formada por graduandos de diversos cursos da UFMG, voluntários e pesquisadores que desenvolvem, no ICB, diversas atividades de extensão e pesquisas centradas na área de nutrição, metabolismo, obesidade e exercício físico. Desde 2018, as estratégias empregadas nas escolas públicas têm como foco a prevenção da obesidade infantil, entre estudantes de 7 a 12 anos.
De acordo com a coordenadora do Gemti, professora Giselle Foureaux, as pesquisas desenvolvidas no Departamento de Morfologia da UFMG têm influenciado na abordagem da equipe nas escolas. “A nutrição é uma das disciplinas que devem ser inseridas desde cedo no currículo escolar infantil. É muito importante compreender o que nos é oferecido, já que todos os dias somos bombardeados por ofertas de todo e qualquer tipo de alimento”, explica. Segundo ela, o Gemti promove, sobretudo, o trabalho de conscientização alimentar por meio da interação. “Com o conhecimento socializado nas atividades, o indivíduo aprende a ser responsável pela própria saúde.”
O grupo normalmente mobiliza três escolas por semestre. Nas visitas, a intenção é cativar as crianças por meio de atividades lúdicas e interativas, baseadas na alimentação saudável. A equipe é formada por sete alunos de graduação da UFMG: Hugo Seemann e Edgard Leandro, de Medicina, Clarissa Teixeira, Natália Oliveira, Ana Beatriz e Emely Martins, de Terapia Ocupacional, e Tainah Pereira, de Psicologia. Hugo explica que “o projeto possibilita explorar a questão da qualidade alimentar de forma transversal e complementar à atividade escolar”.
As dinâmicas são realizadas em quatro dias de intervenção, nos quais as crianças conversam sobre suas preferências alimentares, recebem cartilhas e participam de oficinas de culinária e de experimentação dos alimentos por meio do tato e do olfato. Para Arthur Costa, diretor da Escola Estadual Professor Alcindo Vieira – uma das instituições participantes do projeto –, parcerias como essa “são muito importantes para o fortalecimento de uma educação pública de qualidade e para diminuir a distância entre as realidades acadêmicas e escolares”.
Origem na parasitologia
As raízes do projeto Gemti remontam a 2004 e têm caráter interinstitucional. Isso porque Amália Verônica, a idealizadora do projeto, foi professora substituta da UFMG e depois passou a atuar na Fumec. Dessa forma, por algum tempo, o projeto foi desenvolvido nas duas instituições.
Na UFMG, a coordenação da iniciativa passou por Maria Norma Melo, professora emérita do ICB, e, posteriormente, foi delegada à professora Janice Amaral, também do ICB. Ela seguiu com a temática parasitológica em atividades executadas nas escolas, numa época em que o projeto tinha como foco a prevenção e o controle de doenças parasitárias. Aos poucos, ele foi cumprindo outras funções, e, hoje, sob a coordenação de Giselle e Janice, a ação está mais centrada na nutrição e na conscientização alimentar.
O Gemti integra uma iniciativa maior, o Programa de Ações Educativas em Saúde (Paes). Curiosamente, a criação do Programa foi idealizada durante os primeiros anos de vigência do Gemti. “A cada vez que promovíamos intervenções nas escolas, os diretores comentavam sobre outros problemas que mereciam atenção, como a gravidez na adolescência, o uso de drogas ou a negligência com a saúde bucal e a alimentação”, exemplifica Giselle. Com isso, outros projetos de extensão surgiram vinculados à educação em saúde, e o Paes foi instituído para gerenciá-los.