Boletim

Nº 1938 - Ano 42 - 02.05.2016

Uma nova graduação

Liberdade para mudar ou permanecer

Intermediárias entre a disciplina e o curso integral, estruturas formativas oferecerão ao estudante competências para moldar o seu perfil profiss

A proposta elaborada pela Pró-reitoria de Graduação para alterar a estrutura da graduação na Universidade tem como premissa possibilitar que os cursos mantenham o formato atual ou incorporem as mudanças sugeridas. “Estamos propondo a reorganização de algumas fórmulas essencialmente associadas ao modo como o estudante transita dentro da Universidade”, explica o pró-reitor de Graduação, Ricardo Takahashi. Segundo ele, a ideia é criar uma instância intermediária entre a disciplina e o curso inteiro, denominada “estrutura formativa”. São cadeias de atividades curriculares que procuram dar sentido formativo e oferecer ao aluno traços de um perfil profissional, composto de certas competências e habilidades.

“Essas cadeias pré-formatadas, ainda que sejam estruturas de menor peso que o currículo inteiro, teriam o papel de combinar competências para prover habilidades capazes de delinear perfis que constituam uma determinada formação profissional”, analisa o pró-reitor. Tais instâncias comuns, denominadas “estruturas de formação fundamental”, poderiam ser utilizadas no ingresso do aluno.

“Estamos propondo a reorganização de algumas fórmulas essencialmente associadas ao modo como o estudante transita dentro da Universidade

Além disso, pode haver cursos que mantenham sua forma de ingresso atual e ofereçam aos estudantes, ao longo da trajetória acadêmica, 10 ou 15 disciplinas comuns com outros cursos, que seriam as “estruturas de tronco comum”. Com o modelo proposto, haveria garantia de vaga, não em cada matéria, o que terminaria inviabilizando o trajeto, mas em todas as disciplinas que compõem determinada cadeia de formação complementar. 

“Vejo viabilidade nessa configuração. A Prograd está apresentando subsídios importantes, para que as mudanças sejam construídas de forma coletiva, seja com base nos modelos dessa proposta, seja em algo derivado deles”, argumenta o diretor da Escola de Engenharia, professor Alessandro Fernandes Moreira. Em sua opinião, essa é uma excelente oportunidade para que os cursos de engenharia ponham em prática mudanças nos projetos pedagógicos de modo a agregar inovação e empreendedorismo, “não apenas nas questões técnicas, mas também sociais, de modo que o engenheiro seja um agente de transformação da sociedade”.

União de afinidades

Gradução
Criação Cedecom / UFMG

No caso de vários cursos compartilharem uma estrutura de ingresso, depois de concluir alguns períodos, o estudante optaria por um deles. Dada essa lógica, a mudança pouco tempo depois do ingresso, como se tem visto sobretudo após a adesão da UFMG ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), não ocorreria, pois bastaria que o aluno optasse pelo curso que considerasse mais adequado. Takahashi garante que o fato de cursos afins poderem ter uma parte inicial comum não significa a restauração do antigo ciclo básico, com disciplinas que eram adotadas compulsoriamente. A intenção é que cursos que se consideram afins se reúnam para determinar o que lhes é comum. “Note-se que aí há uma mudança epistemológica: tira-se a ideia de que há algumas ciências que são básicas e outras aplicadas e de que a construção do conhecimento vai nesse sentido. Então, o que será inserido nessa estrutura introdutória naturalmente vai ser o que se imagina como sendo básico, mas não necessariamente. Pode incluir até mesmo algo que seja mais profissionalizante, se os cursos assim definirem”, diz Takahashi. 

Segundo o pró-reitor, estudo realizado pela Pró-reitoria de Graduação mostra que a maior parte das mudanças pelos alunos ocorre entre cursos afins, como ocorreu em 2014, em que nove alunos que entraram em Engenharia Mecânica no primeiro semestre fizeram novamente o Sisu e, no semestre seguinte, ingressaram em Engenharia de Controle e Automação. No mesmo período, 11 alunos que entraram em Engenharia de Controle e Automação fizeram o movimento inverso. No total, isso resultou em 20 vagas do Sisu desocupadas.

Como lembra o pró-reitor, as estruturas comuns não são necessariamente de ingresso, já que cada colegiado vai determinar como quer receber seus estudantes – se com entrada por meio de uma estrutura de ingresso comum ou se da forma tradicional. “Uma hipótese a ser examinada é que um mesmo curso receba ingressantes de mais de uma maneira, com diferentes grupos de cursos”, acrescenta. Ele cita como exemplos o curso de Economia, que poderia optar por estruturas de ingresso comuns com cursos de ciências exatas e de ciências humanas, e o de Psicologia, que poderia se agrupar com as áreas de humanidades e de saúde. “Não se descarta a hipótese de que um curso oferte vagas de duas maneiras diferentes, com mais de um percurso possível. São possibilidades que se abrem”, enfatiza o pró-reitor de Graduação. 

Ana Rita Araújo