Ensino

UFMG publica edital para seleção de candidatos ao curso de Letras-Libras

Trinta estudantes vão ingressar no segundo semestre deste ano

Falante de Libras em ação:
Falante de Libras em ação: docentes para a educação básicaJosé Cruz / Agência Brasil

O edital de abertura do primeiro vestibular específico para seleção de candidatos ao curso de licenciatura em Letras-Libras foi publicado nesta segunda-feira, 22, no Diário Oficial da União e no site da Comissão Permanente de Vestibular (Copeve). Criado no fim do ano passado pela Faculdade de Letras, o 91º curso de graduação da UFMG vai oferecer 30 vagas, sendo 25 para candidatos surdos e cinco para ouvintes, com entrada no segundo semestre deste ano.

Em 2002, a Lei 10.436 reconheceu a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio legal de comunicação e expressão da comunidade surda, que representa 5,1% da população brasileira, com 9,7 milhões de pessoas, de acordo com último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010. Desse total, mais de dois milhões têm deficiência auditiva severa e um milhão são crianças e jovens até 19 anos. 

A expectativa dos coordenadores do colegiado do curso Letras-Libras, Giselli Mara da Silva e Guilherme Lourenço Souza, é de que a nova formação prepare docentes para atuarem, especialmente, nas escolas de educação básica, atendendo a uma demanda formal da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, enviada à UFMG, em 2015. A rede estadual atende 1.317 alunos surdos, 1.772 com alguma deficiência auditiva e nove surdocegos, a maior parte em escolas regulares inclusivas, de acordo com dados do Censo Escolar 2018.  

Acessibilidade e protagonismo
O vestibular específico, cujo edital foi aprovado no dia 9 de abril pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), terá provas em Libras e Língua Portuguesa. Na avaliação da professora Giselli, essa é uma condição estabelecida desde o início da concepção do curso, que favorece a acessibilidade e a inclusão de membros da comunidade surda na formação e o seu protagonismo na futura atuação como professores da língua de sinais.

Os candidatos – surdos e ouvintes – também concorrerão nas modalidades de vagas para cotistas e pessoas com deficiência e farão provas em Libras sobre conhecimentos das disciplinas escolares (geografia, história, matemática, física, química e biologia) e conhecimentos gerais sobre língua de sinais e surdez. A Língua Portuguesa terá duas provas diferentes, sendo uma para os candidatos surdos, que têm o português como segunda língua, e outra para os candidatos ouvintes.

“Como a maioria das aulas será ministrada em Libras, o vestibular vai avaliar, simultaneamente, a fluência do candidato na língua de sinais e os conhecimentos gerais sobre as demais disciplinas escolares”, observa Guilherme Lourenço.

Maturidade
Na avaliação de Giselli Mara, a proposta do segundo curso oferecido pela Faculdade de Letras “revela a maturidade alcançada pela Universidade na construção de uma politica de acessibilidade e inclusão”. Guilherme Lourenço acrescenta que “ter uma área de Libras já consolidada, com vários projetos de ensino, pesquisa e extensão em desenvolvimento, traz um diferencial à formação proposta pela UFMG”.

Os coordenadores lembram que, desde 2009, a Faculdade de Letras vem investindo na formação de um quadro docente qualificado na área de Libras. Atualmente, são cinco professores, sendo quatro doutores e um mestre. “Essa qualificação nos permitiu construir um projeto sólido para a formação de professores, que atende não somente a uma determinação legal, mas também à própria política de inclusão da Universidade”, afirma Giselli Mara.

“O profissionais atuarão no ensino de Libras tanto para pessoas ouvintes, que querem aprender a Libras como segunda língua, quanto para crianças surdas, que têm direito de fazer seu percurso escolar com disciplinas na sua língua materna, a língua de sinais”, observa Lourenço.  

O curso vai contemplar três grandes eixos: formação linguística, com disciplinas sobre a língua de sinais, sua estrutura, gramática e aquisição; literatura e artes surdas, com conteúdos sobre literatura surda e os aspectos culturais da comunidade; formação pedagógica dos futuros profissionais, a partir da junção de todos esses conhecimentos e sua aplicação no ensino da Libras. A produção de material pedagógico para ensino de Libras na educação básica será outra frente pedagógica.

Além dos professores Giselli Silva e Guilherme Lourenço, compõem a área de Libras da Faculdade de Letras as docentes Michelle Murta, Rosana Passos e Elidéa Bernerdino, que coordena o Núcleo de Estudos sobre Libras, Surdez e Bilinguismo (NELiS).

Matéria atualizada em 03/05/19, com dados do Censo Escolar 2018, sobre número de alunos surdos atendidos na rede estadual de ensino. 

Assista ao vídeo produzido pela TV UFMG.

Teresa Sanches