ISTs avançam entre jovens e mostram redução no uso de preservativos
Pesquisa da Faculdade de Medicina da UFMG demonstra que homens homoafetivos, mulheres trans e travestis são os grupos mais afetados
Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado um avanço no número de casos de Infecções Sexualmente Transmissíveis, sendo adolescentes e jovens adultos o grupo que mais contribuiu para aumentar as estatísticas das ISTs, embora representem apenas um quarto da população sexualmente ativa do país.
Essa tendência aparece nos dados do projeto de pesquisa desenvolvido pela Faculdade de Medicina da UFMG para avaliar o uso da Profilaxia Pré-exposição ao HIV, na faixa etária de 15 a 19 anos (PrEP 15-19 Minas), e que tem como publico alvo homens que fazem sexo com homens. Os resultados mais recentes do estudo mostram números alarmantes de sífilis, gonorreia e clamídia entre jovens participantes do projeto em BH, com cerca de 14% deles testados com sífilis, percentual maior que o encontrado na população geral da mesma idade. Embora o número de novos casos de ISTs avance entre adolescentes e jovens de todos os gêneros e orientações sexuais, a questão afeta desproporcionalmente aqueles que se identificam como homens que fazem sexo com homens, e mulheres trans e travestis.
O projeto PrEP 15-19 atua em Belo Horizonte, Salvador e São Paulo, buscando facilitar o acesso a todas as ferramentas de prevenção combinada, incluindo a PrEP, e conhecer melhor os fatores de risco ligados ao avanço das ISTs.
O programa Expresso 104,5 desta terça-feira, 6, abordou os recentes resultados da pesquisa em entrevista com o professor Mateus Westin, da Faculdade de Medicina da UFMG. O infectologista do Departamento de Clínica Médica e Doenças Infectoparasitárias falou sobre o projeto de profilaxia com os jovens, os grupos mais afetados e os motivos desse aumento de casos.
“Historicamente, as faixas etárias mais jovens são mais vulneráveis a ISTs e HIV, porque acessam menos preservativo, não têm renda própria para comprar preservativo ou autonomia para programar sua vida sexual. Isso se torna uma questão de oportunidade: quando têm uma situação e o ambiente que os possibilitam ter a relação, eles acabam tendo e muitas vezes não têm o insumo de preservação à mão. E a gente sabe que os serviços de saúde não são muito acolhedores para que o adolescente possa pegar o preservativo, para ter uma consulta para receber orientações, que idealmente deveriam acontecer em casa e também na escola. E nos últimos anos a tendência de um discurso conservador e moralista tem dificultado a pauta de saúde sexual ser tratada de uma forma mais natural e adequada.” explicou.
Produção: Alexandre Miranda, sob orientação de Filipe Sartoreto
Publicação: Flora Quaresma, sob orientação Hugo Rafael