Instituto de pesquisa francês inaugura laboratório na UFMG
Pioneira na América do Sul, iniciativa reunirá expertises em bacteriologia molecular, bioinformática, imunologia e genômica
Encontro de grupos de pesquisa franceses e do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, que começou na manhã desta terça-feira, 22, no Centro de Atividades Didáticas de Ciências Humanas (CAD 2), campus Pampulha, vai materializar a criação do primeiro Laboratório Internacional Associado (LIA), do Institut National de la Recherche Agronomique (INRA), da França, em um país sul-americano. A programação pode ser conferida no site do evento.
Pelo modelo de parcerias do instituto francês, o LIA formaliza colaboração internacional de longo prazo em função de um projeto científico comum, com duração de cinco anos, renovável por igual período. A programação prossegue até amanhã.
A rede de pesquisa, constituída por meio de laboratórios associados, tem os objetivos de promover intercâmbios e encontros de cientistas, compartilhar conhecimentos e novas ferramentas de investigação e treinar jovens pesquisadores, criando condições para o aumento de colaborações multilaterais e para oferecer respostas eficientes a chamadas de projetos. Unidades do LIA estão instaladas também na China, no Canadá, no México e no Japão.
“Na prática, o evento vai lançar o projeto Bactéria – Inflamação (Bact-Inflam), que busca desenvolver novas estratégias terapêuticas e alternativas aos tratamentos alopáticos para controle de doenças inflamatórias”, explica o coordenador do LIA brasileiro, Vasco Azevedo, professor dos programas de pós-graduação em Genética e Interunidades de Bioinformática.
A estratégia adotada pelo Bact-Inflam inclui caracterização de processos de inflamação e das bactérias neles envolvidas, determinação da composição de microbiota associada a órgãos inflamados ou saudáveis, identificação de espécies marcadoras, caracterizando-as nos níveis celular e molecular, validação em modelos animais e desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas, com base no uso de bactérias imunomoduladoras ou compostos bacterianos.
Seu objetivo é identificar determinantes bacterianos envolvidos em processos pró ou anti-inflamatórios associados a doenças crônicas inflamatórias intestinais (CID) e mastites em animais domésticos, e caracterizar processos inflamatórios em modelos de glândula mamária e intestino.
Intercâmbio franco-brasileiro
O LIA formaliza a relação entre as organizações parceiras, por meio de contrato sobre questões como direitos de propriedade intelectual e transferência de tecnologia, além de estabelecer um quadro oficial para o intercâmbio franco-brasileiro, especialmente para a criação de doutorados co-tutelas para os alunos de pós-graduação.
Vasco Azevedo conta que o histórico desse relacionamento remonta a 1993, quando concluiu doutorado em genética de microrganismos pelo Institut National Agronomique Paris Grignon. Em 1998, já docente da UFMG, promoveu, no ICB, simpósio sobre novas utilizações de bactérias lácteas. A parceria institucional, que agora está sendo oficializada, começou em 2000 e já gerou publicações conjuntas (leia mais no Boletim UFMG).
Nesta quinta-feira, 24, como parte da programação, haverá a defesa de tese de doutorado Comparative genomics of Faecalibacterium spp, do pesquisador Leandro Benevides, que busca desvendar a genômica da bactéria Faecalibacterium prausnitzii. “Muito difícil de ser cultivada, já que morre em ambiente com oxigênio, essa bactéria tem potencial para uso para tratamento, em cápsulas e em transplante de fezes”, comenta o orientador, Vasco Azevedo, acrescentando que a linhagem pode ser usada como marcador, pois sua presença indica que o organismo está saudável. O estudo, inédito, foi desenvolvido no ICB em colaboração com o grupo francês e com o grupo do professor Siomar Soares, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.
O projeto franco-brasileiro envolve cinco grupos de pesquisa franceses do Instituto Micalis, as unidades de pesquisa conjunta para a Ciência e Tecnologia de Leite e Ovos (STLO) e o Laboratório de interação de bactérias comensais e probióticos com o hospedeiro. Integram o LIA outros três laboratórios do ICB – Genética Celular e Molecular, coordenado por Vasco Azevedo, Imunofarmacologia, liderado por Mauro Teixeira, e Imunobiologia, coordenado por Ana Maria Caetano.
A parte francesa do LIA é coordenada por Yves Le Loir, diretor da STLO e idealizador deste Laboratório Internacional Associado, e também por Jean-Marc Chatel, da Micalis. O papel do INRA Agrocampus Ouest Rennes equivale ao da Embrapa, no Brasil.