UFMG sedia encontro sul-americano de escolas públicas de Arquitetura
Na cerimônia de abertura, o professor Maurício Campomori defendeu a necessidade de resgatar a concepção de cidade como lugar de encontros e vida em comum
Com o tema A produção da cidade contemporânea no Cone Sul: desafios e perspectivas da arquitetura e do urbanismo, foi aberta na noite desta quarta-feira, 2, no auditório da Reitoria, a 23ª edição do congresso da Associação de Escolas e Faculdades Públicas de Arquitetura da América do Sul (Arquisur), sediado pela UFMG.
De acordo com o professor Maurício Laguardia Campomori, diretor da Escola de Arquitetura da UFMG, o momento de realização do Congresso é revestido de uma série de simbologias. “Por um lado, todos estamos inquietos porque presenciamos o crescimento de ideias ultraconservadoras, ataques ao mundo intelectual, naturalização da desigualdade e privatização do que deveria ser público. Por outro, temos esperança porque somos escolas e universidades públicas, reunidas em torno da ideia de uma educação pública. As universidades são apostas civilizatórias", afirmou.
Algumas “ideias preciosas” que o evento traz à tona, segundo Campomori, dizem respeito à visão da cidade como lugar de vida em comum e do direito à cidade como agenda capaz de unificar movimentos sociais diversos. “A cidade deve ser palco do espetáculo da humanidade e da concepção de felicidade para todos”, comentou. Por fim, o professor lamentou aquilo que considera “uma contradição”: “Está cada vez mais difícil separar a ideia de desenvolvimento urbano da economia totalmente financeirizada. Nesse contexto, as cidades convertem-se cada vez mais em espaços de reciclagem de capitais. Isso é um problema complexo”.
Espaço de sonhos
A reitora Sandra Regina Goulart Almeida observou que a temática do evento se coaduna com “a missão maior da universidade: de interação com a cidade, de inserção regional e tradição extensionista”. “A universidade e a cidade contemporânea devem ser espaços que acalentam sonhos, por um país mais humano, justo e tolerante”, disse.
Sandra Goulart destacou a importância da união das instituições do continente diante de desafios que lhes são comuns, como a ascensão do autoritarismo e da censura, a ameaça ao funcionamento das instituições, a tentativa de estrangulamento financeiro, o desrespeito à autonomia acadêmica e o culto à ignorância – contextos, de acordo com ela, vivenciados várias vezes pela "jovem universidade da América do Sul". "A cada ciclo, o continente ressurge mudado, porque não se pode evitar para sempre que direitos sejam conquistados, nem se pode bloquear indefinidamente a busca por melhores condições de vida”, afirmou.
Presidente da Arquisur, o arquiteto Fernando Gandolfi destacou algumas particularidades culturais de Belo Horizonte que, em sua visão, tornam a cidade especial para sediar o evento. “Cada cidade consolida à sua maneira o espaço da arquitetura latino-americana. É notável e digna de reconhecimento a influência simbólica e material de Oscar Niemeyer na cultura arquitetônica de Belo Horizonte, que é particularmente atrativa”, observou Gandolfi, que é decano da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Nacional de La Plata (UNPL), na Argentina.
Fundada em 1992, a Arquisur é formada por instituições da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, e promove a cooperação científica, tecnológica, educacional e cultural entre seus membros. A entidade realiza reuniões e congressos anuais.
Conferência
A conferência de abertura foi feita pela arquiteta Jô Vasconcellos, graduada na UFMG em 1971. Chefe de um escritório de arquitetura de Belo Horizonte, Jô participou de projetos de grande relevância para a história recente da arquitetura brasileira e de Minas Gerais, como o Centro de Apoio Turístico Tancredo Neves, o Centro Empresarial Raja Gabaglia, o Complexo Cultural Itamar Franco e a revitalização da Praça da Liberdade. Ao lado do marido Éolo Maia, falecido em 2002, ela assinou vários projetos premiados em concursos de arquitetura, como a reestruturação da Praça Sete de Setembro e adjacências, implementada pela Prefeitura de Belo Horizonte em 1990.
Jô Vasconcellos compartilhou com o público algumas lições sobre o seu ofício profissional, entre elas, a de que “o arquiteto não trabalha sozinho”. “É preciso uma equipe multidisciplinar, pois não somos obrigados a saber tudo", defendeu.
A programação do 23º Congresso da Arquisur segue até esta sexta-feira, 4 de outubro. Na tarde de hoje, os painéis do evento vão tratar de atuação profissional, extensão e pesquisa sob a perspectiva com coletivos e movimentos sociais. Amanhã, os temas abordados serão relativos a políticas urbanas sustentáveis e à produção arquitetônica contemporânea no Brasil. Os professores Guilherme Wisnik (USP), José Rosas Vera (Universidade Católica do Chile) e Roberto Monte-Mór (UFMG) estão entre os conferencistas.