Gabriel Souza, 21, é natural de Itaipé, no Vale do Mucuri, nordeste de Minas Gerais. Sua trajetória escolar até a universidade não foi fácil. Morador da zona rural da sua cidade, todas as vias de acesso até sua escola eram de terra, o que tornava a longa caminhada impossível em dias de chuva. “Sempre vivi a uma grande distância da escola. Quando chovia, os alunos da cidade ficavam adiantados nas atividades com relação aos do campo, e quando falávamos com os professores que não tínhamos conseguido chegar por conta da chuva, muitos diziam que não podiam fazer nada sobre isso. E nós, os alunos, ficávamos prejudicados”.

Gabriel está no sexto período da licenciatura em educação do campo e quer proporcionar aos estudantes da zona rural uma realidade diferente daquela que viveu. Segundo ele, a educação do campo não pode estar restrita à escola, mas à toda a população daquela região. “O curso está sendo tudo o que eu imaginava. Estou levando um pouco da minha cidade para dentro da UFMG e um pouco da UFMG para o meu povo também. Estou aprendendo, ensinando, trocando conhecimentos e desenvolvendo atividades para toda a comunidade”, afirma.

A licenciatura em educação do campo forma educadores para darem aulas no ensino fundamental ou médio de zonas rurais, assentamentos e outras regiões do campo. Para cursá-la é preciso, além de realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) - são válidas provas de até quatro anos antes da candidatura - uma comprovação de vínculo com o campo: ser morador, trabalhador rural, membro de alguma entidade ligada ao campo, ou ter pais com vínculo. Atualmente o curso tem alunos de diversas regiões de Minas Gerais, assim como de outros estados do País.

Na UFMG, são ofertadas quatro habilitações: matemática; ciências da vida e da natureza; línguas, artes e literatura; ciências sociais e humanidades (que abrange sociologia, história e filosofia), sendo a única universidade do país que oferta as quatro habilitações. A oferta das habilitações não é simultânea, ou seja, a cada ano é ofertada uma das quatro áreas.

O curso é presencial e funciona em regime de alternância: os estudantes passam um mês por semestre (normalmente em período das férias escolares regulares) com aulas presenciais no campus Pampulha, em Belo Horizonte, no chamado tempo-escola. No restante do semestre há o tempo-comunidade, em que os alunos voltam para a sua região e desenvolvem projetos e atividades pedagógicas, culturais e relacionadas à vida rural, para toda a população. Os professores da UFMG também participam do tempo-comunidade, realizando caravanas para uma cidade previamente acordada com os alunos, e junto às instituições locais e aos estudantes, realizam seminários, eventos e visitas a escolas da região.

Um conceito-chave desta graduação é o protagonismo da população local. A educação do campo prevê a participação dos moradores locais, para que ela seja construída em conjunto com o povo do campo. Por isso, o curso prevê ensinamentos não apenas técnicos, mas também de um conjunto de práticas e reflexões que pensam a educação escolar e não escolar com plena participação da população, por meio de sindicatos rurais, movimentos sociais, universidades e setores institucionalizados (como secretarias de educação e Escolas Família Agrícola).

Gabriel, que cursa a habilitação em matemática, destaca a importância desse protagonismo. “Nós valorizamos o aluno e tudo aquilo que ele tem a trazer do campo. Por isso, durante as aulas, não podemos entrar em sala, dizer ‘bom dia’ e apenas passar o conteúdo. Temos que entender os estudantes, planejar as aulas para a sua realidade e construir conhecimento juntos”, afirma.

Confira mais sobre o curso na reportagem da TV UFMG.

PARA SABER MAIS

Informações no Portal UFMG: https://ufmg.br/cursos/graduac...
Relação de candidatos por vaga: -
Nota de corte no Sistema de Seleção Unificada (Sisu): não há pois trata-se de processo de seleção próprio da UFMG
Avaliação no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade): curso ainda não foi avaliado