Morre Ângela Pezzuti, ex-chefe do antigo Departamento de Administração da UFMG
Servidora foi, nos anos 1970, uma das principais lideranças em Minas do movimento de mulheres pela anistia
A servidora técnico-administrativa Ângela Maria Pezzuti, que durante oito anos dirigiu o antigo Departamento de Administração da UFMG, morreu nesta quinta-feira, dia 14, em Belo Horizonte. Ângela, que tinha 92 anos, sofreu um AVC. Além de sua forte identificação com a UFMG, onde trabalhou de 1965 a 1991, ela foi uma das principais lideranças do movimento de mulheres pela anistia em Minas Gerais, na segunda metade dos anos 1970.
O corpo de Ângela Pezzuti será velado no Metropax (Avenida do Contorno, 3000, bairro Santa Efigênia), nesta sexta-feira, dia 15, das 9h às 12h.
A professora Magda Neves, aposentada do Departamento de Ciência Política da UFMG, lamentou a morte de Ângela Pezutti em postagem no Facebook. “Perdi uma grande e querida amiga de muitos anos”, escreveu Magda, que, ao lado de outras militantes, incluindo Pezzuti, fundou, em Minas Gerais, o movimento de mulheres pela anistia. “Ela foi a vice da Dona Helena Greco [ativista dos direitos humanos e primeira vereadora eleita em Belo Horizonte, em 1982]. Lutou com todas as forças contra a ditadura”, pontuou Neves, lembrando ainda na postagem que a servidora teve uma irmã (Carmela Pezzuti) e dois sobrinhos presos, torturados e exilados pela ditadura.
Outra companheira de militância, a servidora aposentada da Fundação Ezequiel Dias (Funed) Maria Mercedes Valadares Guerra também conheceu Ângela no movimento pela anistia. “Foi uma desbravadora, amiga, irmã, uma mulher firme e sensata”, testemunha Mercedes, que é bioquímica, com pós-graduação em Química pela UFMG. A ditadura acabou, mas a amizade entre as duas seguiu adiante. “Ângela estava feliz. Nesta semana, havia concedido uma entrevista para a produção de um documentário, na qual relatou suas memórias sobre o período da anistia e o da ditadura. Ela fará muita falta”, lamentou.
Sonho realizado
Nascida em Araxá, na região do Alto Paranaíba, Ângela Maria Pezzuti mudou-se para Belo Horizonte em 1964 com o sonho de trabalhar na UFMG. O desejo começou a se tornar realidade já no ano seguinte, quando foi contratada como secretária do extinto Escritório Técnico, sediado no prédio da Faculdade de Direito. Com a expansão do campus Pampulha, Ângela e seus colegas de escritório foram transferidos para o oitavo andar do prédio da Reitoria. Ela trabalhou na UFMG até 1991. De 1979 a 1987, ocupou o cargo de diretora do então Departamento de Administração, uma das estruturas que posteriormente dariam origem ao atual Departamento de Logística de Suprimentos e de Serviços Operacionais (DLO), vinculado à Pró-reitoria de Administração.
“Eu já colaborava com a assistência a presos políticos e com a luta pela anistia. Respondia a um processo que, em seus três artigos, poderia somar 28 anos de prisão. Mesmo assim, o Celso [o então reitor Celso de Vasconcellos Pinheiro] me convidou para ocupar esse cargo”, recordou ela, em depoimento à TV UFMG em 2017, por ocasião das comemorações dos 90 anos da Universidade. Na mesma gravação, ela disse ter vivido uma época especial da vida do país, “o auge e a decadência do regime militar”. Para a UFMG, fez uma declaração de amor: “A Universidade foi um polo de resistência ao regime militar, um lugar de união de sentimentos e amizade. Foi praticamente a minha vida”.
Ângela Maria Pezzuti deixa a filha, Ângela Aparecida Pezzuti, e a neta Gabriela.
Assista ao depoimento concedido à TV UFMG: