Boletim

Nº 1991 - Ano 43 - 17.09.2017

Riqueza em risco

Patrimônio em movimento

Instituições e pesquisadores latino-americanos unem-se para divulgar conhecimentos sobre cultura gráfica na região

Tipos preservados no Museu Tipografia Pão de Santo Antônio, em Diamantina
Tipos preservados no Museu Tipografia Pão de Santo Antônio, em Diamantina Daniel Mansur

Pesquisadores da UFMG e de outras universidades trabalham para consolidar a recém-criada Rede Latino-americana de Cultura Gráfica, cujo objetivo é ampliar a circulação da produção relacionada ao patrimônio gráfico dos países da região. “Há um descompasso entre o ritmo do trabalho e a sua divulgação”, afirma Ana Utsch, que coordena a rede ao lado de Marina Garone, da Universidad Nacional Autónoma de México. O grupo reúne representantes de outros oito países: Colômbia, Chile, Argentina, Uruguai, Cuba, Paraguai, Peru e Equador.

A rede já encaminha iniciativas como o seminário Rastros ­lectores: seminario interdisciplinario sobre el libro en América ­Latina,  que será realizado em abril de 2018, em Santiago, Chile. O evento é promovido em parceria com o Archivo Central Andrés Bello, da Universidad de Chile, e com o Observatorio del Libro y la Lectura.

Com apoio do Centro de Estudos Latino-americanos e do Centro de Estudos Africanos, ambos da UFMG, também foi feita proposta à Editora UFMG para a criação da coleção Patrimônio vivo, destinada a promover a circulação de estudos desenvolvidos no âmbito do patrimônio gráfico e das culturas afro-indígenas no interior do espaço latino-americano. Pelo menos duas obras estão prontas para publicação: Encontros em torno de livros (e tipos) e outra sobre o vocabulário banto falado no Brasil.

Tipógrafo Geraldo Moraes em ação
Grupo valoriza os gestuais relacionados ao ofícioDaniel Mansur

A criação da Rede Latino-americana de Cultura Gráfica dá continuidade a uma série de ações realizadas por professores e pesquisadores da UFMG no âmbito dos estudos editoriais e da preservação do patrimônio gráfico, com ênfase na implantação do bacharelado pleno em edição na Faculdade de Letras, prevista para 2018, e no projeto Museu Vivo Memória Gráfica, inicialmente vinculado ao Centro Cultural UFMG, que criou espaço dedicado ao desenvolvimento de práticas e tradições relativas à cultura gráfica, como tipografia, caligrafia, gravura, edição, ilustração, design e encadernação. A Universidade também participou do projeto que resultou na implantação, em Diamantina, do Museu Tipografia Pão de Santo Antônio, que preserva equipamentos e técnicas relacionadas a periódicos que circularam por quase 100 anos.

“Tanto no Centro Cultural como em Diamantina, trabalhamos com o conceito de museu vivo, em que a ideia é manter o patrimônio gráfico e tipográfico funcionando, trabalhar com o gestual do ofício, o manuseio de tipos e impressoras. Valorizamos muito também os depoimentos colhidos de tipógrafos”, explica a professora Sônia Queiroz.

Na Colômbia

O campo dos estudos editoriais e da preservação do patrimônio gráfico foi um dos núcleos de interesse de missão à Colômbia, realizada em agosto, em que Sônia Queiroz e Ana Utsch fizeram contatos com diversas instituições e pesquisadores, com os quais trataram de pesquisas conjuntas e intercâmbios, entre outros temas.

Entre outras universidades, elas estiveram na Universidad Del Cauca e no Instituto Caro y Cuervo, que abriga a Imprenta Patriótica, oficina de tipografia que ainda produz regularmente para o mercado, com máquinas e técnicas antigas. Elas visitaram também a Biblioteca Nacional da Colômbia, onde conheceram acervos ainda pouco estudados na América Latina. “Entrar em contato com as coleções especiais da Biblioteca nos mostrou como conhecemos pouco os nossos acervos e como as fontes ainda são pouco partilhadas. Há um grande mapeamento a ser feito, no que se refere à teoria, à prática e à constituição de uma bibliografia latino-americana da cultura gráfica”, diz Ana Utsch.

Também integrou a missão da UFMG o professor Romulo Monte Alto, da Fale, diretor do Centro de Estudos Latino-americanos (Cela), que fez contatos na área de culturas afro-indígenas, suas línguas e literaturas. A viagem foi organizada pelo Cela e pelo Centro de Estudos Africanos, ambos vinculados à Diretoria de Relações Internacionais da UFMG.

Itamar Rigueira Jr.