Intervenção do Festival de Verão convida transeuntes a parar para ‘fazer nada’
Atividade será na manhã do dia 8; proposta é gerar o pensamento em arte, por meio do esvaziamento e da troca com desconhecidos
Na manhã da quinta-feira, 8 de fevereiro, frequentadores do campus Saúde, na região hospitalar de Belo Horizonte, e transeuntes serão convidados a parar e fazer nada ou conversar fiado. É isso mesmo. O objetivo da intervenção O nada e outras atoíces, que compõe a programação do Festival de Verão da UFMG, é, de forma não ostensiva, estimular as pessoas a se permitirem um deslocamento da vida diária por meio do esvaziamento e da troca com desconhecidos.
“Exploramos a oportunidade de as pessoas brincarem, rirem de si mesmas, compartilharem saberes simples, como receitas de bolos. A intervenção cria espaço para diversas manifestações do sujeito e até para a recusa, que também é uma forma de participação”, explica a criadora e curadora da intervenção, Ana Marthinica. Nos últimos anos, a atividade já foi realizada três vezes, sempre no bairro Serrano, região Noroeste da capital, em praça pública e no espaço de arte e cultura Zap 18.
A intervenção começa com a oferta de laranjas aos transeuntes, e a curadora ressalta que quase não são necessários materiais. “Aproveitamos o que existe no local e também recursos imateriais, como o movimento das sombras. O intuito principal é que as pessoas conectem memórias e reduzam o ritmo. A velocidade da vida contemporânea provoca falta de tempo, de memória, de silêncio”, comenta a mediadora de arte, educação e cultura.
Publicitária, Ana Marthinica integra o Projeto Formiga, de pesquisa sobre intervenção urbana, e mantém ateliê de pesquisa em serigrafia. Ela conta que a intervenção O nada e outras atoíces teve como desdobramentos a criação de placas que parodiam a sinalização urbana com sugestões ligadas ao “fazer nada” e a edição do livro de bolso Minutos de silêncio, com páginas em branco, uma brincadeira com o conhecido Minutos de sabedoria.
O projeto também já fez parte de seminário de sociologia na UFMG e, no ano passado, da exposição #arteliBeRdade, na fachada digital do Espaço do Conhecimento UFMG. A curadora ainda tem promovido oficinas de formação de educadores, nas quais compartilha métodos para “ralentar o tempo”.
Pensamento em arte
Os conceitos que orientam a intervenção têm em comum a lógica do pensamento em arte, que rompe com todas as lógicas de organização da sociedade. “A proposta é alterar o ciclo do pensamento, e o vazio é o melhor aliado para isso. A observação do vento e do movimento das nuvens, por exemplo, gera analogias e metáforas que podem lembrar, entre tantas coisas, que a vida muda e que uma situação desfavorável não é para sempre”, diz Ana Marthinica, que desenvolveu parte do projeto da intervenção na pós-graduação da Escola Guignard, da Uemg. A atividade também será mediada por Paulo Falabella.
Alguns dos téoricos que inspiram a atividade são o pedagogo espanhol Jorge Larossa Bondía (segundo ele, o sujeito da experiência é definido por sua disponibilidade) e o linguista russo Mikhail Bakhtin (a "linguagem familiar" e o "riso popular" são naturais à praça pública).
Conhecimento e existência
O Festival de Verão, que será realizado de 5 a 8 de fevereiro, tem como tema Universos expandidos. A ideia é chamar a atenção para a forma como o conhecimento expande a existência e a própria percepção que se tem dela.
Intervenção: O nada e outras atoíces
Concepção e curadoria: Ana Marthinica
Mediadores: Ana Marthinica e Paulo Falabella
Data e horário: 8 de fevereiro, às 9h
Local: campus Saúde da UFMG (Avenida Alfredo Balena, 190, Santa Efigênia)
Classificação etária: livre