Teclado inteligente desenvolvido por egressos da UFMG é premiado
Dispositivo possui teclas gigantes que podem ser tocadas por qualquer parte do corpo e é compatível com sensor de piscadelas
Uma equipe de empreendedores formada na UFMG vem desenvolvendo e aprimorando, desde 2013, um conjunto de soluções voltadas para o uso do computador por pessoas com limitação de movimentos e de coordenação motora. Carro-chefe do projeto, o Teclado Inteligente Multifuncional TiX, além de oferecer todos os recursos de um teclado convencional por meio da combinação de teclas gigantes – que podem ser tocadas por qualquer parte do corpo –, é ainda compatível com um sensor de piscadelas, o que viabiliza a comunicação para indivíduos que só dispõem do movimento dos olhos.
A equipe recebeu, no último dia 12, o prêmio Entrepreneur Hero (Herói empreendedor, em português), durante a EdTech Innovation Start-up Competition 2018, realizada em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, na qual foram apresentadas tecnologias relevantes para ecossistemas educacionais. A solução baseada no TiX foi considerada a melhor entre os mais de 800 trabalhos inscritos de 58 países e recebeu investimento de US$ 150 mil. “O produto nos orgulha porque foi concebido para gerar possibilidades e transformar a vida dos usuários”, comenta o engenheiro elétrico formado pela UFMG Adriano Rabelo Assis, diretor da startup Geraes Tecnologia Assistiva, responsável pelo TiX.
Os demais criadores da tecnologia são os ex-alunos Esdras Vitor Pinto (Engenharia Elétrica) e Henrique Pires Latorre (Engenharia de Controle e Automação), além do professor Julio Cezar David de Melo, aposentado há dois anos no Departamento de Engenharia Eletrônica da UFMG.
Comandos simplificados
No TiX, existem 11 botões grandes e coloridos, espaçados e sensíveis ao toque. O acionamento de dois desses botões em sequência equivale a uma das teclas do teclado convencional. “Para indivíduos com deficiência severa, é muito mais fácil apertar dois botões no TiX do que acertar um único ‘alvo’ no teclado convencional, sem esbarrar nas demais teclas. Livre da frustração de errar, o usuário é mais eficiente na digitação”, argumenta Adriano Assis.
Por meio uma sequências de toques, muda-se a função do teclado para que ele possa operar o mouse. “Para pessoas sem coordenação motora fina, o desafio de manipular o mouse é ainda maior. As ações de clique duplo e de arrastar itens, por exemplo, são complexas e exigem precisão”, observa o engenheiro.
Como descreve Adriano Assis, os 11 botões determinam a direção, a continuidade e a velocidade do deslocamento do cursor. “Tudo é procedido de botão em botão, sempre um por vez, e adaptado ao tempo de reação das pessoas com restrição de movimentos. Ações muito rápidas são desconsideradas, pois o sistema as considera involuntárias”.
Para aqueles que só dispõem do movimento dos olhos, a comunicação é viabilizada por meio da conexão do TiX a um detector de piscadelas, que consiste em um sensor instalado na haste de qualquer óculos. Nesse caso, os botões acendem luzes, em sequência, e são acionados quando o usuário pisca o olho. O detector de piscadelas também é usado sem o TiX como componente de softwares que a startup criou especificamente para comunicação. “Os programas são baseados em um teclado virtual projetado na tela. O usuário pisca para acionar as letras, e um vocalizador pronuncia a frase formada”, detalha Adriano Assis.
Os equipamentos desenvolvidos pela equipe de egressos da UFMG também são oferecidos a escolas e instituições na forma do Programa Educacional TiX Letramento, que auxilia profissionais de educação inclusiva e atendimento educacional especializado, favorecendo a leitura, a produção de textos e os cálculos matemáticos dos alunos com deficiências diversas.
Tudo começou na UFMG
A Geraes Tecnologia Assistiva nasceu em 2009, na Escola de Engenharia da UFMG, quando o professor Julio Cezar de Melo convocou alguns de seus alunos de graduação para a execução de um projeto em tecnologia assistiva que visava ao acesso de pessoas cegas ao transporte público.
Quatro anos mais tarde, o grupo se dedicou ao aprimoramento do projeto de teclado combinatório que havia sido idealizado pelo cientista da computação Gleison Fernandes de Faria, na Universidade de Itaúna. Portador de paralisia cerebral, Gleison utilizou um capacete adaptado com uma ponteira para escrever sua monografia de conclusão de curso, na qual propôs o desenvolvimento de uma ferramenta apropriada para pessoas com limitação funcional como a sua. “Desde então, temos nos dedicado a tornar o produto, além de inovador, cada vez mais abrangente”, comenta Adriano.
Em 2018, a empresa abriu uma unidade de negócios nos Estados Unidos, com o nome de Key2Enable. Os produtos são comercializados para pessoas físicas na modalidade de assinatura, com preços a partir de R$ 189 mensais. A equipe se responsabiliza por avaliar a condição motora da pessoa, recomendar o equipamento necessário, realizar a manutenção periódica e a atualização conforme a evolução da tecnologia. Para escolas, clínicas de reabilitação e outras instituições, o TiX é vendido a partir de R$ 2.960.
“Atendemos o usuário final com atenção especial, de maneira totalmente personalizada, conforme a demanda”, enfatiza Adriano Assis. Nos casos de deficiência intelectual ou cognitiva, o engenheiro destaca que o produto só terá eficácia se seu uso for acompanhado por um profissional especializado, como psicopedagogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta ou fonoaudiólogo. “Para extrair o máximo potencial do usuário e da tecnologia, é fundamental conhecer o paciente e orientar a família. Isso não é possível se estivermos longe da causa, é preciso estar presente”, finaliza o empreendedor.