Escola básica pode ser protagonista na formação de cientistas
Qual a relação entre a escola e a formação de cientistas? Esse foi o tema de uma das mesas desta segunda-feira na 68ª Reunião Anual da SBPC. Ocupando a 60ª posição entre 76 países listados no ranking de educação da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), dados de 2015, o Brasil sofre com ensino básico desvalorizado, salários defasados e metodologias de ensino ultrapassadas e pouco atrativas.
Ainda assim, três pesquisadores de diferentes regiões acreditam na escola como porta de entrada para a ciência, abordando o contexto atual, as perspectivas e alternativas para aproximar a ciência da realidade dos jovens e potencializar a divulgação científica.
Durante o encontro, o professor Eduardo Fleury Mortimer, da UFMG, citou alguns dos problemas da educação básica, entre eles a escassez de professores habilitados, os baixos salários, a infraestrutura deficiente e a inexistência de planos de carreira. Ele afirmou que não é atrativo ser professor da escola básica diante de um cenário no qual apenas 0,6% das escolas públicas brasileiras têm infraestrutura próxima da ideal para o ensino.
Mas para o pesquisador o que falta, sobretudo, é mudar a forma de a escola se relacionar com os jovens: “para aproximar a ciência da escola é preciso um ensino por investigação, pois isso possibilita a discussão científica, mostra o como se faz e não apenas replica conteúdos, dilui o caráter autoritário da ciência ensinada na escola e permite uma investigação guiada”.
Coordenadora geral da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), Roseli de Deus Lopes afirmou que “a grande maioria das escolas subestima a capacidade desses jovens”. Ela mostrou as ações da Febrace como uma alternativa para incentivar a criatividade e a reflexão em estudantes da educação básica nas diferentes áreas das ciências e engenharias como forma de estímulo ao jovem cientista.
Pela experiência de quem está na outra ponta dessa discussão, Luiz Fernando da Silva Borges, 18 anos, estudante do ensino médio e técnico de Informática do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, compartilhou o impacto que esse contato com a ciência e incentivo teve em sua trajetória. Em 2013, ele desenvolveu um equipamento que torna possível a amplificação de DNA com um custo menor, sendo R$ 50 mil o valor do produto comercial e R$ 950 o que ele construiu.
Com o equipamento, é possível detectar doenças causadas por vírus como a dengue, HIV, malária e chikungunya. O trabalho levou o jovem para a edição 2016 da maior feira científica de ensino médio do mundo, a Grand Awards Ceremony Intel ISEF, que aconteceu em Phoenix, Arizona (EUA), onde ele foi premiado. Luiz Borges ainda ganhou o direito de ter um asteróide batizado com o seu nome pelo Laboratório do MIT (Massachussets Institute of Technology).
Para concluir o encontro, Marie Jane Soares Carvalho, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mostrou a importância e os desafios do letramento científico na educação básica. Um dos dados ressaltados foi o da falta de adequação entre disciplina e formação dos professores. Para a pesquisador, investir na correta formação inicial dos professores é um dos primeiros desafios para começar o trabalho de formação científica.