Institucional

Eucler Paniago e José Domingos Fabris, da Química, são os novos professores eméritos

Reitor Jaime Ramírez disse que os dois homenageados são figuras indissociáveis da UFMG

Fabris (à esquerda) e Eucler: solidariedade aos gestores
Fabris (à esquerda) e Eucler: solidariedade aos gestores Fotos: Raíssa César / UFMG

A UFMG tem dois novos professores eméritos: Eucler Bento Paniago e José Domingos Fabris, ambos vinculados ao Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas (ICEx), receberam hoje (segunda, 11) seus títulos em solenidade no campus Pampulha.

Jaime Ramírez: título tem dimensão coletiva
Jaime Ramírez: título tem dimensão coletiva

Em sua homenagem aos eméritos, o reitor Jaime Ramírez tratou-os como “figuras quase indissociáveis da entidade à qual sempre se referiram com respeito e reverência incondicionais”. O reitor disse que a UFMG pede a eles que “permaneçam conosco, ajudando a construir a nossa universidade e o nosso país”. Segundo Ramírez, ser um professor emérito significa, “antes de tudo, ser simples e acessível, como os nossos dois agraciados”.

Jaime Ramírez afirmou ainda que a cultura institucional da UFMG acrescenta um significado especial ao título: “a dimensão coletiva de cada história que conduz a esse reconhecimento – para sempre marcada no tecido institucional e na memória coletiva da UFMG”. Compuseram a mesa, com o reitor e os novos eméritos, a vice-reitora Sandra Goulart Almeida, o diretor do ICEx, Antonio Flávio Alcântara, e o chefe do Departamento de Química, Dario Windmoller.

‘Mais do que sonhei’

Eucler Bento Paniago lembrou sua origem humilde, na cidade goiana de Jataí, seus estudos em Uberlândia e Belo Horizonte e a formatura como farmacêutico-químico, na então Universidade de Minas Gerais, onde teve como professores nomes como Aluísio Pimenta e Beatriz Alvarenga.

Eucler Paniago:
Eucler Paniago: "ajudei pessoas e instituições"

Dentre as lembranças relacionadas à sua história do Departamento de Química da UFMG, o professor Eucler destacou a elaboração de um projeto único para as quatro áreas de concentração tradicionais da química, no início da década de 70, a participação pessoal no reforço da infraestrutura do Departamento e a criação de oficinas como a de eletrônica. Fez questão de mencionar que a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) teve origem, em 1975, no Departamento de Química.

Eucler Paniago reservou tempo significativo de sua fala a sua participação no Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT), do CNPq. “Tenho muito orgulho de minha atuação no PADCT, responsável por doze anos de viagens a Brasília. O Programa foi um divisor de águas na história da química brasileira. Graças a ele, a química é uma das áreas que mais crescem no país.” O novo emérito destacou também suas passagens pela Ufop, onde ajudou a criar cursos de graduação e pós, e pela UFV, como professor voluntário nos últimos anos.

“Não aprendi tudo, mas fiz muito mais do que poderia ter sonhado. Ajudei pessoas e instituições, criei dois filhos que já me superaram como pesquisadores, e até meu neto mais velho já desponta com um futuro acadêmico”, afirmou Eucler Paniago, para finalizar.

Hélio Duarte disse que Eucler é inspiração para professores
Hélio Duarte: Eucler é inspiração para professores

Ao apresentar Eucler, a quem se referiu como “amigo, mestre e um líder diferenciado”, o professor Hélio Duarte disse que o homenageado teve “papel fundamental na consolidação da pesquisa em química inorgânica no Departamento de Química, particularmente na área de cinética de reações rápidas, especialmente química e bioinorgânica”.

Na coordenação de convênio com a Finep, entre 1975 e 1980, Eucler protagonizou, segundo Duarte, “momento crucial para o Departamento, que repercute até hoje. Os laboratórios de mecânica e hialotécnica ainda se encontram nos mesmos locais”. Na volta à UFMG como voluntário, Eucler Paniago realizou, de acordo com o orador, trabalho de suma importância na renovação das aulas práticas de laboratório em química inorgânica.

“Graças a líderes agregadores, com forte espírito público, conscientes de sua missão na defesa de uma universidade pública e autônoma, é que hoje temos universidades de excelência como a UFMG. O professor Paniago certamente é um desses líderes, que serve de inspiração para tantos professores”, concluiu Hélio Duarte.

Orgulho dos egressos

José Domingos Fabris lembrou que chegou à UFMG em 1973, para a pós-graduação, e foi acolhido e decisivamente influenciado pelo professor José Israel Vargas. “Eu viria a trabalhar com uma técnica física que ainda me era estranha, e o desafio me empolgava. Os trabalhos foram merecendo meu entusiasmo e moldaram definitivamente minha percepção da pesquisa experimental”, recordou.

Fabris: influência de José Israel Vargas
Fabris: influência de José Israel Vargas

Em 1997, depois de passagens pela Universidade Federal de Viçosa e pela Embrapa, Fabris retornou à Universidade como docente do Departamento de Química. “A partir de então, minha trajetória científica na UFMG esteve fortemente vinculada ao Laboratório Mössbauer [implantado no Departamento, na década de 80, pelo professor Milton Francisco de Jesus Filho], com abordagens de repercussão tecnológica, e essa tem sido minha âncora profissional nos últimos 20 anos, na UFMG”, contou o novo emérito.

Fabris destacou os resultados positivos do trabalho realizado pelo seu grupo com os estudantes de graduação e pós-graduação. “Tenho orgulho imenso de pesquisadores e docentes egressos que encantam pelo trabalho na construção do conhecimento científico e do desenvolvimento tecnológico, no Brasil, completou o professor, que recentemente ajudou a criar o primeiro doutorado em biocombustíveis do país, na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Na saudação ao colega, o professor Luiz Claudio Almeida Barbosa começou por destacar características pessoais – “é um homem caseiro, reservado e de muitos amigos” – e contou sua trajetória, lembrando, por exemplo, que Fabris defendeu a primeira tese, na UFMG, na área de físico-química.

Luiz Cláudio Barbosa: Fabris
Luiz Cláudio Barbosa: Fabris já promovia intercâmbios

“Conheci o Fabris em Viçosa. Numa época em que a internacionalização ainda não estava na pauta das universidades, ele promoveu intercâmbios com pesquisadores estrangeiros.” De acordo com Barbosa, Fabris sempre teve grande talento para a formação de novos talentos e a orientação de trabalhos com alto grau de ineditismo. “A criação pioneira do mestrado em Agroquímica, na UFV, ganhou escala no Brasil e serviu de modelo para diversos outros cursos”, comentou o orador, que mencionou ainda, entre outras realizações, a expansão do Grupo de Espectroscopia Mössbauer, na UFMG, e a contribuição administrativa e como membro de comitês científicos.

Para Luiz Claudio Barbosa, Fabris foi “um verdadeiro cientista, que nunca viu a ciência de forma compartimentalizada”, e precursor da aplicação da química nas ciências agrárias. “Professor Fabris, ainda precisamos de você”, conclamou, “especialmente nesses tempos sombrios que pairam sobre a universidade brasileira. Com a contribuição de pessoas de sua envergadura, a universidade há de resistir e deixar o seu legado para as futuras gerações”.

Ideal de universidade pública

Os dois homenageados fizeram rápidas menções, antes dos seus discursos, ao episódio da semana passada em que a Polícia Federal levou coercitivamente a depor dirigentes e servidores da UFMG, em razão de supostas irregularidades na construção do Memorial da Anistia. Eucler Paniago manifestou “repúdio à afronta representada pela ação policial”. José Fabris se disse solidário aos membros da comunidade “que passaram por enormes dissabores de forma injustificada”.

A respeito do mesmo tema, o reitor Jaime Ramírez fechou seu discurso garantindo que era possível permanecer de cabeça erguida “graças à solidariedade da comunidade acadêmica e à certeza de que não querem atingir nenhum de nós em particular, mas o ideal de universidade pública”. Ele disse que a UFMG sairá mais forte desse episódio. “Saibam que a Universidade jamais aceitará o arbítrio”, concluiu.

Jaime
Jaime Ramírez (ao microfone) e a mesa composta de Dario Windmoller (1º à direita), José Fabris, Sandra Goulart Almeida, Eucler Paniago e Antonio Flávio Alcântara

Trajetórias

Eucler Bento Paniago

Doutor em Química Inorgânica pela Purdue University, Eucler Paniago foi professor titular no Departamento de Química da UFMG até 1989. Chefiou o departamento e coordenou o Programa de Pós-graduação. Nesse período, também coordenou o Comitê Assessor do CNPq.

Em 1991, Paniago ingressou no Departamento de Química da Universidade federal de Ouro Preto (Ufop). Chefiou o departamento e foi diretor de Pós-graduação e Pesquisa. Participou da criação do curso de graduação em Química Industrial e do curso de pós-graduação em Engenharia de Materiais; ainda na pós, liderou a criação do curso de Engenharia Ambiental. Aposentou-se compulsoriamente em 2006.

Eucler Paniago voltou, então, à UFMG como professor voluntário e, desde 2012, leciona, também como voluntário, na Universidade Federal de Viçosa.

Sua atuação tem ênfase em cinética de reações muito rápidas, equilíbrio químico em reações de complexação utilizando potenciometria e RMN de Vanadio (V). Na Ufop, atuou na área de química ambiental.

José Domingos Fabris

Engenheiro agrônomo, doutor em Ciências/Química pela UFMG, José Domingos Fabris tem pós-doutorado no Centre d'Études Nucléaires de Grenoble (França), e no Birkbeck College, London University.

Em 1997, ingressou como professor titular no Departamento de Química da UFMG, onde lecionou até 2010. Chefiou o departamento e coordenou o Programa de Pós-graduação em Química. Antes, lecionou no Departamento de Química da UFV por 15 anos, nas décadas de 1970 e 80, e foi pesquisador da Embrapa, em Sete Lagoas (MG), de 1986 a 1997.

Desde 2010, é docente visitante sênior (Capes) na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), em Diamantina, onde fundou e coordenou o Programa de Pós-graduação em Biocombustíveis. É também voluntário no Departamento de Química da UFMG.

Integrou o Comitê de Área de Química da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Câmara de Assessoramento de Ciências Exatas e Materiais da Fapemig. Foi editor adjunto da revista Clays and Clay Minerals.

Fabris foi professor visitante (status George A. Miller) e pesquisador visitante sênior Capes/Fulbright, na University of Illinois at Urbana-Champaign (EUA).

Dedica-se à caracterização químico-estrutural de minerais ferruginosos. Tem interesse primordial na Química do Estado Condensado, pela aplicação da espectroscopia Mössbauer ao estudo de óxidos ou sulfetos de ferro, incluindo uso como catalisadores em reações de transesterificação de triacilglicerídeos ou esterificação de ácidos graxos em bio-óleos.