Internacional

Missão de reitores na Rússia impulsiona colaboração com universidades dos Brics

Sandra Goulart, da UFMG, integrou delegação de instituições brasileiras em agenda que precedeu a cúpula do bloco, que começa nesta terça, em Kazan

Sandra Goulart (à direita) em reunião de reitores do Brasil e da Rússia
Sandra Goulart (à direita) em reunião de reitores do Brasil e da Rússia Foto: Embaixada do Brasil na Rússia

A reitora Sandra Regina Goulart Almeida participou na última semana (14 a 18 de outubro), em Moscou (Rússia), de programação que reuniu dirigentes de universidades dos países do bloco Brics, visitou instituições russas e discursou em fórum de universidades do Brasil, da Rússia e da Bielorrússia.

Os encontros de reitores precederam a cúpula, que se realiza nesta semana, em Kazan, do bloco formado originalmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e que tem incorporado novos países. Sandra Goulart visitou instituições como a National Research University Higher School of Economics (HSE) e o Moscow State Institute of International Relations, vinculado ao Ministério de Relações Exteriores do país anfitrião.

A missão, que reuniu a maior delegação de reitores brasileiros em uma visita à Rússia, representou forte impulso a um programa de colaboração acadêmica que já reúne mais de 20 universidades brasileiras e 40 russas. A missão foi organizada pela Andifes a convite da embaixada do Brasil na Rússia.

A HSE e a UFMG, por exemplo, desenvolvem pesquisas conjuntas e ações de intercâmbio de alunos e servidores. A MSU é a maior e mais antiga instituição da Rússia e uma das que têm enviado professores russos de português para estágios na UFMG e para ensinar o idioma russo a membros da comunidade universitária. As outras instituições que já enviaram docentes são a Moscow State Linguistics University (MSLU) e a Belarus State Economic University, da Bielorrússia.

Pontos em comum
Em discurso no Fórum de Reitores do Brasil, da Rússia e da Bielorrússia, Sandra disse que já estão sendo colhidos os primeiros frutos dos contatos e das discussões iniciadas há cerca de dois anos sobre ampliação da colaboração acadêmica entre instituições dos três países. “Se há importantes diferenças entre nossas nações, pensando nas distâncias a percorrer e nos desafios linguísticos, há também muito que nos une: nossos povos amigos e solidários, economias com enorme potencial para a agricultura e fontes variadas de energia, nossas águas e nossas ricas culturas. E, principalmente, a crença na educação como pilar de sustentação inestimável para nossos países”, afirmou.

A reitora destacou que há vários temas identificados como prioritários, como educação e ensino de línguas, bioeconomia, agricultura, transição energética, saúde global, transformação digital e IA, materiais avançados e, sobretudo, mudanças climáticas e sustentabilidade, entre outros. Sandra ressaltou que as universidades públicas são responsáveis por mais de 90% da pesquisa de ponta realizada no Brasil, uma característica que o país tem em comum com a Rússia.

Em fórum de reitores, Sandra Goulart assinou acordo de cooperação com a Moscow State University
Em fórum de reitores, Sandra Goulart assinou acordo de cooperação com a Moscow State University Foto: divulgação

Sandra Goulart anunciou alguns passos já dados pela UFMG para a aproximação acadêmica. “Estamos oferecendo, para estudantes de nossas universidades parceiras da Rússia e de Belarus, um curso remoto síncrono de português do Brasil como língua adicional. Criamos ainda um programa para que professores de língua portuguesa na Rússia e Belarus façam um estágio de pesquisa em nossa universidade, com acesso a material para o ensino da variante brasileira e oportunidade de ensinar russo para brasileiros. Eles têm grande interesse na variante brasileira do português”, afirmou.

Curso de férias e centro de estudos
A UFMG recebeu, em julho deste ano, 17 estudantes russos e bielorrussos para o curso de férias em estudos brasileiros – cultura, história, economia, geografia, direito e línguas – e também um professor russo que abordou a história contemporânea da Rússia, entre outros. A Universidade também enviou professores e um técnico para participar de eventos na Rússia e passou a integrar uma rede de faculdades de Direito dos Brics.

A UFMG vai criar, ainda em 2024, um Centro de Estudos Jurídicos Comparados dos países dos Brics. E a Rússia foi convidada a instituir, na Universidade, um centro especializado em temas do país. “Pretendemos, até o final de 2025, ter uma área de estudos em língua e literatura russa, contando com o imprescindível apoio de nossas parceiras russas e bielorrussas, como já acontece em outras universidades do Brasil”, disse a reitora.

Sandra reiterou propostas dos ministérios da Educação para os países dos Brics como a cooperação em educação digital, o desenvolvimento de inteligência artificial e recursos multimídia para aprimorar o aprendizado e a criação de um sistema de avaliação e classificação universitária que reflita as características únicas das nações Brics – uma vez que os rankings internacionais, em regra, foram concebidos na Europa e América do Norte, “com premissas e preocupações que não refletem a realidade e os desafios que nossas sociedades e países enfrentam”.

Outros compromissos assumidos pelos governos dos Brics são o fortalecimento da alfabetização ambiental, o apoio às ciências humanas e aos jovens talentos. “Que possamos seguir trabalhando por cooperações que sejam horizontais, solidárias e recíprocas”, finalizou a reitora, em seu discurso. Sandra foi acompanhada, nessa viagem, pelo diretor de Relações Internacionais, Aziz Tuffi Saliba.

As áreas de cooperação entre universidades de Brasil, Rússia e Bielorrússia identificadas pela Embaixada do Brasil em Moscou são ciências duras; meio ambiente; tecnologias e vida digital do futuro; bem-estar; ciências da terra, energia, geologia e aplicações nucleares; tecnologias e aplicações aeroespaciais; inovação, empreendedorismo e economia; linguagem, cultura e literatura; relações internacionais e direito internacional; português e russo como línguas estrangeiras.

Financiamento
O presidente da Andifes, José Daniel Diniz Melo, reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), indicou outra frente de cooperação entre Brasil, Rússia e os outros países do bloco. “Além da colaboração científica, expresso entusiasmo pela proposta de criação de um fundo para apoiar programas de incentivo à mobilidade estudantil para universidades dos países do Brics. Eventualmente, poderíamos explorar a possibilidade de criar meios para o novo banco de desenvolvimento do Brics – The New Development Bank – apoiar projetos de cooperação acadêmica e científica entre os países do agrupamento”, sugeriu José Daniel Melo, em entrevista ao Portal da Andifes.

Sandra Goulart esteve em reunião na Moscow State University
Na MSU, Sandra Goulart tratou de treinamento avançado em idiomas e cursos de verãoFoto: Aziz Saliba | UFMG