Quem nunca passou, quando criança, pela fase das perguntas: aquele período de extrema curiosidade, em que os questionamentos aos adultos brotam em volumes colossais? Com novas inquietações a cada hora, é normal que pais e professores fiquem confusos: se já é difícil explicar certas coisas para as crianças, imagine encontrar uma linguagem inteligível e interessante para fazê-lo. Levar a curiosidade das crianças a sério é muito importante para estimular a formação de um pensamento reflexivo. Como esclarecer as dúvidas dos pequenos de forma natural e eficiente, preservando seu ­interesse em conhecer?

Esse é o principal objetivo do projeto de extensão Universidade das Crianças, do ICB, que recentemente completou nove anos produzindo conteúdo de divulgação científica dirigido a crianças e jovens. A partir de perguntas feitas por alunos de escolas públicas da rede de educação básica de Minas Gerais ou enviadas pelo site do projeto www.universidadedascriancas.org, professores, pesquisadores e estudantes de diferentes cursos da UFMG produzem vídeos, áudios e textos ilustrados para respondê-las.

Na visão da professora Débora D’ávila Reis, coordenadora do projeto, um aspecto que faz as pessoas se identificarem com o Universidade das Crianças é a sua preocupação com a diversidade. "Procuramos, em todo o conteúdo visual, garantir a pluralidade de identidades. Todos os ilustradores foram capacitados para reproduzir as mais variadas combinações de características humanas em cada uma das personagens", diz.

Cinema

O mais recente trabalho do projeto é uma animação que responde à pergunta Por que vemos colorido?, enviada por Daniell Muños García, de 11 anos, da cidade de Envigado, na Colômbia. O vídeo é resultado de parceria com o Universidad de los niños, iniciativa análoga desenvolvida na Universidad EAFIT, em Medellín. Coerente com as estratégias de internacionalização da iniciativa, também foram produzidas animações em inglês e espanhol, disponíveis no site do projeto.

O alcance dos conteúdos é tão amplo que alguns curtas-metragens já competiram em festivais e mostras em diferentes estados do Brasil e no exterior. O projeto, vencedor de duas edições do Festival de Cine y Video Científico (Cinecien) do Mercosul, tem confirmada participação na Mostra Íbero-americana de Cinema de Animação, Baixada Animada, de 27 a 30 de outubro, no Rio de Janeiro. Outras participações recentes foram na 14ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis e no Festival de Cinema Ambiental e Sustentável de Burarama, no Espírito Santo.

Além de transformadas em animações, as questões também deram origem ao livro Que cegonha o quê!. Em dois volumes, o trabalho reúne perguntas feitas por crianças e adolescentes sobre a origem da vida, o desenvolvimento do corpo, as diferenças entre as pessoas e o modo como elas se relacionam afetiva e sexualmente. A obra vem sendo adotada como livro didático por prefeituras do interior de Minas, como a de Lagoa Dourada, no Campo das Vertentes.

O secretário de Educação do município, Afonso Maia, defende que a educação sexual deve ser abordada nas escolas de maneira qualificada, acompanhada de material apropriado e com linguagem adequada: "A sociedade estimula a sexualização cada vez mais cedo de nossas crianças e adolescentes, talvez as maiores vítimas da falta de uma educação sexual qualificada. Por isso, a escola não pode se furtar a esse papel. Ao adotar esse livro, nosso objetivo é dispor de um material adequado, com os profissionais capacitados para abordar o tema com segurança, sem sensacionalismo e sem moralismo", explica.

O livro também foi aprovado pelo diretor Ronaldo das Mercês, da Escola Municipal Maria Marcília de Resende, do Povoado Arame, em Lagoa Dourada. "O livro é muito bom, pois aborda questões que, por vezes, gera problemas na escola. Não tem como silenciar a respeito da sexualidade. Com o livro, trabalhamos de forma científica e estabelecemos elos entre crianças, adolescentes, familia e escola", pontua o diretor.

Uma demonstração do livro Que cegonha o quê! está disponível aqui.