Abya Yala, primeira feira indígena e imigrante em BH, ganha espaço permanente
'É um presente para a cidade, para nós, indígenas, e para a Mãe Terra', diz Avelin Kambiwá
Na última terça, 19 de abril, foi comemorado o Dia da Resistência dos Povos Indígenas. Para marcar essa data de luta, foi inaugurada em Belo Horizonte a primeira feira semanal a oferecer contato com a cultura e a culinária dos povos originários. É a Feira Abya Yala, que vai ocupar a Praça Afonso Arinos todas as quintas. O novo espaço idealizado pelo Comitê Mineiro de Apoio às Causa Indígena (CMACI) traz visibilidade às tradições dos cerca de 7 mil indígenas que vivem na capital mineira e região metropolitana, de acordo com o Censo de 2010.
No local, vão ser montadas duas barracas de gastronomia e 14 de artes, com objetos como bonecas, crochês, cestarias, peças em madeira, tecidos e vestimentas. Além de materiais de povos como Kambiwá e Pataxó, também marcam presença artigos de povos originários da Bolívia e do Peru. Além de ser um espaço coletivo de exposição dos trabalhos e de geração de renda para as famílias, a feira deve se tornar um local de encontro, de troca e de conhecimento sobre essas culturas ancestrais.
O programa Conexões dessa sexta, 22, apresentou entrevista com a socióloga e professora com ênfase em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça, coordenadora do Comitê Mineiro de Apoio à Causa Indígena e Conselheira Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Belo Horizonte, Avelin Kambiwá, concedida à produtora Enaile Almeida. A convidada explicou o significado do nome Abya Yala, que diz da relação de harmonia dos povos com a casa que é a Terra. O uso do termo visa contracolonizar a América.
A socióloga detalhou a importância do Dia da Resistência dos Povos Indígenas e do Abril Indígena para dar visibilidade à luta. Ela também afirmou que a defesa dos povos originários é uma responsabilidade de todos os brasileiros. Avelin Kambiwá analisou o cenário da invasão de garimpeiros em terras indígenas, que ela considera crime, e suas consequências.
A convidada ressaltou ainda o valor da feira para além dos povos originários. "A feira vai além do protagonismo dos povos indígenas e dos imigrantes, a gente traz uma perspectiva de crescimento socioambiental. Porque a gente está falando que principalmente as mulheres, que tocam a feira, elas precisam ter condições de bem viver. Elas precisam produzir sua arte, cultura e precisam ter sua identidade valorizada, ter autoestima. Quando a gente fala em ter um dinheiro, ter geração de renda, a gente está falando de saúde mental, do orgulho das próprias origens e a gente quer despertar esse orgulho no restante da população. Porque a gente entende que se existe uma identidade apagada em um cidadão que se proclama brasileiro hoje é a identidade indígena. Então, a feira Abya Yala é um presente para BH, para os povos indígenas e para Mãe Terra”, defendeu.
Ouça a entrevista completa pelo Soundcloud.
A Feira Abya Yala será realizada toda quinta, das 9h às 17h, na Praça Afonso Arinos, localizada na Avenida João Pinheiro, 100, ao lado da Faculdade de Direito da UFMG. Mais informações no Instagram da iniciativa e do CMACI.
Produção: Enaile Almeida e Nicolle Teixeira, sob orientação de Alessandra Dantas e Luiza Glória
Publicação: Alessandra Dantas.