Vem lá de dentro
Documentário produzido por estudantes de comunicação aborda identidade feminina inspirado na relação das mulheres com seus cabelos
"Cabelo quando cresce é tempo
Cabelo embaraçado é vento
Cabelo vem lá de dentro
Cabelo é como pensamento"
(Trecho da música Cabelo, de Arnaldo Antunes)
A relação de diferentes mulheres com seus cabelos é tema central de Molduras da gente, documentário produzido e dirigido por Ana Naemi, Bruno Silvestrini, Celso Haddad, Gabriela Filippo, Henrique Lima e Isadora Fachardo, estudantes do sexto período do curso Comunicação Social da UFMG.
O projeto surgiu de trabalho realizado para uma das disciplinas do curso, e, de acordo com Haddad, um dos diretores, a ideia inicial era produzir um filme sobre a representatividade feminina na publicidade.
Outra idealizadora, Gabriela Filippo, conta que o grupo pretendia estudar como as mulheres são representadas quando a publicidade se dirige diretamente a elas, mas resolveu focar em um mercado que diz muito do que é ser mulher, o de produtos para cabelos. “Os cabelos são parte da identidade feminina (muito mais que a masculina). Nesse contexto, a publicidade acaba influenciando não só no consumo de um produto, mas também na concepção do eu, na autoimagem e na autoestima”, justifica.
A elaboração do projeto, as filmagens e as edições demandaram aproximadamente três meses. Segundo Celso Haddad, a produção do filme foi feita de maneira bem flexível, com a construção de um roteiro que possibilitou às mulheres entrevistadas contribuir com suas experiências no processo criativo, transformando-se, assim, em coautoras do filme.
“Entrevistamos 14 mulheres de diferentes áreas profissionais e idades, procurando registrar o olhar de consumidoras, acadêmicas que desenvolveram estudos sobre a mulher na publicidade e profissionais de agências publicitárias. A construção dos enredos foi evoluindo durante as entrevistas. O nome do documentário nasceu de uma fala no filme que nos encantou”, informa Celso Haddad, ressaltando o caráter colaborativo do longa.
"Agora posso sair na chuva"
Com pouco mais de uma hora de duração, Molduras da gente mostra como as mulheres lidam com sua própria imagem e qual o papel e a influência dos comerciais na definição da identidade. Camila Vilaça e Luisa Souza, por exemplo, submeteram seus cabelos à química para relaxamento e alisamento e agora passam por um processo de transição capilar. “É muita liberdade”, celebrou Camila, durante a entrevista. “Agora eu posso lavar o meu cabelo, posso sair na chuva!”, comemorou.
Segundo a professora Laura Guimarães, do Departamento de Comunicação Social da UFMG, a publicidade é extremamente poderosa, seja na definição do consumo, do comportamento e até da autoestima. Por isso, a representação se torna tão essencial para a formação de uma identidade. “Representação conta muito, principalmente em uma sociedade em que a beleza feminina é um valor, é algo muito cobrado. Quando uma menina vê nas propagandas mulheres que seguem um padrão de beleza, que não inclui, por exemplo, blackpower e tranças, ela pensa que, a menos que mude o próprio cabelo, não será tão bonita quanto aquelas que se apresentam nos comerciais. Isso mexe profundamente com a construção do sujeito”, analisa.
Documentário: Molduras da gente
Direção e produção: Ana Naemi, Bruno Silvestrini, Celso Haddad, Gabriela Filippo, Henrique Lima e Isadora Fachardo
Entrevistadas: Adriana Machado (publicitária), Adriana Romeiro (professora universitária), Ângela Marques (professora universitária), Camila Vilaça (estudante de Pedagogia) Caroline Marinheiro (publicitária), Christiana Lima (relações públicas), Giovanna Filippo (estudante), Iris Santos (servidora pública), Laura Guimarães (professora universitária) Lorena Macedo (professora), Luciana Prado (estudante de Medicina), Luisa Souza, (estudante de Administração Pública), Paula Albino (designer) e Sandra Rosa (cabeleireira).
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