Brasil tem dificuldades para fazer reconversão industrial, diz professora da Face
Estratégia é vista como alternativa à crise do coronavírus, mas falta de insumos e queda nos investimentos em ciência são obstáculos
Tanto no campo sanitário quanto no econômico e no social, a reconversão industrial é considerada uma alternativa frente à crise da covid-19. Trata-se da reordenação da linha de produção das indústrias para abastecer as necessidades sanitárias e médicas de curto prazo relacionadas à pandemia, como as de álcool em gel e de ventiladores. A reconversão também se configuraria como um estímulo à atividade econômica, preservando empregos durante a crise.
De acordo com a professora Márcia Rapini, da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, o Brasil enfrenta dois obstáculos para conseguir realizar a reconfiguração produtiva. O primeiro é a falta de insumos, uma vez que não há fornecedores locais, resultado do deslocamento da produção para países nos quais o custo de produção é menor – o Brasil vive há algum tempo um processo de desindustrialização.
O segundo obstáculo é o fato de que o país vem experimentando, há anos, queda significativa no investimento em ciência e tecnologia, e isso afeta o setor de equipamentos médicos, que demanda conhecimento e tecnologia nacionais.
A professora cita duas lições que o momento atual oferece em relação à indústria. A primeira é a importância da política industrial. O desafio nesse ponto é como coordená-la junto com outras políticas. A segunda lição é a relevância da ciência nacional, que será fundamental para enfrentar crises como a da covid-19.
Entrevistada: Márcia Rapini, professora da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG
Equipe: Diogo Diniz (produção), Marcia Botelho (edição de imagens) e Jessika Viveiros (edição de conteúdo)