Ambiente fértil para o novo
Ecossistema maduro faz da UFMG uma das instituições brasileiras que mais potencializam a capacidade de inovação de seus pesquisadores
Pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG desenvolveram um processo para vacina recombinante contra a leishmaniose visceral canina, do qual resultou a Leishtec, única aprovada pelo Ministério da Agricultura para o mercado brasileiro. Produzida hoje pela empresa Ceva, a Leishtec gera royalties para a UFMG e é parte de um caminho que levou, por exemplo, à criação do Centro de Tecnologia em Vacinas (CT Vacinas). Casos de sucesso como esse têm-se multiplicado na Universidade e beneficiado significativamente a sociedade brasileira, nas áreas mais diversas – de medicamentos a sistemas baseados em inteligência artificial, passando por softwares e produtos de desenho industrial, entre outras.
Tecnologias e processos inovadores tiram partido de décadas de trabalho realizado por milhares de pesquisadores, mas também de um ecossistema dedicado à inovação na Universidade, que integra a Administração Central a estruturas como a Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT), o Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC) e a Fundação de Apoio à Pesquisa (Fundep).
De acordo com a reitora, graças a essa política a UFMG está preparada para formar alianças estratégicas com o ambiente produtivo local, regional, nacional ou internacional para gerar inovação, fomentar o empreendedorismo acadêmico e desenvolver extensão tecnológica e prestação de serviços técnicos.
Segundo a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, a UFMG tem um sistema maduro e integrado, que oferece suporte de gestão para ações de empreendedorismo, aceleração de startups, proteção da produção científica e licenciamento de tecnologias. “A UFMG foi a primeira universidade brasileira a regulamentar o Marco Legal da Inovação, estabelecendo, assim, uma política institucional para a área”, lembra Sandra Goulart, referindo-se à resolução do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) aprovada no fim de 2017. Instituído em janeiro de 2016, o Marco Legal não é autoaplicável, o que exige que cada instituição de pesquisa faça a sua própria regulamentação.
De acordo com a reitora, graças a essa política a UFMG está preparada para formar alianças estratégicas com o ambiente produtivo local, regional, nacional ou internacional para gerar inovação, fomentar o empreendedorismo acadêmico e desenvolver extensão tecnológica e prestação de serviços técnicos.
“Nosso papel é prover condições e ambiente para que professores e estudantes desenvolvam pesquisa básica e tecnológica que possa gerar inovação”, acrescenta o pró-reitor adjunto de Pesquisa da UFMG, André Massensini. A Pró-reitoria coordena a definição de políticas, cadastramento de grupos de pesquisa na base do CNPq, participação em editais públicos e privados de fomento, distribuição de bolsas, além do Portal de Periódicos e de um repositório que reúne toda a produção da UFMG disponível em meio digital.
O patrimônio intelectual gerado na Universidade é protegido pela CTIT, que identifica e determina o valor do conteúdo de uma produção científica inovadora, para, então, tornar o produto acessível à sociedade, seguindo a legislação.
Ado Jorio é professor do Departamento de Física e liderou pesquisas que levaram ao depósito de 12 patentes para a UFMG – uma delas é a da nanoantena, que atrai e emite ondas eletromagnéticas em escala nanométrica. É autor do terceiro artigo da UFMG mais citado nas bases Scopus e Web of Science e está entre os 13 professores da Universidade que integram a lista dos 100 mil autores mais influentes do mundo. “A UFMG dispõe, em seu ecossistema, de todos os ingredientes necessários para que o pesquisador leve seu trabalho desenvolvido em laboratório para o mundo real. A Universidade oferece condições de pesquisa, compartilha sua infraestrutura, abraça empresas nascentes e apoia seu desenvolvimento”, testemunha.
Três pilares
O patrimônio intelectual gerado na Universidade é protegido pela CTIT, que identifica e determina o valor do conteúdo de uma produção científica inovadora, para, então, tornar o produto acessível à sociedade, seguindo a legislação. “Um dos nossos papéis é mostrar às empresas o valor que pode ser adicionado, em forma de parceria, pelos três pilares da atuação da UFMG em inovação, que são o capital intelectual, a tecnologia e a infraestrutura de pesquisa”, afirma o diretor da CTIT, professor Gilberto Medeiros Ribeiro.
O conhecimento produzido na UFMG gerou, para ficar em alguns números, 143 patentes concedidas, 1.049 depósitos de pedidos de patente, 670 notificações de invenção, 58 softwares registrados, 106 contratos de licenciamento de transferência, 111 acordos de parceria e R$ 6,3 milhões oriundos da comercialização de propriedade intelectual.
O INCT Midas e o Laboratório de Ensaios de Combustíveis (LEC) representam bem um dos novos formatos de cooperação, as alianças estratégicas para formação de ambientes de inovação, onde se compartilham infraestrutrura e conhecimento acumulado na UFMG. O LEC, em parceria com a Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), atua na área de combustível de aviação e passou a contar com a estrutura necessária para realizar pesquisa e desenvolvimento tecnológico a fim de aumentar a competitividade de Minas e do Brasil nesse setor. O INCT Midas, por sua vez, iniciou colaboração com o Senai, visando à validação de tecnologias na área ambiental, como as que contribuem para a purificação da água de rios atingidos pelo rompimento de barragens de rejeitos de mineração.
Inovação aberta
Graças a seu ecossistema de inovação, a UFMG tem-se tornado cada vez mais ágil e apta a utilizar toda sua potencialidade, na visão do professor Alfredo Gontijo, presidente da Fundep. Segundo ele, no cenário atual, em que o conhecimento se multiplica exponencialmente, assim como a academia precisa mudar mais rápido, a indústria não pode se isolar, e muitas empresas têm adotado o modelo de inovação aberta, apoiada em conexão com os diversos agentes. “Treinamos pessoas para dialogar com a sociedade lato sensu, aproximando a universidade das empresas”, diz Gontijo.
A Fundação criou, em 2013, a Fundep Participações S.A. (Fundepar), primeira empresa de investimentos diretamente ligada a uma fundação de apoio. Inspirada em modelo bem-sucedido em países desenvolvidos, a Fundepar gerencia o Seed for Science, fundo de investimento em participações, que apoia o desenvolvimento de negócios de base tecnológica inovadora em estágios iniciais. A iniciativa tem participação da Fapemig e do BDMG.
No campo da aceleração de startups, a Fundep mantém o programa Lemonade, de caráter multidisciplinar e multi-institucional, que tem o formato de imersão empreendedora. O programa, que apoia a transformação de ideias e tecnologias em negócios e de pessoas em empreendedores, levou a Fundep a integrar recentemente o grupo dos 20 maiores aceleradores no mundo em número de startups, segundo ranking da Global Accelerator.
Uma das iniciativas mais recentes da Fundep e da UFMG foi o lançamento do programa Outlab, exclusivo para laboratórios, com o objetivo de estimular as conexões com empresas e potencializar a ampliação de suas atividades. Vinte e cinco laboratórios foram selecionados para um processo de imersão que durou dez semanas, abrangendo aspectos como cadeia de valor, modelagem de negócios, estratégia de marketing, vendas, negociação e design de serviços, além das conexões propriamente ditas.
Planos de expansão
O Parque Tecnológico de Belo Horizonte, que completou sete anos de operação, abriga 26 empresas, oito delas oriundas da UFMG, e recebe outras sete para o compartilhamento de infraestrutura e do ambiente de inovação. O BH-TEC atingiu 100% de ocupação e já se planeja para a expansão – cerca de 40 empresas demonstram interesse em usufruir do parque.
Segundo o professor Marco Aurélio Crocco, diretor recém-empossado do BH-TEC, os planos de sua gestão incluem fortalecer ainda mais os laços com a UFMG e consolidar seu protagonismo no ecossistema mineiro de inovação. “Há margem para aprimorarmos nossa atuação, que tem foco na transferência de tecnologia da Universidade, no crescimento das empresas, no apoio a políticas públicas e ao desenvolvimento econômico”, afirma Crocco.
Em 2018, o faturamento das empresas residentes no BH-TEC foi de R$ 170,3 milhões, com investimentos de R$ 32 milhões. Os impostos recolhidos somaram R$ 25,6 milhões, e as exportações, R$ 15,1 milhões.
Colaboração
O esforço de inovação realizado na UFMG contou, nas últimas décadas, com forte apoio de agências de fomento, como a Capes, a Finep, a Fapemig e o CNPq – a Universidade é a quinta instituição brasileira em número de pesquisadores que recebem bolsas de produtividade do CNPq. Uma das medidas dessa produtividade está nos números relacionados a publicações. De acordo com a Pró-reitoria de Pesquisa, nos últimos dez anos, 22.375 professores e pesquisadores da UFMG publicaram 31.927 artigos, que tiveram 338 mil citações. Vinte e oito por cento dessas publicações foram fruto de colaboração internacional. O caráter inovador dessa produção se revela, por exemplo, em coautorias com empresas como Petrobras, HP, Vale, Microsoft, IBM e GlaxoSmithKline. Os dados compilados pela PRPq mostram também que, desde 2006, 991 patentes internacionais citaram a produção científica da UFMG.