Guinada conservadora

Colecionar o mundo

Exposição no Espaço do Conhecimento reúne obras de arte e instrumentos da prática acadêmica que integram o acervo da UFMG

Um panorama da cultura científica, intelectual e acadêmica da UFMG pode ser visto na exposição Colecionar o mundo: objetos + ciência + cultura, aberta à visitação no Espaço do Conhecimento UFMG até outubro deste ano. “São instrumentos científicos, utensílios, máquinas, amostras e artefatos que documentam realidades estudadas ou que auxiliam as práticas do ensino, da pesquisa e da extensão”, afirma Letícia Julião, coordenadora da Rede de Museus e Espaços de Ciências e Cultura da Universidade e professora do curso de Museologia da UFMG.

Detalhe de computador analógico eletrônico usado, entre as décadas de 1950 e 1970, na Escola de Engenharia
Detalhe de computador analógico eletrônico usado, entre as décadas de 1950 e 1970, na Escola de Engenharia Alice Sá / Espaço do Conhecimento UFMG

Letícia e seu colega Paulo Roberto Sabino, também da Museologia, são os curadores da mostra, idealizada no ano passado. Segundo ela, o desafio apareceu logo no início da empreitada: como unir artefatos tão diversos em uma mesma exposição? Qual seria o fio condutor? “A solução foi pensar que todas essas coleções fazem parte da história da produção do conhecimento”, afirma a professora, acrescentando que a Rede de Museus realiza o mapeamento e documentação desse patrimônio universitário com o objetivo de assegurar sua salvaguarda. “Desenvolvemos um diagnóstico das unidades da Rede e percebemos a existência de um patrimônio cultural e científico muito rico, mas pouco conhecido pela sociedade e até pela comunidade universitária”, conta a professora. 

Diversidade
A dupla reuniu acervos de 20 museus e centros de memória, ciência e cultura que compõem a Rede. O longo trabalho de concepção da exposição proporcionou encontros inusitados: no mesmo local, o visitante depara com coleções taxonômicas, quadros de artistas renomados como Guignard e Portinari, amostras de minerais, cerâmicas do Vale do Jequitinhonha e um computador analógico de meados do século passado usado na Escola de Engenharia. 

Do acervo artístico da UFMG, há 27 obras de Burle Marx, Di Cavalcanti, Maria Helena Andrés, entre outros. Também é possível apreciar 140 ilustrações científicas de plantas e animais. Logo ao lado, o público contempla exemplares de peixes, aves, orquídeas, répteis, insetos e tipos de madeira que mostram a biodiversidade de três regiões de Minas Gerais: Espinhaço Canga, onde fica o Quadrilátero Ferrífero, Espinhaço Quartzito, que engloba as serras do Cipó e do Caraça, e o Vale do Rio Doce. Alguns dos animais em exposição foram descobertos por pesquisadores da UFMG, como o tamanduaí, a anta e o bicho-pau.

Outro destaque é uma seção dedicada a artefatos da prática acadêmica, onde é possível ver o rim de uma onça, um utensílio para confecção de cápsulas de medicamentos e o exemplar do livro Encontro marcado, de Fernando Sabino, com anotações feitas pelo crítico Rosário Fusco. “Pretende-se com a exposição mostrar a variedade e a riqueza cultural, material e científica de uma universidade e despertar o interesse da comunidade para esse patrimônio da UFMG que precisa ser preservado e conhecido”, explica Letícia. 

Ao fim da mostra, os objetos voltarão às unidades da Rede de Museus. A expectativa da curadoria é que esse primeiro movimento estimule outras ações para ampliar o acesso ao patrimônio artístico, cultural e acadêmico da UFMG.

Juliana Ferreira, jornalista do Espaço do Conhecimento UFMG