‘A UFMG mudou maravilhosamente a minha vida’, diz professora emérita
Maria das Graças Carvalho, da Farmácia, recebeu título com mensagens especiais a alunos, colegas, familiares e instituições
“Tive o privilégio não apenas de me graduar e pós-graduar na UFMG, mas de atuar como docente, em toda a plenitude do que isso significa. Essa realidade extrapolou meu sonho de juventude, que era estudar Farmácia nesta Universidade para me habilitar ao exercício profissional. Mas esta grande instituição mudou maravilhosamente a minha vida”, afirmou ontem, dia 8, Maria das Graças Carvalho, nova professora emérita da Universidade, ao receber o título em cerimônia na Faculdade de Farmácia.
Com 39 anos de dedicação à UFMG – ela se aposentou há cerca de um ano, mas continua atuando como voluntária –, a professora Graça, como é conhecida, dividiu seu discurso por grupos de destinatários. Aos alunos e ex-alunos, agradeceu “pela oportunidade de rejuvenescimento espiritual e pelo incentivo à busca de novos conhecimentos”. Parabenizou-os pelos desafios enfrentados com sucesso e desejou a todos “muitas vitórias”.
Ao se dirigir aos colegas da Farmácia e da UFMG, Maria das Graças Carvalho destacou o incentivo e a parceria que “contribuíram de forma decisiva para o sucesso de minhas atividades no ensino, pesquisa e extensão”. No plano institucional, a nova emérita mencionou “o crescimento fabuloso da UFMG e da Faculdade de Farmácia”, testemunhado por ela em quase quatro décadas. E ressaltou o papel crucial das agências de fomento à pesquisa, como Capes, CNPq e Fapemig, na sua formação e no desenvolvimento dos projetos em que esteve envolvida.
Ode à paixão
Ela falou também sobre o futuro. “Nos últimos anos, procurei deixar seguidores que pudessem levar muito adiante as propostas de nosso trabalho, avançando nas estratégias de ensino e pesquisa na área de Análises Clínicas e Toxicológicas e preocupados em ajustar nosso ensino à moderna tecnologia”, disse Maria das Graças Carvalho, que tem atuado também como professora visitante na Universidade Federal de São João del-Rey.
A professora emérita não se furtou a tecer comentários de caráter político. Disse que a luta por um país de oportunidades igualitárias deve ser a meta das universidades públicas e de todos que querem um país melhor. “A educação e a ciência são pilares fundamentais para o desenvolvimento de um país, por isso há necessidade urgente de retomada e crescimento do investimento nas universidades públicas e em ciência e tecnologia.”
Após contar um pouco de sua história familiar e fazer agradecimentos às pessoas mais próximas, Graça Carvalho lembrou que seu trabalho foi “árduo, mas extremamente prazeroso”. E fez uma ode à paixão: ”Hoje, do pedestal das minhas seis décadas de vida, estou convicta de que o ser humano é movido pela paixão, sentimento essencial para se atingir objetivos”.
Ela enfatizou que, em um tempo materialista, de avanços científicos e tecnológicos a cada dia, “é imperativo criar oportunidades e adotar atitudes que fortaleçam os valores espirituais e humanísticos, compatíveis com um mundo mais ameno para o próprio homem, que é a razão primordial de tudo”.
Ética e humildade
Encarregada da saudação à professora emérita, a professora Luci Dusse resumiu a trajetória de Maria das Graças Carvalho desde a graduação, na própria Faculdade, em 1976, a atuação em laboratório e como professora colaboradora de Hematologia, até tornar-se docente da UFMG, em 1980. Luci destacou, ainda, no caminho acadêmico de Graça Carvalho, o estágio técnico em Paris e o doutorado na Universidade de Southampton (Inglaterra). “Ao concluir o doutorado, ela foi convidada para trabalhar na Flórida (EUA), mas preferiu voltar ao Brasil para difundir aqui os conhecimentos adquiridos.” Ainda segundo Luci Dusse, Maria das Graças Carvalho teve papel preponderante na criação de cursos de aperfeiçoamento e de especialização na UFMG e ministrou diversos cursos pelo Brasil.
Ao falar do pós-doutorado de Graça Carvalho na Universidade de Maastricht, Holanda, Luci Dusse destacou que, na volta, ela otimizou a técnica de Geração de Trombina – considerada a mais avançada para avaliação in vitro da coagulação sanguínea –, “treinou alunos, incorporou a técnica a seus projetos de pesquisa e disponibilizou-a para todos os pesquisadores”.
Luci enfileirou números: a professora emérita publicou cerca de 200 artigos científicos em publicações nacionais e internacionais, apresentou mais de 350 trabalhos em cerca de 100 congressos, dentro e fora do Brasil, orientou estudantes em todos os níveis de aprendizado e exerceu diversos cargos administrativos.
Ao ressaltar a disponibilidade de Graça Carvalho, Luci Dusse afirmou que, para a colega, a missão do professor não se limita a transmitir o que está sintetizado na ementa das disciplinas. “Ela complementa a formação de caráter dos jovens por meio de seu exemplo de gentileza, ética, compreensão e humildade nas situações mais corriqueiras”, disse Luci, lembrando que Graça foi escolhida inúmeras vezes paraninfa ou professora homenageada dos formandos.
“A professora Graça nos ensinou muito sobre hematologia, ciência, ética e outros temas, mas sua principal lição é a do companheirismo e a da gentileza. Perceber a Universidade como espaço de convivência harmoniosa e de realização em equipe também tem sido uma lição diária para todos nós”, completou.
‘Fio condutor’
Após ressaltar que Graça Carvalho se juntava, como professora emérita, a outros três “brilhantes docentes” da Farmácia – Alaíde Braga de Oliveira, Tasso Moraes e Santos e Edna Alvarez Leite –, a diretora da Unidade, Leiliane Coelho André, destacou a importância de mais uma vez se conferir o título a uma professora mulher.
A diretora enfatizou o crescimento e a consolidação da excelência da Faculdade de Farmácia e a contribuição de todos que se dedicam a ela. Mas ressalvou que é necessário reconhecer que alguns atuam de forma diferenciada. “Esse título honorífico significa o reconhecimento da forma extremamente diferenciada de sua atuação na nossa instituição”, disse Leiliane, falando diretamente à homenageada.
Leiliane André mencionou também a convivência com Maria das Graças Carvalho, desde o tempo em que foi sua aluna na graduação. “O destaque dado a ela deve-se mais que a seu saber e a sua competência. Ela é uma pessoa única, solidária e comprometida. O exemplo da professora Graça deve ser para nós um fio condutor.”
‘Desbravadora’
Na fala que encerrou a solenidade, a reitora Sandra Goulart Almeida lembrou que a UFMG é maior que todos os seus membros, mas que “ela se nutre das contribuições singulares e significativas de cada um deles”. E afirmou que Maria das Graças Carvalho é “uma figura quase indissociável da entidade à qual sempre prestou dedicação e respeito incondicionais”.
De acordo com a reitora, a nova professora emérita é pesquisadora de relevância nacional e internacional no campo das análises clínicas e toxicológicas, “é desbravadora e dona de trajetória marcada por desafios e por decisões que lhe proporcionaram importantes voos em nossa instituição e no exterior”.
Sandra citou a poetisa goiana Cora Coralina – “é feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina” – para enfatizar a missão precípua da universidade, que é ensinar e transferir conhecimento. “Essa missão deve ser cumprida com qualidade, mas também com responsabilidade de uma instituição púbica, que tem o dever de proporcionar aos que mais necessitam uma vida mais digna, com oportunidades mais justas”, afirmou a reitora.
Sandra Goulart Almeida aproveitou para ressaltar a importância de se defender a relevância da universidade pública. “Caberá a todos e a cada um de nós resistir a tudo que possa ameaçar nossa sólida instituição se os valores que nos são tão caros.”
Voltando a dirigir-se a professora Graça, Sandra disse que a homenagem representa um pedido da instituição para ela continue presente, "nos ajudando a ensinar e a aprender e, assim, construir uma sociedade cada vez mais justa e inclusiva”.
Também integraram a mesa solene o vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira, a vice-diretora da Faculdade de Farmácia, Micheline Silveira, e a chefe do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas, Ana Paula Fernandes. Após a cerimônia, durante coquetel, foram exibidos vídeos sobre a vida de Maria das Graças Carvalho, desde a infância em Campo Belo (MG), e com depoimentos de orientadores e parceiros estrangeiros da professora.