Trabalhos de iniciação científica são apresentados em instalações do CAD 3
Combate à vulnerabilidade informacional, encarceramento em massa e monitoramento de territórios por IA são temas que desafiam estudantes da UFMG
Com participação de 280 estudantes, selecionados entre 2.840 inscritos, a 33ª Semana de Iniciação Científica e o 14º Seminário de Iniciação Científica Júnior ocorreram durante a manhã e a tarde desta quarta-feira, dia 23. Estudantes de todas as áreas expuseram painéis e apresentaram suas pesquisas aos visitantes em instalações montadas no CAD 3.
O trabalho da estudante Laura Ribeiro, da Faculdade de Direito, teve como tema as estratégias para combate à vulnerabilidade informacional das comunidades afetadas pelas barragens em Minas Gerais. A pesquisadora ouviu moradores das cidades do entorno e representantes de 35 barragens no estado. Laura Ribeiro analisou os meios pelos quais os centros de informação podem fornecer orientações antes, durante e após eventuais desastres e como verificar a eficácia das estruturas de informação resilientes na redução da vulnerabilidade das comunidades afetadas.
“Existe a necessidade de ações integradas na organização de respostas a desastres, por parte do Corpo de Bombeiros, da Defesa Civil e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais”, pontuou a estudante.
Injustiça punitiva
Desde os anos 1990, o aumento do controle estatal na América Latina fez crescer os índices de encarceramentos, principalmente de grupos sociais marginalizados. De acordo com a estudante de Gestão Pública Aisha Capanema, essa conjuntura, no Brasil, resultou em prisões superlotadas e polícias mais letais. “Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2023), a população carcerária triplicou nas últimas duas décadas, passando de 174.980 presos, em 2000, para 826.740, em 2022, criando um déficit de 230.578 vagas. Além disso, em 2022, cerca de 6.429 pessoas foram mortas pelas polícias nos estados brasileiros, o que significa 17 mortes por dia, em sua maioria homens negros e de periferias”, contextualizou.
A estudante é autora do trabalho Criminologia na América Latina: processos de criminalização e a insuficiência da pena nas lutas sociais. Aisha estudou os sentidos dados ao crime e à pena ao longo da história e analisou a vivência latino-americana, com foco nas raízes históricas do sistema penal no Brasil: os resultados de sua pesquisa ajudam a compreender as funções do aparelho repressivo brasileiro no contexto do encarceramento em massa e questionam sua eficácia na garantia e ampliação de direitos sociais.
Seus achados, como enfatizou Aisha Capanema, mostraram que as categorias de crime e pena são influenciadas por interesses políticos e econômicos. “Isso indica que as prisões funcionam como instituições que sustentam o capitalismo. Assim, a raça e a classe influenciam tanto a produção quanto as estratégias de controle e dominação. O encarceramento em massa é uma parte da agenda neoliberal que pune a pobreza, com foco nas questões raciais.”
Inaugurado em Belo Horizonte no ano passado, o sistema Monitoramento 3.0 é composto de 1.223 câmeras que vigiam o território com uso de Inteligência Artificial (IA), criando uma cerca virtual de proteção em monumentos e áreas protegidas, identificando objetos abandonados em zonas públicas e emitindo alertas de crimes. Em sua pesquisa, a estudante Gabriela Thaís, do curso de Direito, analisou a viabilidade da ferramenta como política pública de segurança.
“O policiamento preditivo com uso de IA tem sido questionado, em todo o mundo, por seus resultados enviesados, principalmente quanto à questão racial. Isso acontece porque os algoritmos dependem da influência humana, o que aciona um sinal de alerta para a sociedade”, discute a autora.
Instituições político-religiosas
O trabalho de Nina Garbellini, também da Faculdade de Direito, foi centrado na crescente presença de atores que figuram, simultaneamente, nas esferas da política e da religião. “Tais instituições, que vêm assumindo forma de associações civis, estão ganhando destaque no meio jurídico, seja por sua recorrente presença nos tribunais, seja por atividades de litigância local na defesa de seus interesses”, afirma a autora.
Compuseram o objeto da análise a Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura (CDB) e as associações nacionais de Juristas Evangélicos (Anajure) e Islâmicos (Anaji). Nina identifica objetivos e interesses, como entidades estatais recebem essas associações e qual a relevância de suas opiniões.
As apresentações foram organizadas pela Diretoria de Fomento à Pesquisa da Pró-reitoria de Pesquisa (PRPq) e integram a Semana do Conhecimento de 2024.
Celebração da ciência
Os participantes passaram por uma primeira avaliação nos dias 7 e 8 de outubro, quando apresentaram suas pesquisas a uma comissão de docentes da UFMG. A seleção levou em consideração a qualidade dos resumos, pôsteres, vídeos e apresentações. Após essa etapa, 280 alunos foram selecionados para a apresentação final, que foi avaliada por pesquisadores externos à Universidade, reconhecidos em suas áreas de atuação.
Entre os 280 alunos que se apresentam, 40 são do Programa de Iniciação Científica Júnior, destinado a alunos do ensino médio, 60 representaram o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Pibic), financiado pelo CNPq, e 180 são graduandos que participam de outros programas de iniciação científica, com apoio da Fapemig e do CNPq ou como bolsistas voluntários.
Os prêmios serão entregues na sexta-feira, dia 25, e vão contemplar três grandes áreas: Vidas, Humanidades e Exatas. Cada uma dessas áreas terá um aluno agraciado com o Grande Prêmio, e outros trabalhos de destaque receberão menções de relevância acadêmica.
Segundo a professora Karina Braga, diretora de Fomento da PRPq, a Semana de Iniciação Científica reafirma o compromisso da UFMG com a educação de qualidade e a promoção da pesquisa, “preparando os alunos para os desafios do futuro e incentivando a curiosidade científica desde cedo”. “Com o apoio de instituições como o CNPq e a Fapemig, o evento se consolida como um marco na trajetória acadêmica dos participantes, celebrando a ciência e a inovação”, observou.